SOLIDARIEDADE Norte-Sul à procura da vida

SOLIDARIEDADE
Norte-Sul à procura da vida


Apesar dos movimentos de solidariedade, quase todos com origem na religião ou na capacidade anímica do homem dirigida ao espiritual, e que desenvolveram a sociedade enriquecendo-a, esta encontra-se mais do que nunca numa dupla divisão injusta e exploratória: o Norte rico e o Sul a morrer de fome. E mal vai o nosso mundo quando os homens tentam colocar como seu suporte o materialismo, o dinheiro, a ganância, o prazer, e o poder... esquecendo que o caminho verdadeiro da felicidade passa pela cruz, pelo sacrifício, pelo respeito pela dignidade da pessoa e da família, pela equitativa distribuição dos bens materiais, que são de todos.

Como dizia o P. João Caniço, em artigo de Luanda, "o homem africano, mesmo que desejando para si e perseguindo quanto possível o progresso e o bem-estar que ele vê e aprecia noutros povos, privilegia muito mais ser respeitado e estimado por parte de quem não é africano. Sem estes dois ingredientes, não lhe interessam os progressos nem qualquer espécie de bem-estar que lhe possam proporcionar. É orgulhoso (no bom sentido) da sua personalidade, da sua organização familiar e da cultura tradicional que recebeu dos antepassados e sente como obrigação de fidelidade transmitir aos vindouros".
E continua: "A nossa alma europeia, organizada segundo princípios e cânones muito fixos e concretos, sente-se a 'cada passo desfasada, inútil e ineficaz, perante outros critérios de intervenção e de actuação, perante novas sensações e vivências do tempo e perante novas concepções de utilidade do espaço. A tentativa de fazer vestir a nossa camisa, na cultura, na arte, na religião, no relacionamento social, na perspectiva filosófica, na formação grupal ou em qualquer outra actividade, vai deparar sempre com um corpo de outra estrutura, onde não encaixa aquela camisa utilitarista, carregada de stress, de volupia de lucro, de família reduzida ao mínimo, de relacionamento social egoísta e sempre à defesa, de religião ritualista e formalista, de rostos sérios e sempre preocupados com o trabalho como fonte de riqueza... ".

Em contextos diferentes, na Europa ou na África, respeitando as culturas, teremos de construir um mundo mais justo e progredir sempre no bem-estar. Degradadas as culturas, pode ser mais difícil construir esse futuro harmonioso e belo que todos desejamos. Uma cultura europeia, ocidental, sem cristianismo é como um corpo sem alma. A mensagem cristã deu sentido à civilização europeia, ao modo de ser europeu. Deu sentido à vida e a imensos projectos. Hoje essa cultura está em franca decadência porque está perdendo a sua alma. A maior parte dos europeus vive a cultura do efémero, do transitório, acha insignificante a eternidade (se nela acredita), riscou da vida a verdade e tudo o que incomoda. Para muita gente o sabor da vida já se foi. E quando faltar verdadeiramente o dinheiro suficiente para viver, sentir-nos-emos num ambiente de perfeitos palhaços.

É altura de apelar aos católicos, aos comprometidos com Jesus Cristo e com a Igreja, para serem a nova humanidade, a luz que não se extingue, o sol que não tem ocaso, a fonte da alegria, a verdadeira liberdade, os vencedores da morte e dos ídolos, o caminho sem erro, o fulgor da eternidade, numa Páscoa libertadora. Cristão comprometido, actua como cidadão consciente na vida social do seu país. Seu voto tem de ser consciente naqueles que garantam a dignidade da pessoa humana, dos homens e das mulheres, com suas palavras e com o exemplo das suas vidas.

Então haverá Páscoa libertadora. Então poderemos sair à rua, sabendo que somos respeitados. Então dormiremos sossegados. Então nossas famílias serão lares em que se vive o amor e a compreensão. Então casar com uma mulher é mesmo para toda a vida (e não como, há momentos, gaguejou uma locutora na TV, numa entrevista com dois namorados, deixando o se...). Francamente, há muita gente que não é feliz e até tem raiva de ver os outros felizes. A caminhar assim, creio que os nossos amigos da África, do terceiro mundo, estarão bem mais perto de encontrar pão, do que nós da Europa estamos de encontrar a alma da nossa cultura.
Para quem quiser, Páscoa libertadora, em vida nova crescente e consciente.



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