VATICANO Jovens jesuítas: «O Papa Francisco faz cada pessoa sentir-se como a mais importante do mundo» – Vasco Teixeira
VATICANO
Jovens jesuítas: «O Papa Francisco faz cada pessoa sentir-se
como a mais importante do mundo» – Vasco Teixeira
Ago 3, 2018 - 16:54 Ecclesia
Jovem português está em Roma a
participar no encontro internacional de jesuítas em formação
Foto: Vatican Media. O jovem português Vasco Teixeira, à esquerda do Papa Francisco |
O português
Vasco Teixeira está em Roma a estudar Filosofia, num percurso integrado na
preparação para o sacerdócio dentro da Companhia de Jesus, e teve este ano a
oportunidade de participar no encontro internacional de jesuítas em formação.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o jovem de 25 anos,
natural da Maia, na Diocese do Porto, revelou como tem decorrido esta
iniciativa, com destaque para o encontro com o Papa Francisco, também ele
ligado aos jesuítas, e abordou o seu percurso dentro da congregação.
“Eu fiz o noviciado há dois anos, na Comunidade de Cernache
(Coimbra), e depois fui um ano para Braga estudar Filosofia. Depois interrompi
e vim para Roma onde vou ficar mais um, o curso é de três anos”, explica Vasco
Teixeira.
Antes disso, a ligação com os jesuítas cresceu a partir do
contacto com o Centro de Reflexão e Encontro Universitário – Inácio de Loyola
(CREU), no Porto.
Depois de concluir o noviciado, tinha dois caminhos para
continuar o seu percurso dentro da Companhia de Jesus, ou ser padre ou ser
irmão religioso, e escolheu “a via para o sacerdócio”.
E como é que um jovem perspetiva hoje o papel da Igreja
Católica, e concretamente dos jesuítas, no meio da sociedade?
Aqui, Vasco Teixeira salienta uma das linhas que têm
norteado a reflexão deste encontro internacional de formação, que tem como tema
‘Os jovens, a vocação e a comunicação’.
A importância de “comunicar, de propor Cristo, a salvação,
de forma mais explicita, mais veloz, mais do que com grandes catequeses, com a
palavra certa na hora certa”.
Indo ao encontro do “ritmo” de uma sociedade também ela cada
vez mais do “imediato”, embora também cada vez mais sedenta de “fontes de verdade
concretas”.
Ter a noção de que “Cristo não pode ser proposto como algo
para o futuro, tem que ser para o presente, para o agora”, e que “a Igreja
precisa de dar um salto de qualidade na comunicação, de assumir que as pessoas
não estão à espera dela para ouvir”.
Foto: Jesuítas em Portugal. Vasco Teixeira (de costas) quando fez os seus primeiros votos na Companhia de Jesus na Igreja Paroquial de Cernache |
“Este novo ritmo em que vivemos não é algo necessariamente
negativo, tem alguma coisa para nos ensinar”, sustenta o jovem português.
O encontro internacional de jesuítas em formação, que se vai
prolongar até 18 de agosto, acontece todos os anos numa cidade europeia
diferente.
“Normalmente vem quem está nesta fase, de formação em
Filosofia, e vem só uma vez. Este ano o Padre Provincial pediu-me para vir”,
explica Vasco Teixeira, que está presente neste evento com “grande alegria”.
“Somos 24 jesuítas de diversas partes da Europa, e apesar
das diferenças há uma grande unidade, uma maneira de ver as coisas, uma
postura, muito coesa”, salienta.
Sobre o encontro que os participantes com o Papa, o jovem
destaca o passado de Francisco para sublinhar a postura que ele manteve, de “um
jesuíta entre os jesuítas”, sempre com grande “proximidade”.
Um episódio que mostra isso mesmo, essa familiaridade, foi o
modo como “no dia de Santo Inácio de Loyola, o Papa foi à Cúria Geral almoçar,
sem avisar”.
“Ele gosta de manter a ligação àqueles que foram e são seus
irmãos”, frisa Vasco Teixeira.
Sobre a sua experiência pessoal, adianta que “foi a primeira
vez que esteve tão próximo do Papa”.
Fiquei na cadeira que estava mais próxima, estava entusiasmado,
mas foi tudo muito sereno. Já tinha estado algumas vezes em missas aqui em
Roma, também em Fátima quando o Papa foi a Fátima, mas nunca me tinha
apercebido da maneira de estar dele nestes encontros públicos. O Papa parece um
contemplativo, concentra-se muito nos olhares, nas expressões, enquanto está a
cumprimentar, demora-se muito a apertar a mão, faz cada pessoa sentir-se como a
mais importante do mundo.
Outra particularidade de Francisco, para o jovem formando
jesuíta, é o facto de conseguir manter a vitalidade que o carateriza, apesar da
idade e dos muitos afazeres.
“Vê-se que está cansado mas mantém o sentido de humor, a abertura
para ir fazendo piadas, que também lhe é típico”, acrescenta.
Durante a audiência com o Papa, um assunto que esteve muito
em destaque foi o papel da Igreja Católica no apoio aos jovens, muitos deles
hoje a passarem por dificuldades, como o desemprego ou a precariedade laboral.
Problemas que levam muitas vezes os mais novos ao desespero,
a caírem em situações de consumo de droga, de álcool, ou mesmo ao suicídio.
Fatores que, segundo referiu Francisco, devem desafiar os
responsáveis políticos, económicos, mas também a Igreja Católica, a estar ao
lado dos jovens, a contrariar uma economia, ou mais uma “finança”, que “não tem
a pessoa no centro”, e por isso “mata”.
Foto: Vatican Media |
Que depois abordou esta questão com base na reflexão deixada
por Francisco.
De acordo com este jovem a caminho do sacerdócio, ir ao
encontro destes desafios, para a Igreja Católica, para os seus padres e
consagrados, “significa sobretudo estar presente”, apostar no “contacto real
com as pessoas”, e “desenvolver um coração generoso, que se deixa tocar pelo
sofrimento das pessoas”.
“Se mexe comigo a forma como as pessoas sofrem, vou fazer
todos os possíveis, fazer tudo para ter um coração que não se deixa embrutecer.
E depois a dimensão profética, ser voz de Cristo no mundo”, salienta o jovem
português, que depois deixa uma opinião curiosa.
Não sei o que é mais difícil, se é a Igreja desenvolver esse
papel, de ser voz junto dos líderes pelas injustiças do mundo, ou assumir hoje
uma certa irrelevância e a partir dessa consciência, de que muitas vezes é
irrelevante para o mundo, ter uma presença muito mais autêntica, mais próxima
das pessoas. O assumir isso espiritualmente, a Igreja como Corpo assumir isso,
pode também trazer muitos frutos, ter muita força.
Depois de um período mais direcionado para a formação em
sala, com várias conferências, o encontro internacional de jesuítas em formação
vai prosseguir com exercícios espirituais, com um retiro espiritual de oito
dias em Assis.
JCP
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