JM O sexo dos padres, o silêncio do Papa e o apoio ao Papa
11 Setembro, 2018
D.R. |
O sexo dos padres
O sexo dos padres foi
tratado por alguns jornalistas com certa leviandade e com o tom ‘secular’ e
anti-católico que reinam sobretudo no mundo ocidental, envenenado como está por
‘valores’ liberais, ‘sem ética’ e ‘individualismo feroz’. Alguns padres
pretenderam seguir um caminho errado – no intuito de defender a Igreja – lembrando
o trabalho muitas vezes doloroso em favor da promoção de milhões de “crianças”
nas Missões do terceiro mundo. Mas o certo é que a Igreja é santa e o abuso
sexual de menores, a pedofilia, mesmo que houvesse um único caso entre os 400
mil padres, o comportamento da Igreja devia ser o mesmo: «tolerância zero». Todos
os católicos devem lutar contra este crime ‘hediondo’ e ‘gravíssimo’. Mas
embora todas as denúncias, relatórios e notícias destes casos seja um vergonha
na Igreja, têm de ser uma ‘chaga a ser curada’. Nisso vemos um Papa Francisco
humilde, sofredor, perante esta avalanche que está caindo sobre a Igreja.
Sente-se ao lado das ‘vítimas’. E permitam-me dizer que não é com
‘facilitismos’ que o ‘ dente’ será arrancado. Será com a fidelidade a Jesus de
Nazaré e aos compromissos livremente assumidos. Juan Uriarte, autor do livro
‘el celibato’ e bispo, diz que a tendência para a pedofilia se regista em
alguns clérigos e em muitos outros seres humanos com origem num grande défice
no desenvolvimento sexual e afetivo do sujeito. E afirma: “A frequência desta
prática, patológica e destruidora, no âmbito familiar, profissional, educativo
e lúdico, não é quantitativamente menor que no âmbito celibatário”.
O silêncio do Papa Francisco
No voo de regresso da
Irlanda, não comentou a carta do Arcebispo Carlo Viganó em que o acusava de
conhecer o comportamento pedófilo do cardeal norte-americano McCarrick. O papa
remeteu os jornalistas para a sua “maturidade profissional” para, com ela,
tirarem as conclusões da leitura do documento. Como referiu o Padre Calado em
artigo no JN: “a credibilidade das acusações desmoronou-se” e o “silêncio do
Papa acabou por estimular o bom jornalismo”. O ataque de Viganó é mais um que
surge a enfrentar o Papa Francisco. Muitos bispos, arcebispos e cardeais se
pronunciaram, saíram em defesa do Pontífice, aprovando o difícil trabalho de
reformas que vem implementando. Mas na Igreja há também aqueles que toleram as
reformas, mas se vão calando porque as ‘abominam’. Não querem comprometer-se.
O Papa Francisco reagiu com
uma carta reafirmando a necessidade de “tolerância zero” e a responsabilização
de quem cometeu ou ocultou tais crimes. Os abusos sexuais são “um crime que
gera profundas feridas nas vítimas, nas suas famílias e em toda a comunidade,
crentes e não-crentes”, admite.
O pontífice defende que as
comunidades católicas devem unir esforços para “erradicar essa cultura da
morte”. O texto fala de “vergonha e arrependimento” perante acontecimentos que
exigem uma resposta “global e comunitária”, que rejeite qualquer “omissão” e
promova a “solidariedade” perante quem sofre.
O Papa assume os erros
cometidos pela Igreja Católica, no passado, e diz que é preciso “pedir perdão e
procurar reparar o dano causado”. Perante grandes dificuldades, mesmo que sejam
de fariseus como os que se atiraram a Jesus em Nazaré, na sua terra e o
expulsaram “como cães raivosos”, da cidade… Jesus passou pelo meio deles… O Papa
Francisco responde com o pedido de “perdão”, com grande “vergonha e dor”… e
remete-se ao “Silêncio e à Oração”. Para quem quer confrontos é seguramente a
melhor resposta.
O apoio ao Papa Francisco
Os membros da Comissão
Pontifícia para a Proteção de Menores revelam que se sentem “apoiados” pelo
apelo do Papa Francisco “à liderança” da Igreja para “implementar tolerância
zero e maneiras de responsabilizar todos aqueles que perpetram ou encobrem
esses crimes”. Olhando para o futuro, é preciso gerar uma cultura capaz de
evitar essas situações.
Defensor de Francisco, o
cardeal António Marto diz que os católicos ultraconservadores estão a
aproveitar a “catástrofe” que são os abusos sexuais na Igreja para “atacar
violentamente” o Papa. Em entrevista ao Observador, disse que os crimes de
pedofilia praticados por padres católicos, divulgados nos últimos anos,
deixaram os membros da Igreja Católica “profundamente chocados” e suscitaram um
“sentimento de grande humilhação”. Garante que o Papa Francisco está a
trabalhar no sentido de reformar a Igreja também neste campo. O
cardeal de Fátima acredita que Francisco vai sair “reforçado” de toda esta
polémica, “quando tudo se esclarecer”.
Os bispos portugueses
escreveram ao Papa a condenar o “drama do abuso de menores por parte de membros
responsáveis da Igreja”. Criticam as “tentativas de pôr em causa a
credibilidade” do Papa Francisco e manifestam “fraternal proximidade e o total
apoio” ao líder da Igreja Católica neste momento, sublinhando que estão em
“plena comunhão”.
Os
bispos de todo o mundo estão a reagir à polémica e aos ataques ao Papa. Uns falam em “desilusão”, outros em “puro ódio”.
Num outro artigo
apresentaremos a reacção dos católicos da Ásia quer bispos, quer leigos.
[atualizado às 17:35 horas]
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