IRÃO PERDÃO: é amor sublimado

O caso acaba por não ser muito raro nos países islâmicos: olho por olho, dente por dente (lei de talião) Bahramí, iraniana de 32 anos, não aceitou uma proposta de casamento com Mohavedí. Este atirou-lhe ácido à cara, e ela fica com o rosto desfigurado e perdeu a visão dos dois olhos. Um tribunal decidiu então aplicar a lei de talião, vigente no Irão, e que Mohavedí perdesse também a visão . No passado dia 7 de Agosto, sete anos depois, estava tudo preparado, e a tv iraniana dispunha-se para dar conta do horror. Mohavedí esperava de joelhos que Bahramí deitasse nos olhos dele as gotas de ácido que o deixariam igualmente cego. Mas Bahramí perdoou-lhe.

O perdão é o amor sublimado. Mesmo nas piores circunstâncias, ainda é possível a Humanidade erguer-se às alturas da generosidade. "O irreparável não pode remediar-se com mais destruição. É o que ficará do gesto desta mulher a quem destroçaram com ácido o rosto (e a vida A Pedro Jesus disse: “perdoa até setenta vezes sete, isto é, sempre”. O Deus de Jesus é o Deus do perdão, da bondade, da misericórdia. Mas, no fundo, raros são os cristãos que acreditam nesse Deus. Preferem o Deus que mete medo e se vinga. Quando se trata de perdão mesmo, é preciso reconhecer que estamos perante um milagre. Porque o perdão transcende a justiça e o jurídico. É dom e graça. É incondicional: depende do poder criador do amor, confrontado com a malvadez. Só Deus pode perdoar. Como escreveu o filósofo agnóstico Jacques Derrrida: “ perdoar o imperdoável aponta para algo que está para lá da imanência, "qualquer coisa de trans-humano". Aí começa o domínio da religião. Gostei do apontamento e do raciocínio claro." (Com a art. in BN O milagre do perdão, 24.09.2011