MÉXICO Bento XVI em defesa da liberdade religiosa

Bento XVI iniciou no dia 23 03.12 a sua primeira visita ao México com apelos em favor do “direito fundamental à liberdade religiosa”, pedindo que este seja respeitado “no seu genuíno significado e na sua plena integridade”.
O Papa destacou que os católicos querem promover “uma convivência respeitadora e pacífica, assente na incomparável dignidade de toda a pessoa humana, criada por Deus, e que nenhum poder tem o direito de esquecer ou desprezar”, passagem sublinhada por uma salva de palmas dos presentes.
No aeroporto internacional de Silao, Estado de Guanajuato, centro do país, o discurso papal destacou o simbolismo da região onde vão decorrer todos os momentos da visita, que acolhe “o majestoso monumento a Cristo Rei, na colina de Cubilete”, testemunhando “o enraizamento da fé católica entre os mexicanos”. Esta área está intimamente ligada à ‘Guerra Cristera’ (1926-1929), levantamento popular contra as disposições anticlericais da Constituição Mexicana de 1917 e do presidente Plutarco Elías Calles.
No seu primeiro discurso, o Papa deixou uma palavra particular para “quem mais necessita, particularmente pelos que sofrem por causa de antigas e novas rivalidades, ressentimentos e formas de violência”, lembrando ainda os mexicanos que “vivem fora da sua pátria nativa, mas que nunca a esquecem e desejam vê-la crescer na concórdia e num verdadeiro desenvolvimento integral”. Bento XVI disse que com esta visita quer “cumprimentar todos os mexicanos e abraçar as nações e povos latino-americanos, muitos dos quais comemoraram o bicentenário da sua independência.
“Venho como peregrino da fé, da esperança e da caridade. Desejo confirmar e consolidar na fé todos os crentes em Cristo e encorajá-los a revitalizá-la através da escuta da Palavra de Deus, dos sacramentos e da coerência de vida”, referiu.
Centenas de pessoas, incluindo muitos bispos e o presidente mexicano Felipe Calderón, receberam Bento XVI no aeroporto, de onde o Papa partiu num percurso de 34 quilómetros feito no papamóvel até ao Colégio Miraflores, na cidade de León, a sua residência nas três noites desta visita.
Calderón destacou a importância da visita papal a um “povo que sofreu muito”, tanto por causa de desastres naturais como pela violência dos “delinquentes”. “Bento, irmão, já és mexicano” era o grito que vinha dos presentes no aeroporto, em que se ouviu o som dos tradicionais grupos de mariachi, à medida que o Papa ia cumprimentando crianças e várias das pessoas presentes. O trajecto até ao Colégio Miraflores, edifício da Congregação das Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, foi acompanhado por dezenas de milhares de pessoas. À chegada ao local, o Papa cumprimentou pessoalmente três crianças doentes, deste instituto, e um jovem, vítima de acidente de tráfico.
Esta foi a primeira visita de Bento XVI ao México, onde João Paulo II esteve por cinco vezes, e a segunda viagem do actual Papa à América Latina, após a viagem ao Brasil em 2007 – os dois países com mais católicos em todo o mundo.

Apelos pela liberdade religiosa
O secretário de Estado do Vaticano apelou à defesa da liberdade religiosa no México, durante um jantar com os bispos locais, com a presença do presidente do México, Felipe Calderón. “É desejável que, no México, este direito fundamental se consolide cada vez mais, na certeza de que este direito vai muito para além da mera liberdade de culto”, disse o cardeal Tarcisio Bertone, num encontro que decorreu após a celebração de vésperas, presidida por Bento XVI na Catedral de León.
O número dois do Vaticano defendeu “a liberdade do homem para procurar a verdade e professar as próprias convicções religiosas, tanto em privado como em público; este direito deve ser reconhecido e garantido pelo ordenamento jurídico”. “Na realidade, engloba todas as dimensões da pessoa humana, chamada a dar razão da sua própria fé e a anunciá-la e partilhá-la com outros – sem a impor – como o dom mais precioso recebido de Deus”, acrescentou. O cardeal Bertone aludiu ao 20.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre o México e a Santa Sé, ressaltando que “tanto a Igreja como o Estado têm em comum – cada qual segundo a sua missão específica – a tarefa de salvaguardar e tutelar os direitos fundamentais da pessoa”.
“A Igreja não cessa de exortar a todos para que a actividade política seja um serviço prestimoso e totalmente dedicado aos cidadãos e não se transforme numa luta de poder ou numa imposição de sistemas ideológicos rígidos”, acrescentou.
Bento XVI e o presidente Calderón tiveram um encontro em privado, durante o qual, segundo a Santa Sé, o Papa abordou “brevemente” o tema da liberdade religiosa, num momento em que se discute uma reforma constitucional no México.
Na sexta-feira, à chegada ao país, Bento XVI lançou apelos em favor do “direito fundamental à liberdade religiosa”, pedindo que este seja respeitado “no seu genuíno significado e na sua plena integridade”.

Bento XVI despede-se pedindo paz
Bento XVI despediu-se do México, pedindo que a Igreja Católica e a sociedade civil se mobilizem a fim de garantir “uma vida digna, justa e pacífica para todos”. “Desejo renovar, vigorosa e claramente, um apelo ao povo mexicano para que permaneça fiel a si mesmo e não se deixe amedrontar pelas forças do mal”, disse, no discurso que proferiu no aeroporto de Guanajuato, meia hora antes do início do trajecto para Santiago de Cuba.
O Papa elogiou a “fé em Jesus Cristo” e a “devoção carinhosa à sua Mãe”, no México, antes de assinalar os “sinais de preocupação” que continuam a causar “tantas dilacerações”.
Nesse contexto, Bento XVI alertou contra uma “mentalidade utilitarista, que acaba sempre por sacrificar os mais frágeis e indefesos”. “A Igreja exorta todos os seus fiéis a serem também bons cidadãos, conscientes da responsabilidade que têm de se preocupar com o bem dos outros”, referiu ainda.
O Papa foi saudado pelo presidente mexicano, Felipe Calderón, que falou em “três dias de intensa emoção”. “México nunca vai esquecer sua santidade, o México vai trazê-lo sempre na alma”, sustentou. Falando numa “breve, mas intensa visita”, Bento XVI, prestes a completar 85 anos, disse levar “muitas experiências inesquecíveis”. “Queridos amigos mexicanos, digo-vos ‘adeus’ no verdadeiro sentido da bela expressão tradicional hispânica, ‘Ficai com Deus’. Sim, adeus; até sempre no amor de Cristo, em que todos nos encontraremos”, declarou, antes de entrar a bordo do B777 da Alitalia, perante cerca de 3 mil pessoas.
O Papa passou pelas cidades mexicanas de Guanajuato, León e Silao, na região central, uma das mais católicas do país e ligada em particular ao monumento a Cristo Rei. Como é habitual, Bento XVI enviou um telegrama ao presidente Calderón, após deixar o México, agradecendo pela hospitalidade recebida nessa “nobre nação”.
A mensagem papal desafia os cristãos a fomentarem “os valores morais e cívicos”, para que se “consolide a convivência social pelos caminhos da paz, da concórdia e da solidariedade”.

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