Deus amou primeiro por ARMANDO SOARES


Deus foi o primeiro a amar-nos, e agora o amor é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro. Estamos num mundo em que ao nome de Deus se associa às vezes a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, diz o Papa Bento XVI (na sua 1ª encíclica, publicada a 25 de Janeiro de 2006). E continua: A palavra “amor” foi sempre das mais usadas mas também foi e é das mais abusadas. Ao amor entre homem e mulher, que de certa forma se impõe ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. Na história e na actualidade, na visão do eros “entre o amor e o Divino, o amor promete infinito, eternidade - uma realidade maior e totalmente diferente do dia-a-dia da nossa existência. A meta não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. As purificações e amadurecimento do amor não são rejeição do eros, mas a cura em ordem à sua verdadeira grandeza”, afirma o Papa. O eros degradado a puro sexo torna-se mercadoria, uma coisa que se pode comprar e vender; o próprio homem se torna mercadoria. E Bento XVI adianta: “Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, que ele procure o carácter definitivo, no sentido da exclusividade - “apenas esta única pessoa” - e no sentido do “ser para sempre”. O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal.” “Na realidade - diz o Papa - eros e agape - amor ascendente, possessivo ou ambicioso e amor descendente ou oblativo - nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral. Embora o eros seja inicialmente sobretudo a fascinação pela grande promessa de felicidade, à medida que se aproxima do outro, procurará sempre mais a sua felicidade, preocupar-se-á cada vez mais dele, e desejará “existir para” o outro. Assim se insere nele o momento da agape: ou então decai e perde a sua própria natureza. O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano.” No sacramento da Eucaristia, também chamado agape, há um carácter social, fazer a comunhão. A união com Cristo projecta-me para a união com todos os cristãos. O amor a Deus e ao próximo estão verdadeiramente juntos: “Cristo atrai todos para Si”. Por isso, “se na minha vida falta o contacto com Deus, posso ver no outro sempre e apenas o outro, e não consigo reconhecer nele a imagem divina. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama. Os Santos hauriram a sua capacidade de amar o próximo, no seu encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu realismo e profundidade precisamente no serviço deles aos outros. Amor a Deus e ao próximo são inseparáveis. Ambos vivem do amor com que Deus nos amou primeiro.

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