Mossul é a segunda maior
cidade do Iraque e último grande reduto urbano que ainda era controlado pelos
extremistas islâmicos. A reconquista da cidade é considerada a mais importante
vitória das forças iraquianas desde que o grupo extremista sunita se apoderou,
em 2014, de vastos territórios no país e na vizinha Síria. No entanto, a guerra
contra o EI continua em outras cidades.
O
premiê iraquiano, Haider Al-Abadi, cumprimenta comandantes e forças que lutaram
para libertar a cidade de Mossul (Foto: Reprodução/ Twitter/ Haider Al-Abadi)
Abadi foi a Mossul se
encontrar com os soldadados, e cumprimentá-los pela vitória. Abadi "chega
a cidade libertada de Mossul e felicita os combatentes heroicos e o povo
iraquiano por esta importante vitória", indica o comunicado.
A batalha deixou a
cidade em ruínas e matou milhares de civis.
Primeiro-ministro
iraquiano anuncia vitória sobre o Estado Islâmico
Mesmo antes da
declaração formal de vitória, dezenas de soldados iraquianos comemoraram entre
os destroços às margens do Rio Tigre neste sábado (8), alguns dançando ao som
da música que tocava em um caminhão e atirando metralhadoras para o ar, afirmou
um correspondente da Reuters.
O clima estava menos
festivo, no entanto, entre os aproximadamente um milhão de habitantes de Mossul
deslocados por meses de combates, muitos dos quais estão vivendo em
acampamentos no lado de fora da cidade, com pouca proteção do calor do verão.
"Se não houver
reconstruções, e as pessoas não voltarem para suas casas e recuperarem seus
pertences, qual o significado da libertação?", disse à Reuters Mohammed
Haji Ahmed, 43 anos, um vendedor de roupas, no acampamento de Hassan Sham, ao
leste de Mossul.
Polícia Federal do Iraque comemora retomada de Mossul neste
domingo (9) (Foto: REUTERS/Alaa Al-Marjani
Relatos de sobreviventes
Em
Mossul, os mais fracos pagam a sua sobrevivência a preços elevados. Os civis
encurralados na cidade viveram ao longo dos últimos meses em condições
"terríveis", sofrendo com a falta de alimentos e água, os bombardeios
e intensos combates, além de serem usados como "escudos humanos"
pelos extremistas.
Centenas de mulheres e
crianças libertadas do EI estão inconsoláveis. Nos arredores da Cidade Antiga,
onde o ressoar dos tiros das armas automáticas e explosões de morteiros
continuava, quinze mulheres e cerca de cinquenta crianças esperavam em fila em
uma calçada na sombra para se proteger de um sol escaldante.
Criança
de três anos de idade é encontrada sozinha em Mossul, no Iraque (Foto: Fadel
SENNA / AFP)
Os militares acabavam de trazê-las de Maidan, último bairro onde os extremistas
do EI resistiam às forças iraquianas, que acabaram de anunciar sua vitória após
oito meses de combates.
Fátima explodiu em
lágrimas ao contar sobre os quatro meses passados com sua família sem
"quase nenhuma comida ou água" em um porão, monitorado pelo EI,
rezando para não ser bombardeado.
Naquela mesma manhã,
quando a rua parecia ter sido libertada pelo Exército, voltaram a ver o céu e
caminharam para a liberdade. Uma bala atingiu Ahmad, o irmão de Fátima. Ele foi
levado em uma ambulância
Polícia Federal do Iraque comemora retomada de Mossul neste
domingo (9) (Foto: REUTERS/Alaa Al-Marjani)
Outra mulher soluçava,
prostrada, olhando para o céu. Ao deixar a Cidade Antiga de Mossul, Liqaa
deixou para trás o corpo de seu irmão Ibrahim, também atingido por um
franco-atirador jihadista.
Ela começa a cantar o
nome de Ibrahim e procura consolo em sua vizinha, que não pode lhe dar: Fátima,
já cheia de lágrimas.
Algumas mulheres esperam
o retorno de seus maridos, alguns dos quais são controlados pelos militares
encarregados de rastrear os jihadistas que tentam fugir. As outras, já viúvas,
não esperam por mais ninguém.
Na calçada, uma menina
de cerca de 3 anos vagueava perdida. Cabelo castanho desgrenhado, túnica azul-turquesa
e atadura branca no pescoço, ela apertava contra o seu coração uma pequena
garrafa de água meio vazia. "Quem é essa criança?", gritava um
soldado. Ao redor, as mulheres choravam demais para responder.
Soldado iraquiano conforta mulher que fugiu do Estado Islâmico,
em Mossul (Foto: Fadel SENNA / AFP)
Patrimônio destruído.
A
partir de julho de 2014, o EI atacou mausoléus xiitas e santuários, que eram
ricamente decorados. O grupo explodiu a mesquita onde ficava a tumba do profeta
Jonas (Nabi Yunés). Em 19 de junho de 2017, destruiu a emblemática mesquita Al
Nuri, onde Baghdadi tinha sido filmado, e seu minarete inclinado do século X No museu de Mossul, o
mais importante do Iraque depois do de Bagdá, os radicais queimaram livros e
manuscritos antigos, destruíram tesouros pré-islâmicos, como os famosos touros
alados assírios com rosto humano, datados de vários séculos antes do
cristianismo. Antiga rota de comércio
Mossul,
uma tradicional rota comercial entre Turquia, Síria e o resto do Iraque, era
muito conhecida por seus finos tecidos de algodão, as musselinas, seus
monumentos e sítios arqueológicos e também pelos parques.
Mulheres
se abraçam em Mossul, enquanto esperam para voltarem para suas casas após
combate entre forças iraquianas e Estado Islâmico (Foto: Fadel SENNA / AFP)Atravessada pelo rio Tigre e situada a 350 km ao norte de Bagdá, Mossul é a
capital da província de Nínive, rica em petróleo.
A cidade é de maioria
sunita numa região premoninantemente curda, e tradicionalm tinha numerosas
minorias em sua população (curdos, turcomanos, xiitas, cristãos...).
Mas a região se tornou
um terreno de violência diária após a invasão americana ao Iraque, em março de
2003, que provocou a queda do regime do ditador Saddam Hussein.
Os jihadistas do EI
fizeram da cidade um laboratório de sua administração. Ali, decidiram os
programas escolares, horários de funcionamento de lojas, os trajes permitidos.
Foi proibida a venda e o consumo de álcool e tabaco.
Membros da Divisão Especial de Emergência iraquiana descansam na
cidade velha de Mossul neste domingo (9) (Foto: REUTERS/Alaa Al-Marjani)
Guerra contra o EI
Foi
de Mossul que, há quase três anos, o líder do grupo extremista Abu Bakr
al-Baghdadi declarou um "califado", juntando partes do Iraque e da
Síria.
Apesar da vitória
importante, a retomada de Mossul não marcará o fim da guerra contra o EI, que
ainda controla várias zonas no Iraque, incluindo as cidades de Tal Afar (50 km
a oeste de Mossul) e Hawija (cerca de 300 km ao norte de Bagdá) e zonas
desérticas da província de Al-Anbar (oeste), bem como a região de Al-Qaïm, na
fronteira com a Síria.
O grupo extremista ainda controla igualmente territórios no leste e no centro
da Síria, apesar de ter perdido terreno desde 2015, e seu reduto de Raqa
(norte) é cercado pelas forças apoiadas pelos Estados Unidos.
Uma coalizão liderada
pelos Estados Unidos fornece apoio aéreo e terrestre na campanha de oito meses
para recuperar Mossul, de longe a maior cidade tomada pelo Estado Islâmico, em
2014.
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