Felizes os construtores da paz por ARMANDO SOARES
Paz e harmonia |
1.
Bem-aventurados os obreiros da paz
Cada
ano novo traz consigo a expectativa de um mund
o melhor. À distância de 50 anos
do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da
Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com
Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando
alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e
promovendo a paz para todos.
Na
realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização e também por
sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado
e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e
do homem todo.
Causam
apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades
entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e
individualista. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade
internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que
distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a
reconciliação entre os homens.
No
entanto, as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação
natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração
essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena,
feliz e bem sucedida. (n.1)
2. A bem-aventurança evangélica
As
bem-aventuranças não são meras recomendações morais, uma recompensa, ou seja,
uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma
promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da
justiça e do amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a
Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a
jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus,
isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. Jesus Cristo dá-nos
a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.
A
ética da paz é uma ética de comunhão e a bem-aventurança de Jesus diz que a paz
é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe
um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo
enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os
outros e para os outros. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da
ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que
impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural
inscrita por Deus na consciência de cada homem. (n.2)
3. A paz é dom de Deus e obra do homem
A
paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa
inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo
mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato
João XXIII na Encíclica Pacem in terris a paz implica a construção duma
convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.
A
paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Cada homem é criado à
imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo
novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele
operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma
nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a
possibilidade de ter « um coração novo e um spírito novo » (cf. Ez 36, 26).
Por
isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus
Cristo. Ele é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2,
14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é
aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo
presente e na eternidade.
A
partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade –
religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. (n. 3)
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