SER MISSIONÁRIO Dia Mundial das Missões. 22.10.2016 (véspera)
SER MISSIONÁRIO
Dia Mundial das Missões. 22.10.2016
(véspera)
Ser missionário é tão complexo
quanto o amor ou a vida, o tempo ou o espaço. É sentir, bem cá dentro, o
chamamento; é ser do mundo, para o mundo; é ir e anunciar o amor de Deus; é ser
mensageiro da vida, da misericórdia, do amor das entranhas, do que é
incondicional; é estar presente, é ser presença, mas, acima de tudo, é Ser.
Apenas Ser. Assim como a Luz, que não se dá, apenas É. Ser missionário é ter
medo e ir na mesma. É receber enquanto se dá e ao dar-se, amar... o próximo
como a si mesmo.
O Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, que a Igreja está a viver, proporciona uma luz particular também
ao Dia Mundial das Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como
uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material. Com
efeito, neste Dia Mundial das Missões, todos somos convidados a «sair», como
discípulos missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua
criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e
compaixão de Deus à família humana inteira. Em virtude do mandato missionário,
a Igreja tem a peito quantos não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos
sejam salvos e cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela «tem a missão de
anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho» (Bula Misericordiae Vultus, 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra,
até alcançar toda a mulher, homem, idoso, jovem e criança.
Como nos primeiros tempos da
experiência eclesial, há tantos homens e mulheres de todas as idades e
condições que dão testemunho deste amor de misericórdia. Sinal eloquente do
amor materno de Deus é uma considerável e crescente presença feminina no mundo
missionário, ao lado da presença masculina. As mulheres, leigas ou consagradas
– e hoje também numerosas famílias –, realizam a sua vocação missionária nas
mais variadas formas: desde o anúncio direto do Evangelho ao serviço
sociocaritativo. Ao lado da obra evangelizadora e sacramental dos missionários,
aparecem as mulheres e as famílias que entendem, de forma muitas vezes mais
adequada, os problemas das pessoas e sabem enfrentá-los de modo oportuno e por
vezes inédito: cuidando da vida, com uma acrescida atenção centrada mais nas
pessoas do que nas estruturas e fazendo valer todos os recursos humanos e
espirituais para construir harmonia, relacionamento, paz, solidariedade,
diálogo, cooperação e fraternidade, tanto no setor das relações interpessoais
como na área mais ampla da vida social e cultural e, de modo particular, no
cuidado dos pobres.
Cada
povo e cultura tem direito de receber a mensagem de salvação, que é dom de Deus
para todos. E a necessidade dela redobra ao considerarmos quantas injustiças,
guerras, crises humanitárias aguardam, hoje, por uma solução.
Os missionários
sabem, por experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar
alegria e reconciliação, justiça e paz. O mandato do Evangelho – «Ide, pois,
fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20) – não terminou, antes pelo
contrário impele-nos a todos, nos cenários presentes e desafios atuais, a
sentir-nos chamados para uma renovada «saída»
missionária, como indiquei na
Exortação Apostólica Evangelii gaudium: «cada cristão e cada
comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos
somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a
coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (n.
20).
Precisamente
neste Ano Jubilar, celebra o seu nonagésimo aniversário o Dia Mundial das
Missões, promovido pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé e aprovado pelo
Papa Pio XI em 1926. Por isso, considero oportuno recordar as sábias indicações
dos meus Predecessores, estabelecendo que fossem destinadas a esta Opera todas
as ofertas que cada diocese, paróquia, comunidade religiosa, associação e
movimento, de todo o mundo, pudessem recolher para socorrer as comunidades
cristãs necessitadas de ajuda e revigorar o anúncio do Evangelho até aos
últimos confins da terra. Também nos nossos dias, não nos subtraiamos a este
gesto de comunhão eclesial missionário; não restrinjamos o coração às nossas
preocupações particulares, mas alarguemo-lo aos horizontes da humanidade
inteira.
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