GIORGIO LA PIRA Compromisso de vida no progresso
No início do século XX, precisamente em Janeiro de 1904, nascia na Sicília, Itália, um homem que se
manifestou de profunda espiritualidade, se formou em Direito, escreveu livros sobre a questão social e a
política orientada pela fé cristã. Ele definia a política como um âmbito privilegiado para testemunhar a fé.
Foi deputado, ministro do governo italiano, incansável lutador, no período da guerra fria e de ódios
ideológicos, percorrendo na mira de ajudar a construir a paz. Trata-se do grande, mesmo GRANDE,
Giorgio La Pira. Pois ele estava convencido de que era necessário e urgente construir pontes de todo o
tipo para unir cidades e nações, para unir os povos. E dizia: “A história do mundo é direccionada para a
unidade como o rio que corre para o mar”. Tornou-se um missionário da paz!
La Pira era movido pela convicção da necessidade de viver o Evangelho sempre, em qualquer tarefa em
que estejamos envolvidos e com todas as pessoas que encontrarmos. Prefeito de Florença, celibatário
por opção, católico praticante de missa diária, dizia que para amar as pessoas é necessário fazer política,
mas de maneira ética e cristã. Costumava repetir: “Política, para os cristãos leigos, não é somente uma
opção, mas um compromisso de vida com a história da humanidade.” Preocupava-se e lutava para
resolver os problemas do seu povo.
Pregava os valores fundamentais da paz, a serenidade do coração, o amor universal, a paixão pela
justiça, o empenho no diálogo e a tensão contínua para a unidade”. É sem dúvida de homens honestos,
sérios, de muitos cristãos leigos como La Pira que a sociedade e a Igreja de hoje precisam. Ele mostrou
que a Igreja pode e deve relacionar fé e política, sem confundir uma pela outra; estar na sacristia e na
praça pública; anunciar e denunciar. Este homem semeou esperança. Acreditamos que a missão no
mundo da política é, sem dúvida, uma das mais difíceis. E prova disso é o fraco testemunho que estão
oferecendo muitos dos baptizados que estão engajados nos diversos sectores da política.
Lembrei-me de La Pira, porque li há pouco tempo a vida deste grande político, e porque neste tempo que
prepara as eleições, cada afirmação que mete medo e nojo a uma pessoa digna que apresenta um
homem afunilado e truncado, sem Absoluto, em que se fala de uma vida sem destino, eivada de
hedonismo puro, e ainda incentivado pelos políticos, eivada de consumismo, de falta de respeito pelo
homem integral e íntegro e por todos os homens, pelo consumismo exagerado, pela corrupção dos
milhões que a dos pequenos nem conta porque vão buscar-lhes logo os magros euros que recebe e, pela
degradação cada vez maior. O mundo torna-se insuportável para viver. Ou a riqueza ou a miséria. O
diabo que escolha e distribua.
Li e reli a encíclica “Caridade na Verdade” de Bento XVI. Cita as grandes Encíclicas sobre a questão
social e o Concílio Vaticano II. Realça que o desenvolvimento só pode realizar-se quando se projecta no
Absoluto, “que a caridade é a mestra da doutrina social da Igreja”. E continua: “Estou ciente dos desvios e
esvaziamento de sentido que a caridade não cessa de enfrentar, com o risco daí resultante, de ser mal
entendida, de ser excluída da vida ética e, em todo o caso, de impedir a sua correcta valorização. Nos
âmbitos social, jurídico, cultural, político e económico, ou seja, nos contextos mais expostos a tal perigo,
não é difícil ouvir declarar a sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais” (n.2)
A caridade na verdade é um princípio à volta do qual gira toda a doutrina social da Igreja. O amor na
verdade é um grande desafio para a Igreja num mundo em crescente e incisiva globalização. O risco do
nosso tempo é que, à real interdependência dos seres humanos e dos povos, não corresponda a
interacção ética das consciências e das inteligências, da qual possa resultar um desenvolvimento
verdadeiramente humano" (n.9).
E conclui o n.9: "A Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não prtende "de modo algum imiscuirse
na política dos Estados"; mas tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e
contingência, a favor de uma sociedade à medida do ser humano, da sua dignidade, da sua vocação.
Sem verdade, cai-se numa visãso empirista e céptica da vida, incapaz de se elevar acima da acção,
porque não está interessada em identificar os valores - às vezes nem seque os significados - pelos quais
julgá-la e orientá-la. A fidelidade à pessoa humana exige a fidelidade àverdade, a única que é garantia de
liberdade (Jo 8, 32). e da possibilidade dum desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja a
procura, anuncia incansavelmente e reconhece em todo o lado onde a mesma se apresente. Para a
Igreja, esta missão ao serviço da verdade é irrenunciável "
Paulo VI comunicou-nos duas grandes verdades: "que a Igreja inteira, em todo o seu ser e agir, quando
anuncia, celebra e actua na caridade, e a promover o desenvolvimento integral da pessoa humana" e que
"o autêntico desenvolvimento do ser diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em todas as suas
dimensões". Sem a perspectiva duma vida eterna, o progresso humano neste mundo fica privado de
respiro. A criação de instituições humanas através da história nunca resolveram o problema do
desenvolvimento.
Causa-nos dó ouvirmos falar em progresso e apelidar de "conservadores", quando as pessoas professam
um humanismo sem valores, e que poria os cabelos de pé aos que pensaram a Comunidade Europeia,
pois tal nunca lhes passou pela cabeça. Eram inteligentes. Temos de ser sérios e inteligentes. O voto é
uma coisa séria. A democracia é exigente. O mundo está precisando urgentemente de pessoas honestas e de corpo inteiro. E depressa, pois pode tornar-se tarde.
Comentários
Enviar um comentário