3.TU NÃO FAZES NADA

03

É verdade.  Se Frei Afúrdio era todo salamaleques  mesmo um tanto desajeitado para com as pessoas de fora do mosteiro sobretudo da classe nova de boa perninha e sorriso nos lábios geralmente optimistas na vida, como dizia, sem as beatas ouvirem porque seria como profanar a sagrada boca que recolhera Nosso Senhor, na comunhão matutina, era um outro homem perante os membros da sua comunidade. Considerava-os tolos, palermas, não serviam para nada, não sabiam trabalhar, não faziam nada, andavam sempre a fazer de doentes. Que fossem como ele, de rija têmpera, embora tivesse dito a seu respeito, que era demasiado tolo: “Meu querido filho, tão tolo me saíste”. Orgulhava-se até dessas palavras que acertaram na boca duma que sempre conhece bem seus filhos até à medula. Trombudo e orgulhoso e com a consciência do seu pelouro que lhe fora entregue pela autoridade e com o qual se pavoneava para oprimir quem pretendesse passar-lhe. Não permitiria. Tinha sempre razão, mesmo em questões teológicas. Não era atreito a leitura. Preferia pintar, fazer muros, regar as flores. Era conotado com os marxistas. Ler, estudar, escrever, era tempo perdido nem era trabalho de gente. Trabalho de gente só com o martelo, a foice, a cegonha ou o tractor.  O resto era para empandeirar o tempo e sem musculatura, até nem sequer se via. Ele não via nem apreciava o trabalho de uma revista ou de um jornal, ou um livro porque eram feitos por gente sem qualidade, que nmão sabia fazer uma parede. Simplesmente dizia: “não fazem nada, pois não fazem nada” e não trazem dinheirinho para casa, para fazer obras. Não para os frades comerem pois aí havia regras: fora com as dietas, pois ele podia comer de tudo, fora com os bons pratos pois éramos pobres. Uma mesa frugal. Um bom vinho porque ele gostava. Duas sardinhas ou uns 25 gramas de peixe eram o suficiente para quem só vive até … à morte, que viria para todos. Dizia frequentemente, numa falta de respeito inconsciente: “quando alguém morrer, enterrra-se. Onde está o problema? Sim, o problema é que os frades que iam comer dietas marcadas pelos médicos a casa dos amigos lá se iam amparando e sobrevivendo, mas não à custa do mosteiro. Só faltava esta: estarem aqui a comer como burros, quando há tanta fome no mundo. Eram palavras de solidariedade, aliás bonitas para umas páginas de catecismo à maneira São Pio X.
Palavras: 400

Comentários

  1. É uma bela tirada e que acerta com a maneira de pensar de alguns conventuais. Deus chamou-ou-os à vida religiosa para fazer com que os outros se tornassem santos. São um verdadeiro estorvo, aceite pelos homens mas, de certo, não querido por Deus.Vai contra a Sua bondade.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares