Vivemos sob o síndrome do medo
Não exagero se disser que neste início do século XXI todos vivemos” sob o síndrome do medo”, considerando o medo como “a perturbação angustiosa do ânimo por riscos ou males que existem realmente ou se produzem na imaginação ou se aumentam na imaginação” (segundo o Dicionário de Língua Espanhola)
São marcos angustiantes: o 11 de Setembro 2001 em New York, o 11 de Março e 11 J em Madrid e em Londres, e a proliferação infernal de ataques terroristas a partir da guerra norte-americana no Iraque. Multiplicam-se por todo o mundo descalabros terríveis na política, na sociedade, na economia no pandemónio da guerra, em particular no Médio Oriente e Norte de África, Paquistão e Índia. E ainda as terríveis catástrofes naturais em tsunamis, tornados, terramotos. O crime organizado e o narcotráfico converteram-se numa epidemia mais mortífera que a sida e pior que qualquer crise económica, porque causam 100 mil mortos por ano; “a insegurança é uma praga que mata mais gente que a sida ou qualquer outra epidemia conhecida e destroça mais lares que qualquer crise económica”, segundo dados da OEA (Organização de Estados Americanos). Na Guatemala, em 2008 assassinaram 140 motoristas de autocarros urbanos e extraurbanos. E até pegaram em moda roupa com segurança “blindada) sobretudo naAmérica Latina. Para andar na estrada não serve um carro qualquer mas é preciso ter um carro seguro, “uma arma” a valer para se sentir seguro e poder enfrentar a burridade ou condição perigosa por causa dos outros motoristas. A recessão económica mundial tornou-se uma enorme dor de cabeça para todos os Governos. O mundo parece doido. E a Natureza parece estar-se vingando das atropelias movidas pelo homem As próprias medidas de segurança acabam por despertar novos medos.
E cito Teófilo Cabestrero, no seu livro entre el sufrimiento y la alegria: “As novas gerações, segundo dados psico-sociais, perdem a capacidade para sofrer e viver com dignidade. E as causas estão nas gerações de adultos que impuseram um sistema de vida egoísta, cómoda e consumista, apoiada e mantida por interesses económicos, ideológicos e políticos, e pela inconsciência de tanta gente ‘consumista’ que são vítimas complacentes.” E o pior é que “em todos os países sobem os índices de violência familiar e social, assim como o stress, as depressões e os suicídios”. (idem)
Com razão diz o teólogo alemão Jurgen Moltman, que “um dos sonhos da sociedade moderna é ser felizes sem dor e iludir todo o sofrimento. Mas como isso é inalcançável, procura-se acalmar as dores, evitam-se os sofrimentos e afasta-se a paixão de viver com responsabilidade. Mas a vida sem esta paixão e sem disposição para o sofrimento torna-se irresponsável, superficial e sem sentido”. (citado por T.C, idem.)
O conhecido psiquiatra espanhol Enrique Rojas escreveu que “há uma grande falta de maturidade nas pessoas e que esta é a causa principal da actual crise familiar e social: “Estamos numa sociedade infantil, adolescente, com modelos ridículos e uma imaturidade afectiva ou sentimental muito extensa, julgando que a felicidade está no bem estar e no prazer. Vejo as pessoas muito débeis, muito vulneráveis, muito pouco maduras”. Ele mesmo escreveu em 1992 um livro intitulado “El hombre light: una vida sin valores, que em quatro anos teve onze edições. Fala do Ocidente como uma sociedade doente na qual “o homem light, é um sujeioto que leva como bandeira uma tetralogia nihilista: hedonismo-consumismo-permissividade-relatividade. Estamos perante um homem sem substância, entregue ao dinheiro, ao poder, ao êxito e ao gozo ilimitado e sem restrições. O homem light carece de referências, tem um grande vazio moral e não é feliz ainda que tenha materialmente quase tudo. Isto é grave.”
Bento XVI disse: “apesar de tantas formas de progresso, o ser humano é o mesmo de sempre: uma liberdade tensa entre o bem e o mal, entre a vida e a morte”. Alguns antropólogos afirmam que na nossa era tão adiantada científica e tecnologicamente, os humanos nos deixamos levar pelos instintos mais primitivos e ferozes de nossos primeiros antepassados, sem que tenhamos agora as razões com eles se justificavam. E a neurologista italiana Rita Levi-Montalcini, Prémio Nobel de Medicina, afirma: “vivemos dominados por impulsos de baixo nível, como há cinquenta mil anos.” E Cabestrero termina este capítulo do seu livro dizendo: “E um dos impulsos de baixo nível é, precisamente, o excesso de medos que gera uma grande variedade de fobias patológicas. Vivemos sob o síndrome do medo.”
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