Cristianismo na Ásia entre a perseguição e a esperança
A evangelização não é uma opção para a Igreja mas o mais importante dever e a própria razão da sua existência. Paulo VI disse na Evangelii Nuntiandi: “Evangelizar é a vocação da própria Igreja, a sua essência. Ela existe para evangelizar, isto é, para pregar e ensinar”. (EN 14). Não somos mais “Igreja se não anunciamos o Evangelho. E ninguém mais que os asiáticos podem responder ao problema da evangelização segundo as necessidades próprias do continente asiático”. (EA 2 - Ecclesia in Ásia).
Num mundo sem Deus, em que se perdeu o sentido da vida e onde muitos conhecem o vazio e o sofrimento, é nosso dever de cristãos partilhar a plenitude da vida que nos dá o conhecimento de Jesus e a sua mensagem de amor. Todos, homens e mulheres, de qualquer idade, somos chamados a esta nobre missão.
A questão que se põe à Igreja na Ásia é saber como partilhar com os nossos irmãos e irmãs asiáticos a força da Boa Nova. A comunidade cristã na Ásia é largamente minoritária, o que exige um empenhamento missionário vivo. É o “pequeno rebanho” (Lc 12,33), é “o grão de mostarda” (Mt. 13,3), é “o tesouro escondido no campo” (Mt. 13,44).
A Ásia, na qual nasceu Jesus, acredita mais na experiência que nas doutrinas. É o continente da contemplação, do silêncio e do apelo à santidade - “o sâdhu”. O melhor meio de evangelizar é estarmos na via da santidade. É a melhor maneira de levar Jesus a este continente. É preciso reforçar a formação missionária dos católicos da Ásia.
“Que a Ásia seja missionária para o seu próprio povo e para o mundo” é a
orientação dada por João Paulo II. Um evangelizador que dá a sua vida, ou vive numa via totalmente dedicada ao serviço dos outros é o mais poderoso testemunho do Evangelho tal é a eloquência do testemunho.
Muitos missionários nos mostram pelo seu serviço que a evangelização é um serviço dos pobres. “Fui enviado a proclamar a Boa Nova aos pobres” (Lc.4,18). Com efeito, os missionários trabalham no meio de tribos indígenas da Ásia, com os pobres e desfavorecidos, com os órfãos, com os idosos, com os defi cientes, com os doentes e contaminados pela Sida rejeitados pela sociedade. Mas também no ensino, na assistência, na formação.
Neste vasto continente, a Igreja será por muito tempo o “pequeno rebanho” (Lc.12,32), Mas longe de ser uma minoria fechada e tímida “tem uma fé vigorosa, cheia de esperança e de vitalidade motivada num grande amor. Ela avançará com paciência, sabedoria, coragem, confianca e realismo, sem pretensão ambiciosa, sem temor excessivo nem prudência exagerada. Pretende ser um “sinal profético”, que transforme as culturas e os corações a partir do interior.
O Concílio Vaticano II, assim como os Papas mais recentes, apontaram como elementos fundamentais da evangelização: a presença e o testemunho, o compromisso com o desenvolvimento social, a promoção humana integral, a construção da paz, defender a integridade da criação, o diálogo inter-religioso.
A evangelização inclui toda a área de preocupações sociais, desde a construção da paz, dos serviços de educação e saúde, à promoção da vida em família e ao bom governo. (RM 58-60), refere o P. Kroger, missionário nas Filipinas.
Na linha do testemunho, na Ásia e em todo o mundo, está Teresa de Calcutá, beatificada em 19 de Outubro de 2003, mundialmente conhecida pelo seu cuidado amoroso e altruísta para com os mais pobres dos pobres. É um «ícone» da presença, da vida ao serviço dos irmãos.
A Igreja, na Ásia, realiza a sua missão em culturas pluralísticas e diversas, participa no diálogo inter-religioso, cooperando com os seguidores das maiores tradições religiosas. A proclamação explícita do Evangelho inclui a pregação, a catequese, o ensino e a transmissão dos conteúdos da fé. Isto significa «contar a história de Jesus». (RM 44-51)
O Papa Paulo VI disse: «É impossível compreender o conceito de evangelização a menos que se tente manter em vista todos os seus elementos essenciais» (EN 17). São eles: a justiça social, o diálogo inter-religioso, a construção da paz, a promoção da educação e saúde, o testemunho de vida. (cf. AG 2).
A evangelização católica envolve toda a Igreja, todos os estados de vida, todas as actividades apostólicas e formas de testemunho. O Espírito Santo é sempre o agente principal da evangelização». Missão significa necessariamente tentar encontrar quais os desígnios de Deus e o que Ele está a fazer.
A evangelização, no fundo e no cerne, é um assunto de fé (cf. RM 11). Para um cristão, viver é evangelizar! A Ásia constitui um grande repto para a Igreja Universal. É uma Igreja que vive entre o diálogo e a resistência. Ao longo dos séculos, o Cristianismo não tem sido capaz de tocar de maneira profunda a alma asiática. Não obstante o facto de ter tido origem no Médio Oriente, a Igreja não ganhou grandes raízes na Ásia. Não é de surpreender, por isso, que os cristãos sejam uma pequena minoria no continente. As Filipinas e Timor-Leste são os únicos dois países onde o Cristianismo se implantou, ainda que mais transplantado do que inculturado.
Na maior parte dos outros países, a Igreja não tem a vida fácil: cristãos e
comunidades frequente ou sistematicamente experimentam hostilidade, discriminação e mesmo perseguição por causa da fé. Especialmente perpetrada pelo ateísmo de Estado (ex-países comunistas) e pelos fundamentalismos de carácter Islâmico e Hindu (a começar pelo Médio Oriente).
Por exemplo, a aplicação da lei anti-conversão em alguns Estados Indianos vai contra o direito à liberdade religiosa defendido pela Constituição. E, no Paquistão, as leis discriminatórias, como a da blasfémia segundo a qual alguém acusado, frequentemente sem a clareza requerida de comentários sobre o Profeta e o Corão pode ser enforcado ou condenado à prisão perpétua violam os direitos humanos e as mais elementares normas democráticas.
Ataques de todo tipo fazem a Igreja sofrer um silencioso martírio. O Evangelho tem muito a dar e a receber destas culturas e povos milenares. Mas, o tamanho reduzido de tantas comunidades cristãs e a intolerância religiosa a que estão sujeitas fazem delas comunidades de resistência, mais do que de missão. Apesar da resistência e da intolerância disso, o número de Católicos tem vindo a crescer na Ásia, especialmente em paίses como a China, o Vietname e a Coreia, e dá sinais de vitalidade.
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