Sempre nas mãos de Deus
Podemos analisar três preces de Jesus na Cruz.
Pronuncia a primeira prece imediatamente depois de ter sido pregado na cruz, enquanto os soldados dividem as suas vestes. Lucas diz: “ Quando chegaram ao lugar chamado Calvário crucificaram-no, a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia:”Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem!” A primeira oração que Jesus dirige ao Pai é de intercessão: pede o perdão para os seus algozes. Com isto, Jesus cumpre literalmente o que disse no Sermão da Montanha, quando disse: “Digo-vos, porém, a vós que me escutais: amai os vossos inimigos, fazei o bem a quanto vos odeiam” (Lc 6, 27), e também tinha prometido aos que sabem perdoar: “A vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo”. Jesus encontra um grande imitador em Estêvão, o proto-mártir que, ao “adormecer” bradou com voz forte: “Senhor, não lhes atribuas este pecado”. (Act 7, 60).
A segunda palavra de Jesus na cruz, citada por S. Lucas é de esperança, é a resposta ao pedido de um dos dois homens crucificados com Ele. O bom ladrão arrepende-se, compreende que está na presença do Filho de Deus e pede-lhe: “Jesus, lembra-te de mim quanto estiveres no teu reino”. A resposta de Jesus não se faz esperar: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.
E agora meditemos as últimas palavras de Jesus moribundo. Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde. O céu eclipsou-se e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: “ Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” Dito isto, expirou” A morte de Jesus caracteriza-se explicitamente como elemento cósmico e litúrgico. Marca o início de um novo culto.
A prece de Jesus neste momento de sofrimento – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” – é um brado forte de confiança extrema e total em Deus. Na Cruz, Jesus vive plenamente no amor esta relação filial com Deus, que anima a sua oração. Jesus entrega-se ao Pai num gesto de abandono total
A oração de Jesus diante da morte é dramática, como o é para cada homem, mas ao mesmo tempo está imbuída da calma profunda que nasce da confiança no Pai e da vontade de se entregar totalmente a Ele. Ao mesmo tempo Jesus, que na hora extrema da morte se confia totalmente nas mãos de Deus Pai, comunica-nos a certeza de que, por mais duras que sejam as provas, difíceis os problemas, pesado o sofrimento, nunca estaremos fora das mãos de Deus, das mãos que nos criaram, que nos sustêm e que nos acompanham no caminho da existência, porque guiadas por um amor infinito e fiel.
___________________________________________________________________________________________
De reflexão de Bento XVI durante a audiência geral de quarta-feira na sala Paulo VI, no dia 15 de Fevereiro 2012
Comentários
Enviar um comentário