Alegrai-vos que o Senhor vem por ARMANDO SOARES*
Um sentimento de alegria perpassa os
textos litúrgicos em todo o tempo do Advento e de maneira especial no terceiro
domingo. Com efeito é Deus que vem salvar-nos. E a salvação é o que a
humanidade espera. Em termos de verdadeira alegria e felicidade. Em todo o
tempo: antes de Jesus, no tempo de Jesus e depois dele até ao fim dos tempos, à
escatologia final.
Deus nunca abandonou
o seu povo. Este é que o abandonou, desprezou, insultou e rejeitou. Em muitas
ocasiões o povo reconheceu que se afastou de Deus, como no tempo do exílio da
Babilónia. Também no nosso tempo Deus passou a ser insultado, posto de lado,
rejeitado como incómodo. A doutrina e a mensagem que Jesus nos legou não
interessa ao homem consumista, materialista, hedonismo, idólatra de hoje.
Através da Encarnação Deus torna-se de novo presente na história humana e na
existência de cada um dos seres que criou, especialmente no homem.O profeta Isaías narra o regresso do povo de Deus do exílio da Babilónia com termos expressivos de alegria: “Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria… Dizei aos corações perturbados: ‘Tende coragem, não temais’: Aí está o vosso Deus. Ele próprio vem salvar-vos. Abrir-se-ão os olhos dos cegos…o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão-de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos”.
Esta terra é
terra de exílio. Vamos caminhando, vamos tropeçando e atraiçoando Deus e os
homens. Nem sequer duvidamos disso. A verdade de Jesus de Nazaré é um apelo
para voltarmos ao bom caminho. Descobrir Jesus de Nazaré é descobrir a Boa Nova
que nos dá a alegria verdadeira. Estamos num mundo triste, vivendo sem destino
certo, acabrunhado em si mesmo, enfrentando horas muito amargas de crise.
Faminto num mundo com tanta fartura. Em Portugal há muita gente a passar fome.
Serão uns 25% ou mais! Muitos são os pobres envergonhados e as famílias
envergonhadas. Estas aumentam com o encerramento de pequenas e médias empresas
e até de grandes empresas. Muitos andam passeando na estrada em invejáveis
bólides ou navegando em belos iates de recreio. E os operários lançados na
miséria. Há que lutar pelo bem do nosso povo. O emprego é um direito de todo o
homem. E os bens devem ser distribuídos por todos. Organizem-se os países com
justiça e então acabarão os gemidos, a dor e a vergonha a que os pobres e os
novos pobres são submetidos.
A vinda festiva
do Senhor será esperada com paciência. Mas quando Jesus veio já muitos corações
estavam preparados para o receber. João Baptista, o Precursor de Jesus,
baptizou na penitência os que vinham ter com ele ao Jordão. E Jesus manda dizer
a João pelos seus discípulos: “os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são
curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos
pobres”. Jesus Cristo já estava no meio deles. Era preciso conhecê-lO e ir após
Ele.
Queremos que o
nosso encontro com Deus seja um encontro alegre? São Paulo disse aos
Tessalonicenses: “Vivei sempre alegres, não apagueis o Espírito… afastai-vos de
todo o mal”. Mas este mundo está envenenado nas leis, em atitudes de revolta,
em por de lado os princípios de respeito pelo outro, de acolhimento a Deus, que
quer estar no meio de nós e na sociedade em que vivemos. Sem Deus o mundo será
um caos. E estamos vendo e sentindo na pele isso mesmo. Como então viver na
alegria, quem procura antros de poder, de escravidão, de luxúria (é
modernice?!), de corrupção, de vingança, de raiva, de desprezo pelo outro, de
luxo quando o meu irmão pobre não tem nada?! Um mundo bonito, que se esvai! De
certeza, e com dor o digo, o Senhor virá mas continuarão a não O conhecer! Hoje
como ontem!
* missionário da SMBN e jornalista
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