Fazer falar as pedras


Há já alguns anos que na França, na Inglaterra, na Irlanda e nos países do centro da Europa, alguns crentes, admirando a beleza e a grandiosidade das catedrais e da arte religiosa de mosteiros e conventos, fizeram esta pergunta: «Que fazemos com estas pedras»?

E eles próprios deram a resposta: «Vamos fazê-las falar»!

Hoje encontramos várias associações e grupos de voluntários reunidos em federação sob o nome de “Ars et Fides”, que procuram salvar o património religioso-cultural dos visitantes como testemunhas vivas de uma fé cristã que falou fazendo arte e que fala ainda hoje a partir da arte de ontem.


O turismo movimenta hoje à volta de 900 milhões de pessoas abrindo-lhes horizontes novos. No geral contentam-se com a quantidade de terras ou países visitados ainda que à pressa. Correm muito, fazem muitos quilómetros de comboio, de barco, de avião, de autocarro ou de automóvel, visitam muitos monumentos, tiram muitas fotografias para mostrarem aos amigos e confirmarem que estiveram em tal ou tal parte. E as férias são passadas, quantas vezes, a correr e num ambiente tão agitado ou ainda mais, quanto à vida quotidiana.


Tem-se insistido na Igreja em novas formas de evangelização. Podemos falar também de novos lugares de evangelização. É este um tema sugerido por Bento XVI com programas e orientações de valor. Até porque hoje o turismo segue uma vertente religiosa. Deus tem sempre um lugar novo e inesperado para surpreender os homens em qualquer momento. O nosso Deus é um Deus surpresa. Temos nós de ser profetas para ver e mostrar a arte como caminho de felicidade em descobri-lO. E se as catedrais estão vazias nos momentos de grandes celebrações litúrgicas, elas enchem-se de pessoas nas horas de visita turística. Não será ocasião para fazer falar essas pedras da dimensão e do dinamismo da fé dos que nos precederam na mesma e questionar os visitantes no sentido de tomarem consciência da sua fé?
A arte permite falar da fé e é a fé dos nossos antepassados que se encontra traduzida em forma de arte com a sua beleza, a sua originalidade, os seus símbolos, as suas formas universais ou peculiares de cada cultura com as suas características locais.

Quem não se sente atraído para o Alto ao admirar uma catedral de Chartres, de Colónia, de Sevilha, de Léon ou de Burgos ou a catedral de Brasília, a igreja da Polana, em Moçambique, ou uma bela igreja da Camacha (Madeira), igrejas modernas e funcionais? Igrejas que nos atiram para as alturas?
Como disse alguém: «As catedrais podem fazer falar a Europa. A Europa pode fazer falar as catedrais».
O silêncio e obscuridade duma igreja românica, a iluminação sóbria, a música-ambiental gregoriana, a palavra carinhosa de um amigo que faz falar as pedras, podem ser ocasião para um acontecimento de paz, de tranquilidade, ou de resposta a interrogações adormecidas.

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