JOÃO BALTAR DA SILVA (PADRE)
O Padre Baltar é herdeiro do Padre Monteiro que o levou de Burgães para o Seminário das Missões. Aquela voz alta dá a impressãode pessoa zangada, Mas aqueles que conseguem vencer essa primeira impressão encontram um coração afectivo. Diríamos que funciona a preto e branco, não é diplomata, encara as pessoas de frente para as ajudar a crescer com carinho ou para corrigir com ousadia os seus erros. Isso lhe vale muitos amigos e alguns desafectos.
Missionário de corpo e coração inteiros. Por onde passou fez estudos a sério sobre a cultura ads pessoas que encontrou: Guiné, Pemba, Maputo, Chibuto e Malema. Tudo metodicamente organizado na estante que hoje nos lega. Nos tempos em que a Igreja estava mais preocupada com a inculturação (Pemba e Chibuto), os conhecimentos culturais permitiram-lhe trabalhar com padres diocesanos em estudos sobre adaptações litúrgicas. Em todo o lugar, as suas informações sobre as comunidades eram precioso auxílio para o pároco.
Como capelão militar na Guiné, não viveu só para soldados. Ajudou as missões por onde passava, fez amigos entre a população local. Chegou a ser acusado de conviver com inimigos. Mas essa convivência local salvou vidas de companheiros.
Em Pemba foi o Pároco que conseguiu unir Macondes e Macuas na mesma paróquia. Foi o homem dos jovens, foi o superior regional do tempo dos julgamentos e expulsões de missionários. No meio da perseguição, viajava de noite para socorrer os aflitos, ajudar na sua defesa e encaminhamento.
É o homem dedicado às vocações. Na sua doença, em Nampula, foi visitado por muitas Irmãs de várias congregações, que ele ajudou no discernimento vocacional quando jovens. A Irmã Anastácia, das Vitorianas, nascida no Chibuto, estagiária de medicina, descobriu-o no hospital e foi uma preciosa auxiliar, tanto dentro do hospital como em nossa casa. Era a intermediária entre os médicos, o doente e os nossos que dele deviam cuidar. A Irmã Joaquina, das Filhas do Coração Imaculado de Maria, vivitava-o todos os dias, por amizade pessoal mas também porque ele encaminhou muitas jovens para a congregação.
Quando foi nomeado para a animação missionária em Portugal, dedicou-se todo aos jovens (encontrei muitos casais novos da região de Valadares, Cucujães e Cernache que diziam ter sido formados pelo Padre João).
Essa experiência valeu-lhe quando foi nomeado Reitor do Seminário da Matola e Director do Ano de Formação. Os que passaram por ele e resistiram são seus admiradores.
Por amor ao povo moçambicano e, talvez por não ver mais justificativas para ir a Portugal, em 1994 pediu a nacionalidade moçambicana e foi-lhe concedida. A família sofreu (sua mãe estava viva) e ele próprio não beneficiou de cuidados de saúde que aí seriam mais fáceis. Nunca mais voltou à sua terra nem recebeu a merecida reforma.
Teve saúde frágil. Não confiava na medicina oficial. Mas tinha imensos cuidados com temperos e comidas que não conhecia. Só ia para o hospital quando obrigado por outros, portanto quando já estava muito mal. Foi isso que aconteceu no dia 22 de Setembro de 2011, quando teve um AVC, o médico veio ao seu quarto e despachou-o rapidamente para Nampula. Agradecido, esperou o dia em que o Dr. Isidoro viria jantar com ele, em agradecimento pelso serviços prestados. Conversou com ele, agradeceu e inclinou a cabeça.
A equipa missionária de Malema fica imensamente grata aos membros da SMBN que mais o acompanharam nos últimos dois meses e meio.
1º. A equipa de Nampula: Padre Tavares Martins, professor do Baltar em Cernache, e Ir. Luís que foi incansável nos cuidados que lhe dedicou: comida, remédios, muitas noites mal dormidas para o socorrer.
2º. O nosso estagiário e seminarista Constantino Hatende que estava sozinho na Casa Paroquial quando veio o AVC. Acompanhou-o na ambulância e visitava-o diariamente no Hospital Central para lhe dar comida na boca. Na nossa casa, ainda sem Baltar se segurar de pé, fazia os serviços de enfermagem e cuidados pessoais. Foi a parte mais dura do seu estágio e talvez a mais válida.
3º. Padre Luís Figueiredo, ao chegar das férias, ficou em Nampula, para continuar o trabalho do Constantino que teve de ir para Maputo e Angola.
4º. Hipólito, de Nampula, cuidou dele e Abdul, de Malema, aluno do 1º ano do Seminário da Matola carinhosamente cuidou do Baltar nos últimos dias e noites em Malema. Nalguns dias teve a ajuda de Benedito, seminarista dos combonianos.
O Padre Baltar queria vir para Malema e nós o trouxemos. Foram 10 dias em que ninguém o viu fraquejar. Nós sabíamos que essa força era aparente. Mas resistiu até ao fim. Passeou em casa, comeu connosco à mesa todos os dias, recebeu visitas, chamou a casa as pessoas que queria ajudar. No último dia enfraqueceu de repente e começou a falar palavras de despedida. Continuará a ser missionário desde Malema até à Guiné de que falava muitas vezes.
A população de Malema acorreu nessa mesma noite e participou em massa nas cerimónias cristãs e tradicionais. Merecia esse carinho filial.
Deus o chamou, na sua misericórdia o acolherá. (testemunho de Padre Jerónimo Nunes in Boa Nova, Janeiro 2012)
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