O mundo precisa de paz e de pão por ARMANDO SOARES
O mundo precisa de paz exactamente como precisa de pão.
O desenvolvimento dos meios de comunicação social tornou o nosso planeta
mais pequeno. Eu, pessoalmente, tenho essa experiência quando, em pouco tempo,
passava por Londres, Paris, Tóquio, Joanesburgo, Roma, Bombaim, Lisboa, Pequim, Estocolmo, Madrid,
Maputo, Telavive, México, Toronto, Oslo,
Budapeste, Cairo, Dakar, Singapura ou Ushuaia, a cidade mais meridional na
América do Sul. Pareciam-me pequenas aldeias num planeta bem pequeno que se percorre,
por assim dizer, em meia dúzia de horas. Deste modo os acontecimentos também se
tornaram próximos de nós. O mundo e as pessoas. As verdadeiras realidades e as
grandes dificuldades dos povos. Na selva africana, no interior da Índia, ou nos
arredores das grandes cidades como Buenos Aires ou as favelas do Rio de
Janeiro, ou no interior da Amazónia. A constatação do grande sofrimento
provocado no mundo pela pobreza e pela miséria, tanto material como espiritual,
convida a uma mobilização para enfrentar, na justiça e na solidariedade, tudo
o que ameaça o homem, a sociedade e o
seu ambiente.
O êxodo rumo às cidades, os conflitos armados, as carestias, as secas ou
inundações, as pandemias de todo o género, a falta de médicos e medicamentos,
as novas formas de escravatura, os efeitos da droga e o tráfico de seres
humanos, afligem as populações e fazem
aumentar dramaticamente a pobreza. A crise económica aumentou a precariedade
familiar e sentimentos de frustração. Aumentou a solidão pela exclusão. Aumentaram
as desigualdades sociais.
E porque o homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem,
importa promover todas as formas capazes de fazer emergir uma nova humanidade
em que haja distribuição equitativa de bens que são de todos. A partilha dos recursos
está na base da verdadeira sociedade e duma vida humana com dignidade.
Há milhões de irmãos nossos que passam fome, que se deitam sem nada
comer como eu mesmo constatei, aquando dei aulas do Ensino Secundário numa
Escola de Moçambique e por informação de vários alunos.
Na desgraça, a compaixão e a escuta abnegada constituem um alívio. O pão
que mata a fome dignifica o que o dá e faz feliz o que o recebe e atenua o seu
sofrimento.
Esta página da “Voz da Missão” é a página da solidariedade missionária
dos nossos leitores, é o mealheiro de amor e da partilha, do dar pão a quem o
não tem, de dar uma igreja a quem só possui uma simples palhota. É um apelo
urgente à generosidade.
Como diz Bento XVI numa das suas encíclicas: “A disponibilidade para
Deus abre à disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como
tarefa solidária e jubilosa” (Caritas in
Veritate, 78).
Com nossa oferta mais generosa, e não apenas de alguns cêntimos,
poderemos edificar uma sociedade onde a sobriedade e a fraternidade vividas
farão conter a miséria e prevalecerão sobre a indiferença e o egoísmo, sobre o
lucro e o desperdício, mas principalmente sobre a exclusão.
Ouçamos bem alto o grito dos oprimidos, dos excluídos, dos desprezados e
abandonados, dos famintos, e partilhemos com eles o dom da fé mas também o pão
da nossa mesa. Sejamos pão para o irmão. Sejamos pão para dar vida. Demos com
alegria.
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