O mundo sem Deus é desumano por ARMANDO SOARES
Podemos assinalar que
um mundo sem Deus é desumano e que a liberdade religiosa é o direito mais
violado em especial contra os cristãos. Assim o desenvolveu o Cardeal Tauran na
intervenção no Encontro de Assis de 24 de Agosto passado, sobre o tema: «Sociedade
Internacional e liberdade de religião».
No século XX morreram
45 milhões de cristãos por causa da fé. Assassinados, discriminados, agredidos
e por vezes vítimas de um terrorismo baseado em motivações “religiosas”. E
ultimamente igrejas e mesquitas são destruídas e isto quando estão lá em
oração.
No entanto, nos
direitos humanos lemos:” a liberdade de estabelecer e manter lugares do culto,
ensinar e fazer reuniões que se refiram a um religião ou credo; a liberdade de
escrever, imprimir e difundir publicações sobre as religiões ou os credos; a
proibição de qualquer constrangimento
contra a pessoa que poderia atentar contra a sua liberdade de ter ou adoptar
uma religião à sua escolha. «A liberdade
de religião – explicou – levanta portanto o problema das religiões na
sociedade. O homem é por natureza,
religioso. Em todas as culturas há vestígios de culto e de instrumentos
rudimentares, além da força da tradição oral. Pensar que a laicidade moderna
possa prescindir da espiritualidade é uma pura aberração. Um mundo sem Deus é
um mundo desumano. O facto religioso faz parte integrante do ser do género
humano. No fundo, todas as religiões ajudam a compreender como os outros homens
reconheceram Deus através da criação».
O facto
judaico-religioso não é um simples culto mas um evento que constitui a
história. Até 1945 os direitos do homem eram enfrentados no âmbito de cada
país. Nada de intromissões de outros estados. Foram as atrocidades da segunda
guerra mundial que levaram a um compromisso pela defesa da dignidade e da
liberdade do homem. Passando a tutela a ser de âmbito internacional. Em 1944
foi criada a OIT e depois a Organização das Nações Unidas de que emana, a 10 de
dezembro de 1948, a Declaração dos Direitos do Homem. A expressão liberdade de
religião” já foi cunhada por Tertuliano no século III.O Cardeal Tauran
sintetiza:
- O direito de ter a
religião ou o credo escolhidos, a não ter nenhum, a mudar de religião ou a
renunciar a ela;
- A proibição de
qualquer discriminação fundada na religião ou no credo;
- A liberdade de
manifestar a própria religião ou credo, individual ou em comunidade, quer em
público quer em privado;
- A liberdade de
exercer um culto, de cumprir os ritos e as práticas, e também de ensinar; a
possibilidade de limitar as manifestações da religião ou do credo, se estes
limites são previstos pela lei e necessários para garantir a ordem pública;
- A proibição de
qualquer recurso ao ódio religioso que constitui uma instigação à
discriminação, à hostilidade ou à violência;
- O direito de educar
os próprios membros e reunir-se livremente.»
- A possibilidade dos
pais educarem a prole segundo as próprias convicções.
Os poderes públicos,
não podem impor nem impedir uma adesão religiosa, nem propagar a destruição do
fenómeno. Devem proclamar a liberdade religiosa e garantir sua prática
efectiva. Poderão limitar a prática da liberdade de religião, caso fossem
lesados os direitos dos outros, ou ameaçadas a saúde e a moral públicas. Está
em jogo a tutela do bem comum. O Estado deve respeitar uma neutralidade: nem
indiferença, nem hostilidade, nem identificação com uma religião, nem
propaganda de uma ideologia anti-religiosa. As religiões são um movimento do
homem para Deus, enquanto que no judaísmo e no cristianismo, é Deus que vem ao
encontro do homem: é uma revelação.
As Igrejas trabalham
em primeiro lugar pela religião, e em relação a isto o Estado pode ser
indiferente. Mas elas trabalham também pela civilização, e isto não pode deixar
de interessar ao Estado. Cidadãos mais conscientes, mais propensos a participar
na vida social e cultural, mais cultos, mais preocupados pela gestão pública,
são sem dúvida nenhuma um recurso. A humanidade deve colaborar com a
instauração duma «ordem político-social e económica que sirva cada vez mais e
melhor o homem, e ajude cada um dos homens e aos grupos a oferecer uma
contribuição considerável e em particular a Igreja católica situa-se na
vanguarda».
Precisamente os
cristãos desempenham um papel na vanguarda, «porque cremos que o homem realiza
a própria humanidade quando recebe de Deus; quando está consciente da sua
dignidade, na qual reconhece em si e nos outros a marca de Deus que nos cria à
sua imagem; que o homem é grande na medida em que faz da sua vida uma resposta
ao amor de Deus e ao serviço dos irmãos».
Somos livres para
libertar muitos dos nossos irmãos e irmãs encadeados por tantos ídolos. Vivemos
num mundo que, certamente, é magnífico mas também cheio de zonas cinzentas; um
mundo no qual o homem explora os segredos do átomo e do espaço, mas muitas
vezes está cego perante o sentido da aventura da sua vida.
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