Um testemunho de fé por RICARDO MARQUES (smbn)

Ricardo Marques


Desde o início do seu pontificado, o Papa Bento XVI tem insistido na necessidade de redescobrir o caminho da fé. Com efeito, somente pela fé conseguiremos descobrir, com maior clarividência, a alegria sempre renovada do encontro pessoal com Jesus Cristo. Tendo Cristo no seu horizonte, cabe à Igreja, em geral, e a cada cristão, em particular, pôr-se a caminho, a fim de conduzir todos os homens aos lugares da vida, ao encontro do Filho de Deus, ao encontro dAquele que dá a vida e vida em plenitude. Todavia, com frequência verificamos que até mesmo os que confessam a sua fé em Cristo dispersam, muitas vezes, a sua atenção, pelos problemas da sociedade actual, relegando para último lugar a própria fé cristã, como se esta fosse um pressuposto adquirido e garantido para a vida inteira. É assim que vemos proliferar o fenómeno religioso, presente entre nós desde o início da humanidade, porém, acompanhado de fenómenos sociais e multiculturais que se têm sucedido a um ritmo absolutamente vertiginoso. Nos dias de hoje, situamo-nos, cada vez mais, diante de uma religiosidade difusa, pela qual, muitas vezes, prevalece a devoção interesseira, relegando para segundo plano, e até mesmo negando ou pondo em causa, algumas verdades fundamentais da mensagem cristã. Junte-se a tudo isto o fraco conhecimento da Sagrada Escritura, para assim se compreender a discrepância avassaladora entre a prática religiosa e a vivência quotidiana.
O evangelho de Mateus convida-nos a ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5:13 – 16), onde quer que nos encontremos. Face ao crescente indiferentismo cada vez mais notório na sociedade, cabe a cada um de nós, como cristãos, cultivar o dom da fé que recebemos do próprio Deus e, na medida do possível, a testemunhar essa mesma fé diante dos Homens, nossos irmãos. Na verdade, julgo que, contrariamente ao que apregoam os grandes entendidos da economia e da política, escravos do sistema capitalista, os problemas, que hoje parecem atingir a nossa sociedade, não são de origem económica ou financeira. Pelo contrário, para o Homem contemporâneo fica a necessidade de se alimentar constantemente da Palavra de Deus, oferecida como sustento dos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo (Jo 6:51), e a necessidade de ir ao encontro de Jesus – tal como sucedera com a samaritana – para ouvir a Sua mensagem e beber na Sua fonte, da qual jorra água viva (Jo 4:14).
A celebração do Ano da Fé constitui-se como um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, o único Salvador do mundo. O derradeiro e supremo acto de amor de Deus foi-nos dado pela morte e ressurreição do Seu Filho Jesus Cristo. É este mesmo amor que nos introduz numa vida nova, que marca toda a existência humana, segundo a novidade radical da ressurreição.
No contexto que determina as circunstâncias actuais em que vivemos, cada cristão é convidado a viver e, sobretudo, a dar razões da sua fé, porém, vivendo a sua vocação com autenticidade, “lutando mil vezes com Deus, por amor, e saindo mil vezes derrotado”. 

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