As bem-aventuranças de um crente afável e crítico

Jose Gomez Caffarena


No dia 5 de Fevereiro morreu o filósofo jesuíta Gomez Caffarena.  O Professor de Filosofia Anselmo Borges esteve com ele e falou com ele. Dedicou-lhe a crónica do DN de 23 de fevereiro de 2013. Homem invulgarmente culto, atencioso e especialista em Kant. A "prova" da existência de Deus encontrava-a no dinamismo e inquietação radicais, constituintes do ser humano. Com H. Bergson, admitia duas fontes da religião e da moral. A primeira está na consciência das nossas deficiências. A outra, a dos grandes místicos, está na intuição ou contacto profundo que tiveram com a suprema Realidade amorosa".
"No seu esforço moral secular, e apesar dos seus fracassos, a Humanidade merece que não seja frustrada a sua esperança: merece que Deus exista." Achei deveras impressionantes as suas chamadas bem-aventuranças que resumo:
"Bem-aventurado aquele que ama e descobriu a dita de partilhar o mundo; o que não se isola na sua pequenez ; o que ama  que ama a vida tal como é e não como tende a representá-la; o humano que é capaz de acolher o outro humano para lá de toda a consideração das vantagens que possa trazer-lhe, que entendeu o perdão sem memória e a ternura sem retorno; o que chegou a conceber o imenso projecto da universalidade reconciliada; aquele que é consciente de que na sua pequenez é puro dom e graça, e sabe, no entanto, sentir-se a partir dela responsável pelo Reino inteiro da justiça, participante de um olhar divinamente maternal para os mais humildes e sofredores, as vítimas da opressão; bem-aventurado)o que não se escandaliza da pequenez humana, e crê que é possível que essa pequenez floresça na grandeza de uma fraternidade sem fronteiras;  o que aceita a dor da luta sem ódio pelo dar à luz da verdade; oque é capaz de ver a possibilidade da paz antecipada, que compreende que a violência é promessa enganosa, quem acha fecundo crer na bondade primeira do coração humano; o que não se escandaliza de a dor e a morte terem o seu tempo que não é possível eliminar definitivamente; o que crê que uma morte prematura de profeta é também eternamente fecunda.
" A dor e a morte não são a última palavra: "uma intuição da Humanidade praticamente universal."


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