CONFERÊNCIA Deus está sempre convocado na minha vida por HUGO ANES
CONFERÊNCIA
Conferência de Fernando Santos, selecionador nacional de Futebol
Deus está sempre convocado na
minha vida por HUGO ANES
O selecionador nacional de
futebol, engenheiro Fernando Santos, disse aos estudantes da Universidade
Católica do Porto, que Deus é um companheiro e também um treinador, que nos
ensina, conduz e prepara para a vida
O percurso de Fé
No passado dia 22 de
fevereiro, os estudantes do campus Foz da Universidade Católica do Porto
aguardavam com entusiasmo a conferência do selecionador nacional de futebol, o
Engenheiro
Fernando Santos. E o treinador, campeão europeu de futebol
correspondeu às expetativas académicas. Falou-lhes da vitória no campeonato
europeu de futebol sim, mas destacou sobretudo a importância que Deus tem na
sua vida. Logo no início da conferência os jovens estudantes perguntaram ao
selecionador nacional: “Deus está sempre convocado?” E a resposta foi
perentória: “Sim, hoje Deus está sempre convocado. Mas, nos meus 62 anos de
vida Deus não esteve sempre convocado”, reconheceu Fernando Santos. E explicou
porquê: “O meu percurso de fé começou na data do seu Batismo, a 16 de janeiro
de 1955. Na minha infância frequentei a catequese e fiz a Primeira Comunhão e o
Crisma. Mas depois afastei-me da Igreja, porque a motivação não era muita e
havia outros interesses como o futebol”. Apesar deste distanciamento em relação
à Igreja e ao recordar o passado, Fernando Santos reconheceu que Deus nunca se
afastou dele. Lembrou por exemplo, uma primeira reaproximação à Igreja com o
Curso de Preparação para o Matrimónio (CPM), que realizou com a esposa e que
ambos gostaram muito. “Mas celebrado o casamento, voltou o distanciamento em
relação à Igreja”, disse. Até ao dia em que foi despedido do clube de futebol
Estoril Praia. Este corte na relação de 20 anos com o clube Cascais foi um
momento duro e marcante na vida do treinador português. E foi também um momento
de viragem na sua vida, e em particular, na sua relação com Deus. Nesse mesmo
período, Fernando Santos tinha-se reaproximado da Igreja para puder acompanhar
a sua filha na preparação para o Crisma. E alguns amigos seus insistiram muito
com ele para que participasse num curso de Cristandade. Com bastante
resistência da sua parte acabou por ceder. E a participação no curso de
aprofundamento da fé mudou a sua vida. Segundo o selecionador nacional de
futebol, durante o curso aprendeu mais sobre Deus, sobre Jesus e sobre o
Espírito Santo do que em toda a sua vida até então. Descobriu que o Deus que
imaginava distante, afinal estava próximo e vivo. Compreendeu também que ser
cristão é acreditar na Ressurreição de Cristo e por conseguinte acreditar que a
vida aqui é uma mera passagem, pois vai continuar. Esta nova perceção da Deus e
da vida motivou-o a querer saber mais e assim começou a participar cada vez na
vida da Igreja. Hoje, o selecionador nacional de futebol não tem dúvidas e
afirma que: “se seguirmos o caminho que Deus nos propõe através da Igreja, se
escutarmos os Seus conselhos e ensinamentos e nos deixarmos guiar e amar por
Ele, a vida ganha mais sentido”.
A morte do pai
Um dos momentos mais difíceis
na vida de Fernando Santos foi a doença e o falecimento do seu pai. E segundo
ele, a sua relação com Deus ajudou-o a viver este sofrimento. Fernando Santos
contou que antes da morte do pai, debatia-se no seu íntimo com a dúvida de
propor ao pai, ou não, o receber o Sacramento da Santa Unção. No seu íntimo
gostaria de o propor. Mas por outro lado, tinha receio de que o pai recebesse
essa proposta como um apressar e despachar alguém para a morte. O diálogo com a
esposa sobre esta dúvida abriu caminhos. Num dia em que Fernando Santos chegou
a casa, o pai surpreendeu-o disse-lhe que já estava bom. Naquele momento,
Fernando Santos não compreendeu a afirmação do pai, pois a doença do pai era
irreversível e não tinha cura. Ao falar com a sua esposa sobre a afirmação do
pai, ela contou-lhe que o pai havia recebido o Sacramento da Santa Unção, se
tinha confessado e tinha recebido a Sagrada Comunhão. “Esta foi uma das maiores
dádivas que recebi na vida”, partilhou Fernando Santos. O seu pai partiria para
Deus, dois dias depois.
Como vive a fé no futebol
Como vive a fé no futebol
Quando questionado sobre o
mundo do futebol, sobre a imagem dos futebolistas e como consegue viver os
valores cristãos e anunciar o Jesus Vivo e Ressuscitado nesse ambiente,
Fernando Santos começou por lembrar que o futebol é um desporto demasiado
visível, apaixonante e irracional. E revelou que a imagem que a comunicação
social constrói dos futebolistas como o Cristiano Ronaldo, não corresponde à
realidade. Referindo-se ao Cristiano Ronaldo em particular, lembrou que este
rapaz, aos 10 anos de idade andava descalço na ilha da Madeira, teve uma vida
muito difícil e tudo o que ele tem alcançado na vida é o resultado do seu
esforço, do seu trabalho e do seu sacrifício.
À pergunta: como se vive a fé no futebol? Fernando Santos respondeu que vive a fé no futebol como em qualquer lado! E explicou que a fé exige que sejamos coerentes connosco e com os outros. “Quem tem fé – e eu respeito quem não tem – não pode ter fé para ir à Missa ao Domingo, mas depois à segunda-feira já não tem porque está com os amigos na faculdade ou porque está no futebol. A fé para mim é tão natural como respirar!”, disse. E acrescentou ainda que para fortalecer a sua fé participa regularmente na vida da sua paróquia, onde vai à Missa e é leitor.
À pergunta: como se vive a fé no futebol? Fernando Santos respondeu que vive a fé no futebol como em qualquer lado! E explicou que a fé exige que sejamos coerentes connosco e com os outros. “Quem tem fé – e eu respeito quem não tem – não pode ter fé para ir à Missa ao Domingo, mas depois à segunda-feira já não tem porque está com os amigos na faculdade ou porque está no futebol. A fé para mim é tão natural como respirar!”, disse. E acrescentou ainda que para fortalecer a sua fé participa regularmente na vida da sua paróquia, onde vai à Missa e é leitor.
Foi perguntado ao selecionador
nacional de futebol que imagem tem de Deus. Será treinador que puxa pelo melhor
de nós próprios? Um árbitro que ajuda a distinguir o bem do mal ou o certo do
errado? Um guarda-redes que está sempre lá para nos proteger? Ou um jogador que
é um companheiro de equipa ou de caminho?”. Fernando Santos descartou desde
logo a imagem de árbitro e preferiu as de companheiro e treinador: “Árbitro não,
pois Ele não tem nada de juiz! Deus é amor, portanto é mais um companheiro de
vida. Deus é um misto de jogador e treinador. É um companheiro de caminho sim e
também é treinador pois ensina-nos, conduz-nos e prepara-nos.”, disse.
A vitória no Euro 2016
Sobre a conquista do
Campeonato da Europa de Futebol, em 2016, o selecionador nacional recordou que
sempre motivou os jogadores portugueses para a vitória na competição, em
França. Ele estava convicto de que a equipa portuguesa tinha capacidade de
trabalho e o talento para o conseguir. Contudo, para Fernando Santos faltava
encontrar um equilíbrio entre o talento dos jogadores portugueses e a
maturidade emocional para alcançar a vitória. E esta maturidade emocional adquiria-se com a consciência de que o jogo de futebol é muito simples: “é marcar golos na baliza adversária e defender a nossa baliza”, disse. Segundo o treinador português, esta simples mensagem motivou muito os jogadores portugueses: “levou-os a acreditar que era possível ganhar o Campeonato da Europa de futebol e dispuseram-se a trabalhar para o alcançar”. Com o decorrer do campeonato, a passagem na fase de grupos e as vitórias nas eliminatórias, a confiança da equipa aumentou. Para o selecionador nacional, neste percurso houve um momento importante e decisivo antes do jogo com a Hungria. No centro de estágios em Marcoussis (Paris), os jornalistas perguntaram a Fernando Santos até quando estaria em Marcoussis, ao que o treinador português respondeu: “até 11 de julho”- dia da final do campeonato europeu. Com esta resposta, o treinador assumiu publicamente a sua convicção e a dos seus jogadores de querer mesmo ganhar o Campeonato da Europa de Futebol. “Apesar do embate com a Hungria ter sido muito difícil, a superação neste jogo foi muito importante para a equipa” – revelou. E de superação, em superação, a equipa das quinas chegou mesmo à final do Europeu, no célebre “dia 11 de julho”. Na manhã do dia da final, Fernando Santos dedicou um tempo à oração e à leitura do Evangelho do dia - como faz habitualmente após o acordar. E o Evangelho nesse dia falava de “ser simples como as pombas e prudentes como as serpentes”. Mais tarde, no momento de falar aos jogadores, para além dos aspetos técnicos, Fernando Santos partilhou com eles aquela frase do Evangelho e disse-lhes: “Este é o caminho para a vitória. Temos que ser simples como as pombas e prudentes como as serpentes”. E a tática resultou. Portugal ganhou o jogo por 1-0 e sagrou-se campeão europeu de futebol, pela primeira vez na sua história. A vitória provocou uma alegria imensa, especialmente em França, onde vivem e trabalham muitos emigrantes portugueses. E esta alegria sensibilizou muito o selecionador nacional, pois apercebera-se que os emigrantes tinham dificuldade em assumirem-se como portugueses e não acreditavam que Portugal ganhasse. Mas a vitória mudou tudo. Os emigrantes portugueses saíram à rua para festejar ostentando as bandeiras portuguesas. “Foi fantástico!”, descreveu. in VM abril 2017
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