IRAQUE Estado Islâmico continuará a ser uma ameaça mesmo perdendo Mossul e Raqqa
IRAQUE
Estado
Islâmico continuará a ser uma ameaça mesmo perdendo Mossul e Raqqa
Habitantes de Mosul tentam escapar aos combates |
REUTERS/SUHAIB SALEM
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Enfraquecimento territorial no Iraque e na Síria
poderá levar a um aumento dos ataques de baixo custo no Ocidente, defendem
especialistas ouvidos pelo DN
O Estado Islâmico (Daesh em árabe) parece cada vez
mais enfraquecido. A prová-lo estão as sucessivas derrotas territoriais que tem
vindo a sofrer. Tudo indica que será uma questão de tempo até que Mossul caia
definitivamente nas mãos das forças iraquianas. E Raqqa, na Síria, será a
batalha seguinte. Terá a organização terrorista os dias contados? "Infelizmente,
não creio. Perder esses dois bastiões será uma mossa muito grande, mas não o
princípio do fim", defende ao DN Felipe Pathé Duarte, professor
universitário e autor do livro Jihadismo Global - Das Palavras aos Actos.
Mossul, o último grande bastião do Daesh no Iraque,
tem também um valor simbólico. Foi a partir daí que Abu Bakr al-Baghdadi
declarou o califado em 2014. Foi a partir daí que a organização islâmica
arrancou para a conquista de território na Síria e no Iraque. Depois dessa
expansão inicial, os últimos meses têm sido pouco auspiciosos para o Daesh do
ponto de vista militar. De acordo com o IHS Conflict Monitor, no início de 2016
os militantes do Estado Islâmico controlavam, na Síria e no Iraque, 78 000 km2.
Doze meses mais tarde, em dezembro, a extensão de território nas mãos da
organização tinha recuado para 60 400 km2 (o que equivale a cerca de dois
terços da dimensão de Portugal). Feitas as contas, o Daesh perdeu 22,5% de
território em 2016 - o que compara com uma perda de 14% em 2015. Também segundo
um relatório do IHS citado pela BBC, no auge do domínio cerca de dez milhões de
pessoas estariam a viver sob a égide do Estado Islâmico. Em outubro de 2016
eram apenas seis milhões e hoje serão menos ainda.
Até que ponto estará o Daesh verdadeiramente
enfraquecido? "A perda territorial traz outros dois problemas ao Daesh:
dificulta o financiamento e faz que seja mais complicado receber combatentes
estrangeiros", explica Pathé Duarte. "Ainda assim, isto não significa
que o Estado Islâmico esteja a deixar de representar uma ameaça", diz o
mesmo analista. Para o professor universitário, estamos a falar de uma guerra
que depende principalmente de uma ideia mais do que de domínio territorial ou
de líderes: "Enquanto existir a ideia do EI, haverá sempre alguém que
estará disposto a lutar em nome da causa." Por outro lado, Felipe Pathé
Duarte acredita que os desaires territoriais levarão a que o Daesh sinta
necessidade de provar a sua capacidade operacional, incentivando ataques de
baixo custo, nomeadamente através de lobos solitários, como aconteceu, por
exemplo, em Nice ou em Berlim.
"Dá a ideia de que quanto mais território o
Estado Islâmico perde na Síria e no Iraque maior é a sua capacidade de fazer
ataques no Ocidente", sublinha ao DN Mitchell Belfer, presidente do Centro
de Informação Europa-Golfo, com sede em Roma, e diretor do Central European
Journal of International and Security Studies.
O analista justifica este aparente paradoxo com o
investimento que o Daesh tem realizado em células adormecidas nos países
ocidentais e também com o trabalho que continua a ser feito pelos pregadores do
ódio que continuam a radicalizar jovens. "O EI nunca teve grande poderio
militar. Não tem aviões, nem tanques, nem artilharia e é um aglomerado de
soldados que não falam a mesma língua nem se regem pelas mesmas regras. Mas
essas deficiências são compensadas com o tipo de armas que usa: carros-bomba,
explosivos e guerreiros ultrazelosos e corajosos", acrescenta Belfer.
Esses combatentes continuarão fiéis ao Daesh mesmo que
Mossul e Raqqa acabem por cair. "É uma violência que vive muito mais da
ideia do que das infraestruturas. A ideia é o centro de gravidade. Continuará a
existir um incentivo aos ataques de baixo custo que mostrem a vulnerabilidade
das sociedades ocidentais", sublinha Felipe Pathé Duarte.
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