A corrupção e o crime organizado contrastam com a fraternidade por Armando Soares
7.A
corrupção e o crime organizado contrastam com a fraternidade
O horizonte da fraternidade apela ao
crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma
pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe
deve roubar a esperança de podê-las realizar. Mesmo nas disputas, que
constituem um aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que
somos irmãos.
A
fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e
justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos
e bem comum. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes públicos,
no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre cidadão e
instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa relação,
favorecendo a criação dum clima perene de conflito.
Um
autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a
possibilidade das pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo
desenvolve-se, socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se
difunde de maneira capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde
os pequenos grupos até àqueles organizados à escala global – que, minando
profundamente a legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Penso no drama dilacerante
da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos
recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do
trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação
financeira que, muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para
inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e
mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes,
sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no domínio do
tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que
ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia
frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na
ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma convivência baseada
unicamente em relações de força nada tem de humano: nela vêem as pessoas
coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em
condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio desenvolvimento
e aperfeiçoamento».( Pacem in terris 17) Gostaria que isto fosse uma mensagem
de confiança para todos, mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos,
porque Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18,
23).
No
contexto alargado da sociabilidade humana, considerando o delito e a pena,
penso também nas condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais,
onde frequentemente o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na
sua dignidade de homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de
resgate. A Igreja faz muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem
rumor. Exorto e encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais acções
desencadeadas por tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser
sustentadas, leal e honestamente, também pelos poderes civis.( Mensagem da Paz
2014, 8).
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