.A fraternidade, premissa para vencer a pobreza por Armando Soares
5.A fraternidade, premissa para vencer a pobreza por Armando Soares
A fraternidade, premissa para vencer a pobreza
A fraternidade, premissa para vencer a pobreza
Na
Caritas in veritate, o meu Predecessor lembrava ao mundo que uma causa
importante da pobreza é a falta de fraternidade entre os povos e entre os
homens.(Caritas in veritate 19)
Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à
carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos,
preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização,
solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode
ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no
seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e
tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.
Além
disso, se por um lado se verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro
não podemos deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é,
de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou
num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas
eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas –
iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos
«capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos,
para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu
projecto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.
Reconhece-se
haver necessidade também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva
desigualdade de rendimento.
Por
último, há uma forma de promover a fraternidade:
o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e
essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar
a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo
e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que
professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos
responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo
constitua o bem mais precioso (Mensagem 5)
As
graves crises financeiras e económicas dos nossos dias – que têm a sua origem
no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição
desmedida de bens materiais, por um lado,
e o empobrecimento das relações interpessoais
e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a
felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma
economia saudável. Já, em 1979, o Papa João Paulo II alertava para a existência
de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o
domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste
seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele
próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não
directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida
comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de
comunicação social». (Redemptor hominis 16)
As
sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de
desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. A crise actual, com
pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia
para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas
podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços
fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem
tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes são
necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da
dignidade humana. (Mensagem da Paz
2014 6)
Comentários
Enviar um comentário