Fraternidade, fundamento e caminho para a paz
Fraternidade,
fundamento e caminho para a paz
É fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a
paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa
neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo
VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira, apreendemos
que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e, da segunda,
que a paz é fruto da solidariedade. (João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei
socialis 39).
Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar
num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas,
nesta comunhão sagrada, devemos (...) trabalhar juntos para construir o futuro
comum da humanidade».( enc. Populorum progressio 43)
As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural,
apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige
que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que
requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre
povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a
promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham
qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao
desenvolvimento dos outros.( ibid., 44)
Ora, da mesma forma que se considera a paz como fruto da solidariedade,
é impossível não pensar que o seu fundamento principal seja a fraternidade. A
paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é
de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor
qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver
viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenharem pelo bem
comum».( Sollicitudo rei socialis 38) Isto implica não deixar-se guiar pela
«avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se”
em benefício do próximo em vez de o explorar, e a “servi-lo” em vez de o
oprimir para proveito próprio (...). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não
deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço,
a capacidade de trabalhar e a resistência física, para o abandonar quando já
não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».( Ibid., 38-39)
A solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como
«um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a
todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de
Jesus Cristo e tornada objecto da acção permanente do Espírito Santo»,( Ibid.,
40) como um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da
fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e
da acção vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao
nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o interpretar»,[10]
para o transformar.
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