MISSIONÁRIO Ser padre ou missionário um desafio aos jovens por Armando Soares
MISSIONÁRIO
Ser padre ou missionário um desafio
aos jovens
Padre José Guedes, missionário da diocese de Lamego, na Zâmbia |
Em
Portugal, a carência de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada é uma
preocupação dos Bispos dos Superiores dos Institutos. Com efeito, o panorama
não muito animador é o seguinte, referindo-nos a 1995: padres 3.317 (3.643 em
1990 e 3.724 em 1985; candidatos a padre: 438, com 62 ordenações (em 1985: 313
seminaristas maiores diocesanos e 31 ordenações) – o crescimento é real embora
lento; o número de religiosos baixou e o número de religiosas está subindo
nalguns Institutos e mantém-se estacionário noutros.
A
nível europeu, o panorama é sensivelmente melhor pois ultrapassaram ou estão
ultrapassando lá os esquemas de atraso que vivem e fazem ainda a “vivência” dos
nossos jovens, sobretudo os que não enfrentam dificuldades na vida e não têm de
lutar para sobreviver) e se, de 1978 a 1994, houve uma diminuição de 251 mil
padres para 219 mil (13%), aumentaram as ordenações em 37%, de 1805 para 2.429
no ano de 1994. Os seminaristas maiores diocesanos e religiosos passaram de
23.915, em 1978 para 29.511 em 1994 (23%). Baixou o número de religiosos e
religiosas nos mesmos períodos.
Optou-se
para os candidatos que antigamente frequentavam o seminário menor, continuarem
no ambiente familiar. A pastoral vocacional ramificou-se em múltiplas iniciativas
experimentais: campos de férias, convívios com comunidades paroquiais,
religiosas ou hospitalares; retiros vocacionais; momentos fortes de oração;
grupos de acompanhamento vocacional; semanas de sensibilização; formação de
animadores vocacionais; fins de semana nos seminários; seminário em família,…
Outras iniciativas como centros universitários e o pré-seminário, vão dando
seus passos, e completam o leque, mas todos com pouco ou nenhum êxito. Será
talvez um trabalho com frutos a longo prazo! Hoje a vida é sedutora em muitos
aspectos, carece de valores, navega no vazio e no inútil, foge dos ideais que
exigem sacrifício, luta, renúncia, mas que dão a alegria de haver um sentido na
vida e a felicidade de serviço à comunidade nas dimensões da fé e da solidariedade
humana.
Cremos
que, à medida que os anos forem passando, uma nova era, que já despertou lá
fora, em alguns países, também chegará ao nosso meio. E já se sente um abandono
cada vez maior de “discotecas”, de “boîtes”, de “revistas pornográficas”; multiplica-se
nos jornais e na TV a publicidade sobre sexo porque a procura real é cada vez
menor”, e isto apesar de termos em Portugal uma comunicação social geralmente
comandada por agnósticos ou ateus ou anticlericais. Mas o “Espírito de Deus não
dorme” e vivifica a comunidade dos fiéis. A saturação da banalidade e do vazio
já é sinal de vida. Ou conduz a viver a fé com firmeza, ou conduz ao suicídio
como queda abrupta no abismo do nada ou do inferno (= sofrimento, loucura) que
se fez para si mesmo e/ou para os outros. Diz a Sagrada Escritura que “os
ímpios arderão como carvões em brasa”. A todos, Deus dá o tempo suficiente para
entrarem “pela porta estreita” da salvação e da vida. Se o homem não quer, Deus
deixa-o livre. É ele mesmo que escolhe condenar-se e morre na tortura de não
ter feito nada ou de só ter feito mal aos outros nos lugares que ocupou.
Como
é diferente a atitude daquele que, como o Papa João XXIII disse aos Cardeais
que o acompanhavam na agonia, pode dizer, quando chegar a hora da sua morte:
«Morro feliz porque deixo o mundo melhor do que o encontrei».
Ser
padre não é escolher uma vocação já ultrapassada, mas escolher uma vocação de
serviço, que é o que mais dignifica o homem nos tempos de hoje. É viver um
risco sério, de ser diferente na igualdade, porque hoje não se desculpa nada ao
padre nesta sociedade anticlerical e antiteísta. Mas vale a pena sê-lo, com a
força do Espírito e a amizade e o apoio dos irmãos, a quem não podemos
desiludir no nosso pensar e no nosso agir. Eu acredito numa Igreja em que não
faltarão os sacerdotes necessários voltados para Deus, servindo a Deus e
servindo o homem, com alegria e felicidade, porque lutamos pelos verdadeiros
valores evangélicos, ainda que revestidos da fraqueza de todos os homens, como
diz São Paulo. Seremos, pela força do Espírito, a força do Evangelho que é
perene Boa Nova. O resto são tretas para encher páginas de jornais, para
“entontecer os ignorantes”, para entrar muitas vezes cobarde e trapaceiramente
na privacidade a que todo o cidadão devia ter direito.
O
desafio continua lançado aos jovens que na vida e na comunidade se achem
capazes de fazer algo de belo pelos seus irmãos, animados pela força do
Espírito. Ser padre, não é para os tímidos, nem para os “eternamente
duvidosos”, nem para os que ainda andam agarrados anacronicamente a modos de
pensar e de agir que já foram enterrados em épocas passadas. Leccionei História
durante mais de dez anos e já vivi ou visitei 80 países! E, se Deus me deu vida
e saúde, ainda hei-de conhecer mais. Viajando e conhecendo melhor este mundo em
que vivemos, sentimos na nossa carne as necessidades, as dificuldades, as
alegrias, as angústias dos vários povos e das várias gerações. O padre, e
especialmente, o missionário, é aquele cuja “Igreja doméstica” é o mundo todo.
Voltado para o amanhã e para o futuro, e fazendo de muito sonho muita realidade
vivida.
Posso hoje dizer que, os melhores anos da minha vida missionária, foram
os treze anos passados em missão em Angoche, Moçambique
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