ONU O discurso do Papa na ONU em seis preocupações 25 Set, 2015 - 15:57 • Pedro Leal
ONU
O discurso do Papa na ONU em seis preocupações
25 Set, 2015 - 15:57 • Pedro Leal
Logo
no início da intervenção, o Papa Francisco deixa um desafio à própria ONU: é
necessário adaptar-se aos novos tempos, em particular o Conselho de Segurança.
Seguiu-se a exclusão social, o desenvolvimento, o ambiente, a mediação de
conflitos e a perseguição de cristãos. Uma linha trespassa todos os temas: a
dignidade da pessoa humana.
Reforma do Conselho de Segurança e organismos financeiros
internacionais
“Há constante necessidade de reforma e
adaptação aos tempos, avançando rumo ao objectivo final que é conceder a todos
os países, sem excepção, uma participação e uma incidência reais e equitativas
nas decisões.”
“Esta necessidade duma maior equidade é especialmente
verdadeira nos órgãos com capacidade executiva real, como o Conselho de
Segurança, os organismos financeiros e os grupos ou mecanismos criados
especificamente para enfrentar as crises económicas.”
“Isto ajudará a limitar qualquer espécie de
abuso ou usura especialmente sobre países em vias de desenvolvimento.”
“Os organismos financeiros internacionais
devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, evitando uma sujeição
sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o
progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e
dependência.”
“Convém recordar que a limitação do poder é
uma ideia implícita no conceito de direito. Dar a cada um o que lhe é devido,
segundo a definição clássica de justiça, significa que nenhum indivíduo ou
grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e
os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais. A efectiva
distribuição do poder (político, económico, militar, tecnológico, etc.) entre
uma pluralidade de sujeitos e a criação dum sistema jurídico de regulação das
reivindicações e dos interesses realiza a limitação do poder.”
Exclusão social
“O mundo pede vivamente a todos os
governantes uma vontade efectiva, prática, constante, feita de passos concretos
e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o
mais rapidamente possível o fenómeno da exclusão social e económica, com suas
tristes consequências de tráfico de seres humanos, tráfico de órgãos e tecidos
humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a
prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade
internacional organizada.”
“Tal é a magnitude destas situações e o
número de vidas inocentes envolvidas que devemos evitar qualquer tentação de
cair num nominalismo declamatório com efeito tranquilizador sobre as
consciências. Devemos ter cuidado com as nossas instituições para que sejam
realmente eficazes na luta contra estes flagelos.”
Desenvolvimento
“Para que estes homens e mulheres concretos
possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam actores
dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno
exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e
realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres
humanos.”
“Isto supõe e exige o direito à educação –
mesmo para as meninas (excluídas em alguns lugares) –, que é assegurado antes
de mais nada respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar
e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as
famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos. A educação, assim
entendida, é a base para a realização da ‘Agenda 2030’ e para a recuperação do
ambiente.”
“Ao mesmo tempo, os governantes devem fazer
o máximo possível por que todos possam dispor da base mínima material e
espiritual para tornar efectiva a sua dignidade e para formar e manter uma
família, que é a célula primária de qualquer desenvolvimento social. A nível
material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a
nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade
religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis.”
“Ao mesmo tempo, estes pilares do
desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum, que é o direito à
vida, e, em sentido ainda mais amplo, aquilo a que poderemos chamar o direito à
existência da própria natureza humana.”
Ambiente
“É preciso afirmar a existência dum
verdadeiro «direito do ambiente», por duas razões. Em primeiro lugar, porque
como seres humanos fazemos parte do ambiente. Vivemos em comunhão com ele,
porque o próprio ambiente comporta limites éticos que a acção humana deve
reconhecer e respeitar. (…) Por conseguinte, qualquer dano ao meio ambiente é
um dano à humanidade. Em segundo lugar, porque cada uma das criaturas,
especialmente seres vivos, possui em si mesma um valor de existência, de vida,
de beleza e de interdependência com outras criaturas.”
“A exclusão económica e social é uma negação
total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao
ambiente. Os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um
triplo e grave motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são
obrigados a viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências
do abuso do ambiente. Estes fenómenos constituem, hoje, a «cultura do descarte»
tão difundida e inconscientemente consolidada.”
“A crise ecológica, juntamente com a
destruição de grande parte da biodiversidade, pode pôr em perigo a própria
existência da espécie humana.”
“A defesa do ambiente e a luta contra a
exclusão exigem o reconhecimento duma lei moral inscrita na própria natureza
humana, que inclui a distinção natural entre homem e mulher e o respeito
absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões.”
Mediação de conflitos
“É preciso garantir o domínio incontrastado
do direito e o recurso incansável às negociações, aos mediadores e à
arbitragem, como é proposto pela Carta das Nações Unidas, verdadeira norma
jurídica fundamental.”
“Quando, pelo contrário, se confunde a norma
com um simples instrumento que se usa quando resulta favorável e se contorna
quando não o é, abre-se uma verdadeira caixa de Pandora com forças
incontroláveis, que prejudicam seriamente as populações inermes, o ambiente
cultural e também o ambiente biológico.”
“Uma ética e um direito baseados sobre a
ameaça da destruição recíproca – e, potencialmente, de toda a humanidade – são
contraditórios e constituem um dolo em toda a construção das Nações Unidas, que
se tornariam ‘Nações Unidas pelo medo e a desconfiança’. É preciso trabalhar
por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente, na letra e no espírito,
o Tratado de Não-Proliferação para se chegar a uma proibição total destes
instrumentos.”
“A casa comum de todos os homens deve
edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza
criada.”
“Tal compreensão e respeito exigem um grau
superior de sabedoria, que aceite a transcendência, renuncie à construção duma
elite omnipotente e entenda que o sentido pleno da vida individual e colectiva está
no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação
para o bem comum. Repetindo palavras de Paulo VI, ‘o edifício da civilização
moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos capazes não
apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar’”.
Perseguição religiosa
“Não faltam provas graves das consequências
negativas de intervenções políticas e militares não coordenadas entre os
membros da comunidade internacional. Por isso, embora desejasse não ter
necessidade de o fazer, não posso deixar de reiterar os meus apelos que venho
repetidamente fazendo em relação à dolorosa situação de todo o Médio Oriente,
do Norte de África e de outros países africanos, onde os cristãos, juntamente
com outros grupos culturais ou étnicos e também com aquela parte dos membros da
religião maioritária que não quer deixar-se envolver pelo ódio e a loucura,
foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do
seu património cultural e religioso, das suas casas e haveres, e foram postos
perante a alternativa de escapar ou pagar a adesão ao bem e à paz com a sua
própria vida ou com a escravidão.”
Comentários
Enviar um comentário