NA FORÇA DE DEUS Apresentação por Armando Soares
NA
FORÇA DE DEUS
Apresentação
por Armando Soares
Deus,
termo de raiz indo-europeia (significando esplendor, com especial relação ao
céu astronómico), a palavra latina com as correspondentes nas línguas derivadas
(Deus, Dieu, Dio, Dios…) expressa o termo supremo da relação religiosa do
homem.
A
história manifesta duas estruturas do homem religioso: por uma parte, a pura
orientação a algo Absoluto e Transcendente, por outra, a necessidade das
mediações simbólicas (hierofanias, mitos, ritos…) Mas a religião judaico-cristã
representa a mais poderosa eclosão histórica da consciência da Transcendência
do Absoluto.
O
fenómeno religioso é originário e irredutível no homem e leva a um termo
supremo: Deus! Confrontam-se posições teístas e ateias. Para A. Comte a
religião (nos 3 estádios: religioso, metafísico e positivo), Feuerbach
(religião como alienação), Marx ( como “ópio do povo”), Nietzsche (como
debilidade gregária), Freud (sobrevivência nociva da imagem paterna na ideia de
Deus). Também não fazem plena justiça à originalidade do fenómeno religioso as
teorias filosóficas que o observam de um ângulo exclusivamente racional, que
mora (Kant), quer especulativo (Espinosa, Hegel): Schleiermacher aproximou-se mais
da especificidade do acto religioso («sentimento de dependência»).
No
século XX Otto, Scheler, Heiler,… começam a reconhecer e a descrever as
irredutíveis estruturas do sagrado, objecto do fenómeno religioso, que se
contrapõe ao «profano». «Tremendo» e «fascinante» ao mesmo tempo, «poder,
santidade, mistério».
Atendendo
aos testemunhos dos graus mais elevados da experiência religiosa, encontrou
justamente Bergson no amor a chave da religiosidade mais pura («dinâmica»),
para a qual Deus é o Amor originário, encontrando a sua plena realização
histórica no Cristianismo. Com a prevalência do amor, as mediações simbólicas
tornam-se mais sóbrias, ao fazerem-se mais desinteressadas; a religião torna-se
capaz de assumir um autêntico humanismo; Deus aparece como «força da nossa
força» antes que como «força da nossa debilidade» (H. Duméry).
As
grandes tradições do pensamento filosófico na história da Humanidade
originaram-se em tradições religiosas prévias: assim na India, na Grécia, no
Ocidente cristão. A grande exigência do homem é a de encontrar o «sentido» para
a sua existência. O homem mostra-se constitutivamente aberto ao Absoluto,
exigindo um Primeiro Fundamento, Ser Necessário, e a exigência dum Último Fim,
Bem Infinito.
A
teologia cristã é um esforço racional para penetrar a estrutura inteligível do
conteúdo da fé religiosa. Tem a teologia em Deus o objecto supremo. A teologia
católica pressupõe (Concílio Vaticano I) que Deus pode ser conhecido pelo homem
sem uma revelação especial; mais, o facto de que a fé religiosa deva ser
resposta pessoal à Revelação implica que o crente tem (pelo menos de um modo
incipiente), como «infra-estrutura» da sua fé, um certo conhecimento «natural»
de Deus. Esta é a razão profunda por que a teologia cristã foi, desde a Antiguidade,
(Pseudo-Dionísio, Sto Agostinho, S. Tomás, Sto Anselmo,…) desenvolvendo à
margem, uma filosofia sobre Deus. O cristão vê em Jesus Cristo a palavra
pessoal de Deus, pronunciada na história humana para salvação do homem e na
Tradição da Igreja a transmissão legítima dessa mensagem. Aparece como conteúdo
dessa mensagem: Deus como Amor e Deus como Pai. O homem é filho de Deus, como
participante duma nova vida que nos salva enquanto nos torna capazes de
vivermos em amor, à imagem do Pai, a vida de Jesus em gestos de bondade, de
ternura, de carinho, de misericórdia.
Deus
não é uma realidade abstracta, mas um ser concreto que se preocupa dos homens e
do mundo. Se por vezes aparece na Escritura como um Deus tirano, caprichoso e
guerreiro, Ele é um Deus que aparece a
Abraão prometendo fazer dele um grande povo (Gen 12, 1-4), revela-se a Moisés no Sinai (Ex 3,
1-15), liberta os Israelitas do Egipto (Ex 3, 20), acompanha-os com a sua
presença (Is 41, 4). Só Ele é o Deus de Israel (1 Re 18, 39), existe desde o
princípio e criou tudo (Gen 11), quer ser adorado como Deus único ( Deut 4, 35)
não permite o politeísmo (Ex 20, 3), nem tolera ser representado por imagens
(Ex 20, 4). É um Deus inacessível e transcendente (Sal 139, 7-12). No entanto
revela-se aos homens e cuida deles: é um Deus vivo (Ex 7-10), um Deus santo (Os
11, 9), um Deus ciumento (Ex 20, 5) e misericordioso ( Ex 33, 19) um Deus de
verdade e de perdão.
É
deste Deus que é mistério, que é o Absoluto, que se revela em Jesus Cristo, que
dá sentido à nossa vida, que é Amor expresso no rosto de Jesus, que falamos em
muitas dimensões por que Ele e Deus Pai estão em toda a parte. Só Deus é que dá
sentido pleno à vida, sobretudo à vida humana.
Apresento
aos meus queridos leitores muitas dimensões deste Deus de Jesus Cristo e que se
tornou nosso salvador, companheiro e nos mostra Seu rosto nas pessoas que
passam por nós e nas maravilhas que criou como o céu, a terra, o mar, os rios,
as flores, as serras, as colinas, o nascer
e o pôr do sol.
Funchal,
10 de Março de 2014
Armando
Soares
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