PEGADAS DE UM DEUS DIFERENTE por ARMANDO SOARES
(in BOA NOVA dezembro 2012, página 39)
A Gráfica de Coimbra 2 vem primando por oferecer
P. Armando Soares |
língua portuguesa. Honra lhe seja. É o caso de “Pegadas
de um Deus diferente. Seu autor, Carlo di Cicco é um
jornalista profissional católico, vaticanista, subdiretor
do jornal “L’Osservatore Romano”. A intrigante questão
de Deus acaba, na maior parte dos casos, em polémica
rude ou banal entre laicos e católicos. Tudo muda se
se raciocinar a partir do amor, nome verdadeiro e originário
do Deus de Jesus Cristo. Este revela-se apenas
a quem ama. Deus deve ser libertado dos milhares de
máscaras que Lhe colocam no rosto, trocando-o pelas
mais diferenciadas figuras do mal que nos apoquenta.
O Autor ensina-nos que, abrindo a Bíblia, com olhos e
coração livres de preconceitos, se descobre outro Deus
que é Amor vivo, que nos fala de Si mesmo, e que podemos
procurá-lo e ver ainda que, por agora, como num
espelho. Mas qualquer momento é propício para descobrir
este Deus um pouco “estrangeiro”.
A história que se conta aqui sobre o desconhecido
Deus - Amor, começa quando o autor reencontra uma
velha Bíblia, lida nos tempos da juventude, em 68, o
ano extraordinário e discutido, das revoltas estudantis.
Respiravam-se então os ares de um Concílio Vaticano
II, recentemente concluído. Aquela Bíblia, sublinhada a
lápis de cor encarnada e azul, pode servir ainda a jovens
e adultos, para que se libertem dos receios da vida
e acendam luzes de credíveis esperanças.
Este livro fará bem a todos os que o lerem, quer crentes,
quer ateus. Um Deus – máscara, um Deus antropomórfico
enche as cabeças de muitos fiéis de fé ingénua,
nada maliciosa mas pouco ilustrada embora convicta. É
preciso que o conhecimento desperte a vivência da fé
e a alimente, como seiva que clarifica o Deus vivo que
está em nós, que envolve o mundo e se revela como um
amigo que nunca nos falha.
Abrir a Bíblia e ler pausadamente é encontrar o “Verbum
Dei” que nos interpela, que diz que nos ama, que
nos quer felizes, que não gosta
que sejamos maus, mas que sejamos
uma família de irmãos,
que nos auxiliemos mutuamente,
como peregrinos envolvidos
nos mesmos problemas, ainda
que em idades diferentes. Até
literariamente encontramos
imagens belíssimas quer no
Cântico dos Cânticos, quer
nos Salmos, que são ricos
em comparações duma profundidade
exaltante. Salmos de louvor. Expressões de
alegria e júbilo. A Natureza envolvida em vida: os montes
saltando como cabritos!
No meu tempo a catequese apresentava-me um Deus
ainda “Tridenntino, que me estava espreitando e seguindo
meus passos para me castigar se eu fizesse o mal. Não
o faria por medo. Embora
o temor possa conduzir
ao amor. Os tempos
foram mudando, foram-
-se renovando. Apareceu
em meados do século
passado, o Concílio
do Vaticano. Apareceu
uma Igreja família, uma
Igreja “povo de Deus”,
um Deus próximo do homem. Assim o quis o “Papa Bom”,
João XXIII. E o Papa João Paulo II exemplificou tão bem
o Deus próximo do homem, sobretudo do pobre, do desprezado,
do marginalizado. E Bento XVI o apresentou de
uma maneira eloquentemente expressiva e bela na sua
Encíclica “Deus é Amor”. É este Deus que o Padre Georgino
nos ajuda a encontrar no nosso viver quotidiano.
É este Deus que devemos encontrar, em caminhos e
em pegadas diferentes – tais são os nossos caminhos.
Quem o procura, mais cedo ou mais tarde encontrá-lo-á.
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