AMERICA LATINA A Igreja e a violência
A Igreja denuncia tráfico de droga |
Os pronunciamentos cristãos a propósito do
tema da violência encontram-se na base da génese cristã no mundo americano
conquistado. Podemos afirmar que na América a fé chegou juntamente com a
injustiça. Os bispos acompanharam o processo de solução deste problema.
Inspirados sobretudo na Gaudium et Spes
do Vaticano II as Conferências episcopais multiplicaram-se em declarações a
respeito da justiça, da paz e da igualdade. A violência dominou os séculos XIX
e XX. As guerras da independência, as revoluções civis e ideológicas, fizeram
jorrar muito sangue. Perante situações tão clamorosas e os conflitos graves
parece que as expressões pastorais são escassa, tímidas e pouco eficazes. Mas
encontramos da parte do Magistério sul americano um ensinamento, não incendiário,
mas educativo. A consciência da Igreja, segundo as palavras do seu Mestre, é
mais forte do que qualquer grito de desespero: “Não resistais ao homem
malvado», «não temais quantos matam o corpo», «não odieis», «amai os vossos
inimigos».
Frei Bartolomeu de las Casas descrevia como
ausência de direito a falta de caridade as ações do conquistador destinadas a
dominar sem uma causa estas terras, ações que incluíam o alienar e sujeitar os
bens dos indígenas, o roubar, o subjuga-los, o fazê-los escravos contra toda a
lei razoável, contra toda a justiça e caridade ainda que fosse com a intenção
de os conduzir à fé. A primeira grande declaração aberta contra a violência foi
proclamada em Medellín: «A América Latina encontra-se, em muitos setores, numa
situação de injustiça que pode denominar-se violência institucionalizada
quando, por defeito das estruturas da empresa industrial e agrícola, da
economia nacional e internacional, da vida cultural e política… (se violam) os
direitos fundamentais do homem. Não nos deve admirar, pois, que nasça na
América Latina “a tentação da violência”. E violência não é sinónimo de
agressão mas situação em que prevalecem as violações contra os direitos fundamentais
do homem: violência institucional por defeito das estruturas e violência como
atentado contra a dignidade e a paz. Puebla vai mais além e visualiza a
violência no contexto do enredo dos múltiplos aspetos dos novos ídolos: a
riqueza, o poder, o abuso político, a angústia devida à repressão sistemática e
seletiva, a aflição causada pela guerrilha, raptos e extremismos, pelo ídolo da
vaidade, em contraste com a pobreza extrema, o ídolo do sexo, etc. Depois o
homem contemporâneo permitiu a injustiça sem qualquer reação, sem alterar a sua
própria consciência.
Violência interespecífica
O problema gravíssimo da violência da América
Latina, como herança histórica, constituía a forma revanchista de nos vermos
como competidores. António de Montesinos, no seu famoso sermão do segundo
domingo do Advento, em 1511 na ilha de Santo Domingo assinalou com uma série de
interrogações, uma das páginas mais cruéis do cristianismo: a violência entre
batizados. «Com que direito e com que justiça mantendes estes índios em tão
cruel e horrível servidão? Com que autoridade tendes promovido guerras tão
detestáveis contra essas populações, que estavam nas suas próprias terras,
tranquilas e pacíficas, onde multidões incontáveis delas, com mortes e
prejuízos inauditos, vós exterminastes? Como podeis manter tais indivíduos na
opressão e no cansaço, sem lhes dar de comer, sem os curar das suas
enfermidades, que elas contraem devido ao excesso de trabalho que vós lhe
impondes, e por isso chegam a morrer, ou melhor, sois vós que os matais, para
extrair e adquirir ouro cada dia?
E que cuidados tendes, para que alguém lhes
ensine a doutrina, e eles conheçam o seu Deus e Criador, sejam batizados,
frequentem a missa, guardem as festas e os domingos”».
O homem cai na escravidão, quando diviniza ou
absolutiza a riqueza, o poder, o Estado, o sexo, o prazer ou qualquer criação
de Deus, inclusive o seu próprio ser ou a razão humana. O próprio Deus é fonte
de libertação radical de todas as formas de idolatria, porque a adoração
daquilo que não é adorável e a absolutização do que é relativo leva à violação
do mais íntimo da pessoa humana: a sua relação com Deus e a sua realização
pessoal (Documento de Puebla, 491).
A Igreja denuncia a discriminação e o racismo
uma vez que ofendem a dignidade humana. Os direitos humanos são violados não
somente pelo terrorismo, pela repressão e pelos assassinatos, mas também pela
existência de condições de pobreza extrema e de estruturas económicas injustas
que dão origem a grandes desigualdades. A intolerância política e o
indiferentismo perante a situação de um empobrecimento generalizado demonstram
um desprezo pela vida humana concreta que não podemos silenciar (Documento de
Santo Domingo,167).
As desigualdades, a intolerância e o
indiferentismo são gerados por católicos contra católicos; trata-se de
violência interespecífica. Nas lutas latino americanas verificam-se episódios
em que exércitos de cristãos atacam populações e estruturas cristãs.
Atitude cristã perante a violência
A origem de todo o desprezo do homem, de toda
a injustiça, deve ser procurada no desequilíbrio interior da liberdade humana,
que terá sempre necessidade, ao longo da história, de um trabalho permanente de
correção. O Magistério admoesta contra os sinais de desespero como cultura
violenta, provocação à qual o cristão não deve ceder. A Igreja quer servir o
mundo irradiando sobre ele uma luz e uma vida que cura e eleva a dignidade da
pessoa humana, consolida a unidade da sociedade e dá um sentido e um significado
profundo a toda a atividade dos homens. (Documento de Medellín, 5)
A Igreja, sacramento de reconciliação e de
paz, deseja que os discípulos e missionários de Cristo sejam também, onde quer
que se encontrem, “construtores de paz” no meio dos povos e das nações do nosso
Continente. A Igreja é chamada a constituir uma escola permanente de verdade e
de justiça, de perdão e de reconciliação, para construir uma paz autêntica
(Documento ad Aparecida, 542)
No Deus Trindade, a diversidade das pessoas
não gera violência nem conflitos, mas é a própria fonte de amor e de vida.
Evangelizar sobre o amor de plena doação, como solução do conflito, deve
constituir um eixo cultural radical de uma nova sociedade. Somente assim o
Continente da Esperança poderá chegar a tornar-se verdadeiramente o Continente
do Amor. (Documento da Aparecida, 543)
O Magistério admoesta contra os sinais de
desespero como cultura violenta, provocação à qual o cristão não deve ceder. ”A
Igreja quer servir o mundo, irradiando sobre ele uma luz e uma vida que cura e
eleva a dignidade da pessoa humana, consolida a unidade da sociedade e dá
sentido e um significado mais profundo a toda a atividade dos homens.
(Medellín, 5)
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