MOÇAMBIQUE minas, pobreza, direitos: fala relator da ONU.
Mina de carvão no Vale |
"Temos de proteger os
camponeses de multinacionais de mineração de abuso": diz à
MISNA Magdalena Sepulveda, relator especial da ONU sobre a extrema pobreza e
direitos humanos, tendo ouvido falar sobre o carvão e a busca de lucro que leva
a deixar sua casa e sua aldeia.
As negociações com as
comunidades que sofreram as consequências do início da actividade mineira foram
um dos destaques de uma visita a Moçambique do director das Nações Unidas neste
mês de maio. Nas províncias de
Maputo, de Gaza e da Zambézia, Sepulveda
ouviu histórias, adquiriu, recolheu informações, apelos e pedidos de ajuda.
"É essencial, diz o relator especial – logo que possível definir um quadro
jurídico, exigir que as multinacionais não prejudiquem os direitos das
comunidades locais e melhorem suas condições de vida".
Sepulveda também reuniu
representantes dos camponeses que tiveram que deixar suas aldeias devido aos
acordos assinados pelo governo com a Vale, a gigante de carvão brasileira
acusada de violar os direitos humanos. Um dos temas recorrentes nas
conversações foram a política chamada de "assentamento", essencialmente
destruindo aldeias inteiras para abrir caminho para a mina. De acordo com o
relator da ONU, "a expulsão das comunidades de seus locais de origem é
concebível apenas como uma medida extrema, que pode ser avaliada na ausência de
soluções alternativas e sempre com plena participação da população no processo
decisório".
Que o assunto é material
confirmaram os protestos que chegaram na semana passada de Moatize de Gates, o
mais importante depósito de carvão em Moçambique. Os manifestantes exigiram à
multinacional o pagamento da compensação prometida para centenas de fabricantes
de tijolos, que devido à abertura da mina perderam sua principal fonte de
subsistência. Os protestos foram reprimidos pela polícia, que usou gás
lacrimogéneo e disparos de tiros, ferindo pelo menos três pessoas.
De acordo com Sepúlveda, o
outro problema são os recursos naturais e a participação nos lucros que devem
ser disponibilizados para o desenvolvimento social. Esta questão é abordada por
um projecto de lei sobre a exploração de jazidas de petróleo e gás natural e foi
aprovada este mês pelo governo de Moçambique. O texto introduz novas normas
para a protecção ambiental e apela a um compromisso do Estado para assegurar que
uma parcela dos lucros efectuadas pelas empresas multinacionais seja para as "comunidades
de acolhimento".
Em princípio, Sepulveda
ressalta que "a indústria de mineração deve ter um papel activo no
desenvolvimento da população local". Um papel essencial, especialmente
tendo em conta as dificuldades de um país que, 20 anos após o fim de uma longa
guerra civil, continua a ocupar o terceiro e último lugar no ranking mundial da
UN "desenvolvimento humano".
As oportunidades oferecidas
pela descoberta de depósitos de carvão, principalmente no norte da província de
Tete e gás natural, no canal de Moçambique, são as mais importantes. "Em
1992 – salienta Sepulveda - Moçambique foi um país devastado, com altas taxas
de analfabetismo e de pobreza". Apesar de um crescimento sustentado da
população, o número de pobres atingiu os 11 milhões, diz o relator das Nações
Unidas, o país tem feito "enormes progressos". É sobre esses
resultados que você precisa para construir, em seguida, sugere Sepulveda,
"sem perder tempo e explorar as oportunidades de recursos naturais".
MISNA 24 de abril de 2013
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