MUNDO o mundo será o que quisermos por Armando Soares
A leitura refaz e renova as pessoas |
Facilmente e frequentemente dou comigo a
tentar dar uma resposta a esta pergunta: o homem é bom ou mau, ou então, que
penso da humanidade no meio da qual vivo hoje?
É uma pergunta a que não é fácil responder.
De um modo simplista, os homens são bons se
penso neles um a um, se penso nos que vão morrendo,… É tão fácil amiúde ouvir
dizer: «morreu Fulano, era tão boa pessoa», «morreu Beltrano, nunca conheci
pessoa tão boa como ele»! E assim sempre vou acreditando que o mundo estará
cada vez pior, porque quase todos os que vão morrendo vão rotulados de “boas pessoas”.
Então ficam só os maus, e assim parece justificar-se que o mundo esteja cada
vez pior.
Mas se fizesse a pergunta à maioria das
pessoas, elas diriam: alguns, que “as pessoas são boas” tanto quanto é
possível, quase todos “são interessantes ou com alguma reserva”.
No geral, quase todas as pessoas são
pessimistas e “prevalecem os instintos sobre os bons sentimentos”, “são
medíocres”, “em grupo, lamentáveis e pobres”, “em multidão, geralmente
incomodam-me”, “em geral as pessoas em conjunto más, uma a uma são boas”. Isto
para usar expressões populares e algumas citações de Martin Descalzo.
Se passamos ao domínio da fé e da religião
podemos acentuar que a humanidade foi transformada em nova humanidade por Jesus
Cristo, mas o homem tornou-se um “robot” das matérias cósmicas, dominado por
seus instintos e esquecendo sua dignidade.
Quando era pequeno lembro figuras de homens de
quem tinha medo, ou porque eram maus ou porque vestiam fardas ( = eu tinha medo
das fardas e das espingardas, é verdade). Mais tarde vi, na minha escola,
alguns colegas que maltratavam o/a professor/a, grupos de colegas que se
juntavam para partirem vidros das janelas das casas que ficavam à beira da
estrada, ou para se guerrearem à pedrada.
Mais tarde, ouvi falar de homens que se matavam
com armas, nas guerras ou para tentarem resolver problemas por suas mãos.
Vivi em África, em Moçambique, no meio da
guerra fratricida de moçambicanos, durante treze anos e nunca pensei que era
possível que pessoas boas se matassem umas às outras porque eram obrigadas a
estar num exército sob o comando de outrem, ainda por cima desconhecido. Quem a
matar quem? Moçambicanos a matar moçambicanos, e à ordem muitas vezes de
estrangeiros!
Hoje conheço muitos países. E sei que a
humanidade se liquida. Não tenta salvar-se. Vinga-se. Explora-se o povo. São os
governos que só apelam para as obrigações dos cidadãos, esquecendo os seus
deveres respeitantes à educação, ao ensino, à saúde, à satisfação das
necessidades elementares para viver. E sinto vergonha quando vejo que o povo
passa mal, que há gente sem trabalho, gente que vive em casas que mais parecem
currais de animais, gente que não tem o mínimo para viver. Que há falta de
segurança, que há roubos por toda a parte e a todas as horas, que incêndios
maldosos, que há um mundo de traições e de embustes na sociedade. Que prolifera
a corrupção em muitos níveis.
Ah! Não é este o mundo com que sempre sonhei,
o mundo pelo qual tenho trabalhado de muitas e variadas formas: na escola, na
igreja, em grupos de jovens, no campo e na cidade, em Portugal e no
estrangeiro,…
Mas, apesar de tudo, queria ser optimista,
mesmo quando vejo o mundo de patas para o ar. Ainda acredito na redenção
possível, numa humanidade nova mesmo que a presente se destrua a si mesma
voluntariamente. Acredito que uma nova humanidade há-de surgir, mesmo que seja
com o sacrifício dos que não quiseram como no tempo de Noé. Esse povo serás tu?
Serei eu? Seremos todos nós os que quisermos..
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