OS JOVENS HOJE por Armando Soares
Se nos anos 60/70, as
palavras-chave da juventude eram: contestação, marginalização, contrapoder, com
uma certa agressividade e pondo em questão as instituições, na década de 80/90,
a juventude portuguesa entra numa grande crise. É década de penúria, de
desemprego, e de luta pela sobrevivência. Tinha-se ido o optimismo económico e
político dos anos 70. A falta de emprego faz emergir enormes problemas na
família e na educação.
Era
necessário dar confiança aos jovens no sentido de que poderiam organizar-se e
participar na vida comunitária nacional e internacional, no bem estar da
comunidade.
Em Portugal, o 25 de Abril
de 1974 desencadeou na sociedade portuguesa um clima irreversível de
transformação sócio-cultural. Criou impacto. Em 1910 a revolução embateu
violentamente contra a instituição eclesiástica. Foi desacreditada. Em 1974 não
se cometeram os mesmos erros, e a Igreja acompanhou com simpatia a
transformação na sociedade portuguesa dando sentido cristão às novas
esperanças. Tradicionalmente o povo
português é pacífico, conciliador, muito ligado à família e aos valores
cristãos. Com oito séculos de história, de intercâmbio com muitas e variadas
civilizações, com uma abertura universalista e ecuménica, corrupção de
instituições e falta de verdadeiros homens políticos. Económicos: começou com
dois anos de revolução selvagem que delapidou a riqueza nacional, aumentou o
desemprego, o absentismo e indisciplina no trabalho, a baixa produtividade, a
dependência económica do exterior (endividamento, aumento do custo de vida), “
a queda no pântano no seio da União Europeia. Sociais: gritante desigualdade
entre os grupos humanos e zonas geográficas, rivalidade e divisão de grupos e
classes, carências a nível de habitação, saúde e assistência social,
insegurança por toda a parte (motivos: desemprego, desilusão
pós-revolucionária, instabilidade política, descrédito dos partidos, falta de
médicos, fuga de capitais, tráfico e consumo de droga). Culturais: baixo nível
de cultura e elevado analfabetismo, pouca criatividade, falta de
infra-estruturas escolares, escola com alunos agressivos (falta de sentido para
a vida), ambiente de crispação e conflitos, a falta de respeito pela nossa
cultura ocidental cristã. Morais: degradação de instituições como a família
(materialização ad família, erotismo generalizado, aumento da criminalidade,
toxicodependência, gaysmo e lesbianismo declarados e apoiados, falta de
valores, falta de respeito pela dignidade humana e ausência de diálogo q. b.
Modelos: faltam pessoas carismáticas, a massificação, falta de pessoas com
grandes ideais e com verdadeiro sentido crítico.
Neste ambiente, de que traçamos apenas alguns
tópicos, a nossa juventude é alguém inseguro, descrente dos sistemas, vazio em
ideais que transcendam a vida, massificada e anónima, sem grande
sentido de responsabilidade, sensível à justiça e direitos humanos, consciente
do vazio e do sentido da sua vida, mais democrata e tolerante para aceitar os
outros, mais desejosa de participar na vida sócio-política do país. Mas também
que se sente com preparação incapaz para executar grandes tarefas.
A Igreja, não queiramos
enganar-nos, é a maior força moral do país. Ela está presente em toda a parte:
nas instituições de assistência, de educação (Universidade Católica Portuguesa
– classificada por muitos como a melhor em Portugal e não só, Seminários,
Colégios, Jardins de Infância, Centros Sociais, Lares de idosos…), a Imprensa
mais lida (revistas, jornais semanários e mensais paroquiais…) e a Emissora
mais ouvida (Rádio Renascença).
A Igreja precisa de uma maior renovação e de
novos quadros com a crise vocacional provocada pelo materialismo, pelo vazio,
pelo nihilismo, pela indiferença religiosa, pelo anti-cristianismo reinante a
nível do país e da Europa sobretudo ocidental (diga-se União Europeia laicista
e laicizadora), pelo abandono dos valores essenciais à vida e pela propaganda
contra da classe doas meios de comunicação social de cariz mais do que laico.
Verifica-se um ressurgimento de grupos e de movimentos de leigos empenhados em
serem responsáveis e dinamizadores apostólicos nas suas comunidades. No sector
político devia haver maior afirmação de militantes católicos empenhados na
preservação e desenvolvimento dos valores humanos. Creio que irão surgindo
enfrentando a vaga de ateísmo que tem provocado o marasmo, desfazendo a vida
das pessoas, numa caminhada sem sentido e cheia de ganâncias, de luta pelo
poder e pela corrupção, roubando às claras os bens públicos e dos cidadãos em
particular. Se o espiritual desaparece, luta-se só pelo material, pois só esse
é que passa a ter valor, e abate-se a vida do outro que é considerado um
inimigo perigoso.
Portugal caiu nos últimos anos do século XX
num “autêntico pântano” em que é notória a corrupção a quase todos os níveis, o
despesismo e endividamento público, a insegurança em qualquer lado, de dia ou
de noite, o partidarismo conflituoso, uma oposição parlamentar eivada de
negativismo e de simples “bota abaixo” impedindo sistematicamente de governar,
uma juventude que numa grande percentagem afirma não querer estudar nem aceita
qualquer formação, um aumento assustador de desemprego devido à situação do
país e da crise mundial após o 11 de Setembro, a ausência de investimentos e a
fuga de capitais, o encerramento de fábricas. Vive-se um ambiente de medo e de
insegurança, com grandes dificuldades nos campos das finanças, da economia, da
saúde, da justiça, da educação, e sobretudo na falta de valores.
A crise de má governação
trouxe até nós o FMI e a austeridade pesa muito sobre os cidadãos. O governo
PSD-CDS com a troika e o ânimo que sempre existiu nos portugueses, poderão ultrapassar
a crise, mas não será a curto prazo. Mas, acredito. Só lamento que se tenha
descido tão baixo?! Os mídia parece que apostaram na desinformação, na
deseducação e na desestabilização do funcionamento da justiça e criam um
ambiente de fobia na vida quotidiana dando relevo e prioridade a notícias
negativas ou de saber psicadélico.
A Igreja tem de ser mais activa para defender os valores da nossa civilização ocidental cristã, e deve denunciar sem medo e oportunamente as situações e leis que atraiçoam ou põem em perigo a dignidade da pessoa e dos direitos humanos.
A Igreja tem de ser mais activa para defender os valores da nossa civilização ocidental cristã, e deve denunciar sem medo e oportunamente as situações e leis que atraiçoam ou põem em perigo a dignidade da pessoa e dos direitos humanos.
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