PORTUGAL
Igreja
vai mandar nas Misericórdias
Vaticano aprovou decreto apresentado pelos
bispos portugueses. União não aceita e promete contestar o decreto da Santa Sé
segundo o qual as Misericórdias são “associações públicas” e têm de obedecer ao
bispo. É uma guerra antiga e que, ao que tudo indica, foi ganha pelos bispos. O
Vaticano aprovou o decreto da Conferência Episcopal Portuguesa segundo o qual
as Misericórdias são "associações públicas de fiéis". A partir de
agora, estas instituições seculares têm, todos os anos, de apresentar contas ao
bispo da respectiva diocese. A União das Misericórdias Portuguesas continua a
contestar. "Não estamos, como a Igreja diz, perante associações públicas
de fiéis, mas sim de associações privadas de fiéis", defende.
"Enquanto irmandades, o entendimento das Misericórdias e de muitos
técnicos é de que são associações privadas de fiéis e assim devem ser tratadas
como sempre foram ao longo de 500 anos, e qualquer alteração não pode ser feita
por decreto", disse ao CM o padre Vítor Melícias, presidente da Assembleia
Geral da União. A decisão agora aprovada pela Santa Sé tem consequências no
governo e na gestão do património das Misericórdias, que, segundo os bispos,
"estão sujeitos à erecção canónica da autoridade eclesiástica
competente". Assim, só com autorização do bispo diocesano as Santas Casas
podem aprovar contas anuais, rever ou alterar estatutos e administrar os seus
bens. Para além disso, o bispo pode demitir os dirigentes das Misericórdias e,
em circunstâncias especiais, nomear uma comissão provisória de gestão. O
decreto, denominado ‘Normas Gerais das Associações de Fiéis’, que foi aprovado
pelos bispos portugueses em Abril de 2008, determina ainda que os dirigentes
das Misericórdias "têm de ser necessariamente católicos" e não podem
"ocupar cargos de direcção em partidos políticos". Tanto as
Misericórdias como a Igreja preferem, para já, não tecer grandes comentários
sobre a aprovação do decreto por parte do Vaticano, prevendo-se uma intensa
luta jurídica entre os bispos e os provedores. D. Jorge Ortiga já apelou ao
"diálogo entre todos", mas a maior parte dos provedores pretende
resolver as coisas "na balança da Justiça". IGREJA ADMITE
"NEGOCIAR" UM ESTATUTO ESPECIAL Mesmo com a aprovação pelo Vaticano
do decreto apresentado pelos bispos portugueses, a questão da obediência das
Misericórdias à Igreja não vai ser fácil de resolver. D. Carlos Azevedo,
presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, diz que "irá decorrer
uma negociação com estas estruturas", admitindo que seja definido para as
Misericórdias "um estatuto especial". O facto de existirem inúmeros
provedores que são autarcas e dirigentes políticos pode representar um entrave
a essas negociações com a Igreja.
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