MISERICÓRDIA A Igreja anuncia a misericórdia de Deus por ARMANDO SOARES*

MISERICÓRDIA
A Igreja anuncia a misericórdia de Deus por ARMANDO SOARES*
Armando Soares


A misericórdia suporta a vida da Igreja. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. Por demasiado tempo teremos esquecido de viver a misericórdia na Igreja. “Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que ca Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, o perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. É palavra que tende a desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do
perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança. 
Não podemos esquecer o grande ensinamento que ofereceu São João Paulo II com a sua segunda encíclica, a Dives in misericordia, que então surgiu inesperada suscitando a surpresa de muitos. Desejo recordar especialmente dois trechos. No primeiro deles, o Santo Papa assinalava o esquecimento em que caíra o tema da misericórdia na cultura dos nossos dias: «A mentalidade
o passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica nunca antes verificado na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou (cf. Gn 1,
28). Um tal domínio sobre a terra, entendido por vezes unilateral e superficialmente, parece não deixar espaço para a misericórdia. (...) Por esse motivo, na hodierna situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes guiados por um vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus».
Além disso, São João Paulo II motivava assim a urgência de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo contemporâneo: «Ela é ditada pelo amor para com o homem, para com tudo o que é humano e que, segundo a intuição de grande parte dos contemporâneos, está ameaçado por um perigo imenso. O próprio mistério de Cristo (...) obriga-me igualmente a proclamar a misericórdia
como amor misericordioso e Deus. Ele me impele ainda a apelar para esta misericórdia e a implorá-la nesta fase difícil e crítica da história da Igreja e do mundo». Tal ensinamento é hoje mais atual do que nunca e merece ser retomado neste Ano Santo. Acolhamos novamente as suas palavras: «A Igreja vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora». E o Papa Francisco na Bula Misericordiae vultus diz: “A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A primeira verdade da Igreja é o Amor. Na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto
com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente

o caminho para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos –em suma, onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.”  * in BOA NOVA abril 2016 p. 37 por armando soares (director adjunto) 

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