BOA NOVA Espaço aberto A misericórdia supera a vegonha e restitui a dignidade por ARMANDO SOARESA MISERICÓRDIA SUPERA A VERGONHA E RESTITUI A DIGNIDADE por ARMANDO SOARES

BOA NOVA
Espaço Aberto
A misericórdia supera a vergonha e restitui a dignidade por ARMANDO SOARES
 Comunidades, famílias e indivíduos crentes redescobriram, no Ano Santo, a alegria da partilha e a beleza da solidariedade. Mas não só. O mundo continua a gerar novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve permanecer vigilante e pronta para individuar novas obras de misericórdia e pô-las em prática com generosidade e entusiasmo.
                Por isso, esforcemo-nos em dar formas concretas à caridade e, ao mesmo tempo, entender melhor as obras de misericórdia. A misericórdia possui um efeito inclusivo pelo qual tende a difundir-se como uma mancha de azeite e não conhece limites. E, neste sentido, somos chamados a dar um novo rosto às obras de misericórdia. De facto a misericórdia extravasa; vai sempre mais além, é fecunda. É como o fermento que faz levedar a massa (Mt 13, 33) e como o grão de mostarda que se transforma numa árvore (Lc 13, 19).
                A título de exemplo, basta pensar na obra de misericórdia corporal vestir quem está nu (Mt 25,36.38.43.44). Ela nos reconduz ao jardim do Éden, quando Adão e Eva descobriram que estavam nus e, ouvindo aproximar-Se o Senhor, tiveram vergonha e esconderam-se (Gn 3, 7-8). O Senhor castigou-os; no entanto, «fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os» (Gn 3, 21). A vergonha é superada e a dignidade restituída.
                Fixemos o olhar em Jesus no Gólgota. Na cruz o Filho de Deus está nu; a sua túnica foi sorteada e levada pelos soldados (Jo 19, 23-24); Ele não tem mais nada. Na cruz, manifesta-se ao máximo a partilha de Jesus com as pessoas que perderam a dignidade, por terem sido privadas do necessário. A Igreja é chamada a ser solidária com os nus da terra a fim de recuperarem a dignidade de que foram despojados. Assim as palavras de Jesus – «estava nu e destes-me que vestir» (Mt 25, 36) – obrigam-nos a não desviar o olhar das novas formas de pobreza e marginalização que impedem as pessoas de viverem com dignidade.
                Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma casa ou uma terra onde habitar, ser discriminados pela fé, a raça, a posição social, invejar a sabedoria, a capacidade de trabalho, os dotes que Deus nos deu e que nos diferenciam dos outros, despertando até a sua raiva contra nós,… são condições que atentam contra a dignidade da pessoa. Hoje são tantas as situações em que podemos restituir dignidade às pessoas, consentindo-lhes uma vida humana. Basta pensar em tantos meninos e meninas que sofrem violências de vários tipos, que lhes roubam a alegria da vida. Os seus rostos tristes e desorientados permanecem impressos na nossa mente; pedem a nossa ajuda para serem libertados da escravidão do mundo contemporâneo. Estas crianças serão os jovens de amanhã e os homens do futuro.

                O caráter social da misericórdia exige que afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta. Que o Espírito Santo nos ajude a estar sempre prontos a testemunhar a presença do Reino de Deus.

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