PORTUGAL D. ANTÓNIO BARROSO
PORTUGAL
D. ANTÓNIO BARROSO
Decreto Sobre as
Virtudes do
Servo de Deus ANTÓNIO
JOSÉ DE SOUSA BARROSO
Bispo do Porto e Missionário (1854-1918)
in "VOZ DA MISSÃO" Set.2017
«Em todo o tempo bendirei o
Senhor; o seu louvor estará sempre nos meus lábios. A minha alma gloria-se no
Senhor. Que os humildes saibam e se alegrem» (Sal 34,2-3).
As entusiásticas palavras do
salmista de Israel ecoam na vida e na
espiritualidade do Servo de Deus António José de Sousa Barroso: no tempo da
saúde e no tempo da doença, na hora da calma e na hora da prova, o seu percurso
concretizou-se num louvor constante ao Senhor e num generoso serviço aos irmãos
mais pobres.
O Servo de Deus nasceu em Remelhe,
concelho de Barcelos, Portugal, a 5 de novembro de 1854. Depois da escola
primária, frequentou o Real Colégio das Missões Ultramarinas em Cernache de
Bonjardim. Nos anos da juventude consolidou a sua intenção de ser sacerdote e,
no termo do curso de formação, recebeu a ordenação a 20 de setembro de 1879.
O seu primeiro destino foi Angola
(1881-1888), naquele tempo, colónia portuguesa. Aqui exerceu uma intensa
actividade pastoral, que foi reconhecida pela Santa Se com a elevação, em 1891,
ao Episcopado, com o titulo de Himeria, para a vasta prelatura apostólica de
Moçambique (1891-1897). Daqueles anos da sua missão em Angola e Moçambique
ficaram célebres as suas conferências sobre as Missões, pelos seus
conhecimentos, pela sua coragem e zelo.
O zelo apostólico do Servo de Deus recebeu
um ulterior incremento com este novo encargo, que ele desempenhou com indescritível
empenho: basta pensar que, no espaço de apenas dois anos, empreendeu quatro
viagens, visitando praticamente todo o extenso território confiado ao seu
cuidado pastoral. Particular solicitude manifestou ele no campo da formação do
clero, na obra da educação dos jovens e na assistência mesmo material das
povoações locais. Nos anos 1894-1895 participou no Concílio Provincial de Goa,
India; mas, pouco depois, teve de regressar a Portugal por graves motivos de
saúde.
Em Lisboa manteve vivo o espírito
missionário através da oração e fazendo numerosas conferências sobre os
principais argumentos que diziam respeito ao mundo das missões.
Recuperada a saúde, em 1897, foi
transferido para a sede diocesana de Meliapor, India. No ano seguinte, fez uma
viagem a Roma, onde encontrou o papa Leão XIII e presidiu à comissão empenhada
na fundação do Pontifício Colégio Português na Urbe (1898). Na Cidade Eterna
também não deixou de se empenhar, sobretudo, na procura de missionários a
enviar para Moçambique. A entrada na diocese de Meliapor ocorreu em 1898; mas,
pouco depois de “ter posto a mão no arado”, regressou à pátria, tendo sido
nomeado bispo do Porto (1899). Também na nova realidade o seu zelo se
manifestou incansável.
Mas naqueles anos a sociedade portuguesa
foi agitada por profundas transformações políticas e culturais: a monarquia foi
derrubada e foi instaurado um regime republicano (1910) particularmente agressivo
para com a Igreja, de modo a pôr em prática uma política discriminatória e
restritiva no seu confronto. Uma das vítimas de tal política foi o Servo de
Deus, que foi expulso, por duas vezes, da diocese. Sobretudo nestas
circunstâncias, se tornou evidente o seu testemunho de fidelidade a Cristo e à
Igreja.
Uma autêntica paixão missionária,
percebida desde a infância, caraterizou a vida e a espiritualidade do Servo de
Deus. Essa tinha raiz numa relação de amor ao Senhor Jesus que ele vivia com fidelidade
e em virtude do qual amou tenazmente a Igreja.
D. António de Sousa Barroso transformara a
sua vida numa oferta perene em plena disponibilidade e confiança. Era este amor
profundo a Cristo que o animava em todas as suas variadas iniciativas, promovidas
em territórios extremamente difíceis e no problemático contexto da colonização.
Era literalmente enamorado da Eucaristia e vivia uma devoção filial e terna
para com a Virgem Maria. Era um homem que não se poupava, que procurava estar
próximo a todos, em particular a quantos sofriam, a quantos estavam sozinhos e
abandonados ou esmagados por qualquer dificuldade.
Foi um verdadeiro apóstolo das populações
nativas, e trabalhou e lutou pelo respeito da sua dignidade. Sempre à procura
da comunhão, sofria com toda a divisão e contraste, procurando sempre percorrer
os caminhos da união. Era corajoso e firme na defesa da verdade, da fé, da
justiça; forte e doce, decidido e tolerante, prudente e aberto, capaz de escuta
e de diálogo. Mesmo nos momentos de impedimento por motivos de saúde ou pelo
contexto político, continuou a dar com generosidade todas as suas energias, na
fidelidade à identidade sacerdotal e àquele dom de si mesmo que o tinha guiado
toda a vida.
Se a sua trajectória de vida se desenrolou
no quadro de um preciso momento histórico, o da última fase do colonialismo
português e das mudanças políticas do seu país, D. António de Sousa Barroso
aparece como um homem à procura da perfeição evangélica, no concreto da vida
quotidiana e no exercício do ministério à luz do magistério eclesial.
Pôde regressar ao Porto em 1917; mas no
ano seguinte, a 31 agosto 1918, o Servo de Deus chegou ao termo da sua viagem
terrena.
Em virtude da fama de santidade, de 21
de Julho de 1993 a 5 de Novembro de 1994, na Cúria eclesiástica de Porto teve
lugar o Processo Diocesano, cuja validade jurídica foi reconhecida por esta
Congregação com decreto de 5 de Maio de 1995. Preparada a Positio, a 31 de Maio
de 2005 teve lugar a reunião dos Consultores Históricos. A seguir, foi
discutido, segundo os procedimentos habituais, se o Servo de Deus tinha
praticado em grau heróico as virtudes. Com resultado positivo, a 10 de Março de
2016, teve lugar o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardiais
e Bispos, na Sessão Ordinária de 16 de Maio de 2017, presidida por mim, Card. Angelo Amato,
reconheceram que o Servo de Deus praticou em grau heróico as virtudes
teologais, cardeais e anexas.
Facta
demum de hisce omnibus rebus Summo Pontifici Francisco per subscriptum
Cardinalem Praefectum accurata relatione, Sanctitas Sua, vota Congregationis de
Causis Sanctorum excipiens rataque habens, hodierno die declaravit: Constare de
virtutibus theologalibus Fide, Spe et Caritate tum in Deum tum in proximum,
necnon de cardinalibus Prudentia, Iustitia, Temperantia et Fortitudine, iisque
adnexis, in gradu heroico, Antonii Iosephi De Sousa Barroso, Episcopi Portugallensis et Missionarii, in casu et ad effectum de quo agitur.
Hoc autem decretum publici iuris fieri et in acta
Congregationis de Causis Sanctorum Summus Pontifex referri mandavit.
Datum
Romae, die 16 mensis Iunii a. D. 2017.
ANGELUS Card. AMATO, S. D. B.
Praefectus
+
MARCELLUS BARTOLUCCI
Archiep.
tit. Mevaniensis a Secretis
(Tradução do texto em italiano).
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