Que unidade dos cristãos? Que liberdade religiosa? Por P. Aires Gameiro



ECUMENISMO/Oitavário

Que unidade dos cristãos? Que liberdade religiosa? (in JM. 17.01.19)

A religião é um encontro livre entre pessoa humana e pessoa divina. Só há encontro entre pessoas que se procuram e se conhecem por alguma revelação entre elas na liberdade e na verdade. Encontrar-se é dar-se a conhecer, é convite a confiar-se. O homem, quando quer, procura Deus para o conhecer e, se quer, aceita o encontro. Só na liberdade se realiza o encontro à base do conhecimento recíproco e de confiança-fé-amor.
Há grande semelhança, por exemplo, entre a procura humana, o encontro de namorados-noivos, de amigos, e o encontro com Deus. Os que se procuram esperam conhecer-se melhor, esperam mais acesso à realidade do outro. Esperam que o outro se revele mais e não engane. A descoberta de engano impede a confiança e o encontro. Mais se tolera menos revelação que revelação enganosa. Será que hoje com a multiplicidade dos canais de informação e o uso de redes sociais, os namorados e amigos potenciais se revelam mais ou se enganam mais? Enganar nos pedidos de encontro é, em certo modo, o que leva à violência e impede a relação humana e também a religiosa com Deus. Antes, porém, da violência, vem a imposição da submissão, sujeição, e até a imposição da igualdade forçada e o disparate de impor a “liberdade” massificante, já escolhida por outros.
Poderão ser toleradas imposições legais e violência nas democracias para obrigar à uniformidade religiosa, ideológica, de género, à animalogia personalizadora? Não faltam tentativas para formatar o viver social de acordo com esta ou aquela ideologia.
A religião de encontro humano-divino só merece esse nome na liberdade. Quando Jesus disse: a verdade vos fará livres, ligou a liberdade com a verdade. Só há religião de ligação com Deus onde a procura é livre, o encontro sincero, sem mentira e sem exigências forçadas. O processo de buscar é meio para chegar ao amor, mas não para o comprar ou vender; nem entre cristãos nem noutras religiões, tenham elas um só ou muitos deuses.
O drama do jiadismo e doutras submissões religiosas impostas pelos governantes de países muçulmanos e doutros transforma o encontro religioso num risco de morte. No relatório da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e nas notícias internacionais não faltam Asias Bibi e Rahaf Mohammed al-Qununem em quem se repetem as ameaças dos muros de Berlim e das cortinas de ferro construídas à base de ideologias. Essas vinham de “religião ateia”, agora de pretensões religiosas extremistas e de ideologias de género e de falsos direitos animalescos (ou será “animalanos”?). Infelizmente verifica-se que em alguns países ainda não se respeita a procura religiosa na liberdade e na sinceridade.
Como falar em unidade de ser ou querer ser cristão, unido a Cristo e aos seus irmãos, quando predominam a imposições religiosas, mentiras e ameaças de morte? Serão religiões indignas deste nome?
Nesta semana somos convidados a reconhecer que para a unidade dos cristãos a procura sincera, livre e sem fingimento, é essencial para o encontro pessoal com Cristo e para a unidade dos cristãos que já O aceitam e para aqueles que se encaminham para Ele. O encontro, explícito ou implícito, na sinceridade e liberdade, ou a procura na obscuridade, preparam para a mudança, chamada conversão. Porque é tão mal olhada e ocultada por establishments eruditos de bem pensantes esta mudança cristã? Só ela sela a unidade dos cristãos com Cristo e com os seus irmãos. Tem que ser livre e sem fingimento, como Cristo disse a Natanael. Esta conversão não se realiza sem algum conhecimento e amor a Jesus Cristo obtido na escuta das suas palavras, na oração persistente e na relação recíproca. A liberdade e a sinceridade são essenciais para procurar e encontrar Deus escondido num Menino que cresce, revela quem é, morre na cruz por amor e ressuscita. Está na sua Igreja para quem o quiser amar e testemunhar com vida coerente no dizer e fazer.

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