MISERICÓRDIA E MISÉRIA (1) 21.11 2016, às 12:13 carta apostólica «Misericordia et misera»
MISERICÓRDIA E MISÉRIA (1)
21 de Novembro de 2016, às 12:13
Carta apostólica «Misericordia et misera» |
No termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia,
o Papa Francisco publicou a carta a
postólica «Misericordia et misera».
Santo Agostinho utiliza duas
palavras expressivas para descrever o encontro de Jesus com a mulher adúltera
(Jo 8, 1-11). Elas fazem compreender bem que quando Jesus vem ao encontro do
pecador ficam apenas: «a miséria e a misericórdia». Esta
narração ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia e indica
o caminho que somos chamados a percorrer no futuro no pós-jubileu. A
misericórdia deve ser celebrada e vivida nas nossas comunidades, porque ela
torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela no
amor misericordioso do Pai. No centro deste encontro não temos a lei e a
justiça – a lapidação – mas o amor de Deus, que sabe ler no coração de cada
pessoa. Aqui a miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor. A
quem pretendia condenar à morte a pecadora, Jesus responde com um longo
silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus, tanto na consciência da
mulher como na dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e
vão-se embora um a um (cf. Jo 8, 9). E,
depois daquele silêncio,
Jesus diz: «Mulher, onde estão
eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em
diante não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o
futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida. Depois que se revestiu da
misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal
condição é dominada pelo amor que permite olhar mais além e viver de maneira
diferente.
Um fariseu convidou Jesus para
almoçar; aproximou-se d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora ( Lc 7, 36-50). Esta unge com perfume
os pés de Jesus, banha-os com as suas lágrimas e enxuga-os com os seus cabelos
(cf. 7, 37-38). O fariseu fica escandalizado. E Jesus diz: «São perdoados os
seus muitos pecados, porque muito amou (7, 47).»
O perdão é
o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida.
Jesus tem palavras de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem»
(Lc 23, 34).
Nada que um pecador arrependido
coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. Nenhum
de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre como um acto de
gratuidade do Pai, um amor incondicional e não merecido.
Deus é misericordioso (Ex 34, 6), a sua misericórdia
é eterna (Sal 136/135), de geração em
geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua
própria vida.
Quanta alegria brotou no coração
destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora!
A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre
à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas
comunicativa.
Como são significativas, também para
nós, estas palavras que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te de alegria,
que é sempre agradável a Deus e por Ele bem acolhida. Todo o homem alegre
trabalha bem, pensa bem e despreza a tristeza. (...) Viverão em Deus todas as
pessoas que afastam a tristeza e se revestem de toda a alegria».[2] Experimentar a misericórdia dá
alegria; não no-la deixemos roubar pelas várias aflições e preocupações.
Numa cultura frequentemente
dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e
solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. É assim que muitas
vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a
pouco, levar ao desespero. Há necessidade de testemunhas de esperança e de
alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil
com paraísos artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido
pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta
necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela
misericórdia! Por isso guardemos como um tesouro estas palavras do Apóstolo:
«Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Flp 4, 4; 1 Ts 5, 16).
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