PERSEGUIÇÃO/aoscristãos Cristãos, fobias e extremismos


PERSEGUIÇÃO/aoscristãos
Cristãos, fobias e extremismos
24 DE ABRIL DE 2019 - 10:00  TSF
"A Opinião" de Fernanda Câncio, na Manhã TSF.
(NB : É UMA OPINIÃO COM A QUAL NÃO CONCORDO)
 O ataque terrorista deste domingo de Páscoa no Sri Lanka suscitou uma onda de certificações: o cristianismo, dizem, é a religião mais perseguida no mundo.
A afirmação foi em vários casos acompanhada de uma outra: a de que esta é uma verdade silenciada.
A ideia de que a religião com mais seguidores - dois mil e duzentos milhões - é a mais perseguida, e que isso "está a ser escondido", merece com certeza alguma análise.
Ouça aqui "A Opinião" de Fernanda Câncio
A fonte que vi citada para suportar a primeira asserção é o Pew Research Center, que desde 2007 faz relatórios sobre a perseguição aos vários grupos religiosos.
A definição de perseguição é ampla: ataques físicos, insultos, discriminações, profanações de lugares sagrados, restrições legais, interdição de uso de determinado vestuário, etc. E, de facto, o último relatório, de 2016, diz que o número de países em que os cristãos foram assediados chegou a 144, mais dois que aqueles em que muçulmanos tiveram o mesmo azar.
Logo a seguir, apesar de serem infinitamente menos que os cristãos e os muçulmanos - e que outros grupos religiosos, como os hindus ou os budistas, qualquer deles com mais de mil milhões -, vêm os judeus, perseguidos em 87 países.
Porém, quando se separa a perseguição em dois tipos - estatal e social - os muçulmanos passam a grupo mais perseguido pelos estados, com 127 países em que isso sucedeu contra 114 no caso dos cristãos. As posições invertem-se no assédio social: aí são 107 os países em que tal aconteceu aos cristãos e 97 para os muçulmanos. E, mais uma vez, os 14 milhões de judeus surgem em terceiro lugar.
Não me parece que, com base nestes dados, se possa afirmar que os cristãos são o grupo mais perseguido. Aliás, tendo em conta a desproporção entre o seu número e o dos países sinalizados como persecutórios, parece-me que a probabilidade de se ser perseguido sendo judeu é muito maior.
Em todo o caso, o relatório dá a ver um assustador recrudescimento dos actos persecutórios dirigidos a quase todos os grupos religiosos. É com isso que devemos preocupar-nos, e não decerto embarcar em teorias de conspiração. Ou falsear números, como fazem alguns dos que falam sobre as bombas no Sri Lanka: referem a totalidade dos mortos - mais de 300 até agora - como associados ao cristianismo, quando nem sequer sabemos quantas pessoas morreram nas igrejas atacadas e quantas nos hotéis.
O mesmo falseamento que se encontra no número que corre sobre as igrejas vandalizadas em França em 2018. Segundo o fact checking do jornal francês Libération, que cita o ministério do Interior, foram em 2018 contabilizados no país 541 actos anti-semitas, 100 anti-muçulmanos e 1063 anti-cristãos. A maioria destes últimos foram danos a igrejas e cemitérios - mas o ministério cita como exemplo grafitos satânicos, anarquistas, nazis e islamitas.
Quando lemos "ataques a igrejas" não é exactamente em escritos que pensamos. Ou num autarca comunista que quis tirar uma cruz de um cemitério - exemplo de "cristianofobia" encontrado no site francês com o mesmo nome que faz contabilidades de alegados "ataques" cristianofóbicos. Percebe-se o que quer quem mistura todas estas coisas - dos horríveis ataques no Sri Lanka aos 'A' de anarca nas igrejas francesas e, quiçá, aos que, como eu, gostariam de não ver crucifixos e missas nas escolas públicas, em 2019, num país constitucionalmente laico. E não é bom, não é sério e decerto não é nada cristão.
*a autora não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

Comentários

Mensagens populares