EUCARISTIA Eucaristia: a revolução
EUCARISTIA
Eucaristia:
a revolução
Papa Francisco celebrando a Eucaristia |
Um
bispo, pessoa inteligente e estimável, perguntou-me: "O que é que se
responde a uma criança de 12 anos que, depois de uma procissão do Santíssimo,
me veio dizer: "Tu não levavas Cristo, pois não? Tu não podias com
ele!..."" Respondi-lhe: "Olhe, senhor bispo, o que é que se deve
responder exactamente não sei. Sei é que se não deve ensinar o que, depois,
leva até uma criança a fazer observações dessas." Tudo por causa da
Eucaristia e da presença real de Cristo.
Jesus,
na iminência da condenação à morte, ofereceu uma ceia. Nela, abençoando o pão e
o vinho, que significam a entrega da sua pessoa por amor a todos, disse:
"Fazei isto em memória de mim." Os primeiros cristãos reuniam-se e,
recordavam a ceia festiva e fraterna em sua memória, abertos a um futuro novo
de Vida. E aconteceu o que constituiu talvez a maior revolução do mundo: se
algum senhor se tinha convertido à fé cristã, sentava-se agora à mesma mesa que
os seus escravos, em fraternidade.
Jesus
aceitou a morte de cruz e entregou-se a si mesmo a Deus, dando testemunho da
Verdade e do Amor. Mas não à maneira de vítima sacrificial, para impetrar a
misericórdia de Deus e aplacar a sua ira. "Deus é amor
incondicional." Portanto, não precisa de sacrifícios expiatórios.
Com
esta concepção sacrificial, embora o Novo Testamento tenha evitado a palavra
hiereus, apareceu o sacerdote que oferece o sacrifício. Com a celebração diária
da Missa enquanto sacrifício, impôs-se a obrigação do celibato, pois o
sacerdote está separado, à parte, e, tocando no Corpo do Senhor, não pode tocar
a profanidade impura do corpo da mulher.
Nesta situação de sacerdotes de
"redução", pelo celibato, haverá hoje mais de cem mil, que, noutro
quadro de compreensão, poderiam prestar grandes serviços à Igreja e ao mundo.
A
Eucaristia deixou, pois, de ser celebração festiva em que todos participavam
activamente, para tornar-se um sacrifício que o padre até podia celebrar sozinho
e que oferecia pelas almas do Purgatório. Era possível ir à Missa e não
comungar. E aí estão os católicos "não praticantes": foram
baptizados, mas não vão à Missa. Pergunta-se: mas praticam a justiça e a
fraternidade, aliviando a cruz de tantos?
E,
depois, esta distorção: as "Missas oficiais", a que assistem
agnósticos, ateus, indiferentes, patifes e ladrões sem arrependimento...
Os
católicos acreditam na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia? A resposta
é sim. Mas é preciso distinguir entre presença física e coisista e a presença
real pessoal. Um homem e uma mulher, pela relação sexual, estão fisicamente
presentes, mas, se não houver amor, estão realmente ausentes como pessoas.
O
filósofo Hegel viu bem o perigo desta coisificação: referindo-se à celebração
da Eucaristia, escreveu que, segundo a representação católica, "a hóstia -
essa coisa exterior, sensível, não espiritual - é, mediante a consagração, o
Deus presente - Deus como coisa". Ora, precisamente nesta não conversão é
que São Paulo via que "comemos o pão e bebemos o cálice do Senhor
indignamente", tornando-nos "réus do corpo e do sangue do
Senhor", isto é, culpados da sua morte: de facto, o que ele condena na
comunidade de Corinto são as suas divisões e que, enquanto uns comem lautamente
e se embebedam, outros passam fome.
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