EUTANÁSIA Será a morte um direito? Por ALBINO DOS ANJOS
SMBN - Sociedade Missionária da Boa Nova
EUTANÁSIA Será a morte um
direito? Por ALBINO DOS ANJOS
Em poucos dias surgiram vários contributos para o debate sobre a petição apresentada por um conjunto de subscritores sobre a institucionalização do direito de morrer. Porque se trata de um tema sério, de grande complexidade e com fortes implicações civilizacionais, a Conferência Episcopal Portuguesa (cep) publicou uma nota pastoral com o título “ Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador”. Trata-se de uma excelente reflexão, baseada em sólidos fundamentos e argumentos, numa visão humanizadora e espiritual do tema da morte.
Se
entendermos a eutanásia como “ acção ou omissão, que por sua natureza e nas
intenções, provoca a morte como objectivo de eliminar o sofrimento,” todos
somos tentados a ter uma opinião, no confronto sofrimento-morte. Muito próximo
desta realidade, embora verdadeiramente distinta, está o quadro clinico de suicídio
assistido. No fundo, somos colocados diante do terrível dilema de encarar a
morte no seu percurso natural, como realidade última do ser humano, ou
encará-la como objecto passível de disposição individual, onde a autonomia de
cada um se transforma em exercício de liberdade, no qual a eutanásia surge como
método para pôr fim ao sofrimento. Efectivamente a questão central levanta-se
sempre na realidade de sofrimento, quando a pessoa sofre de forma atroz,
padecendo doença terminal. Aos olhos da visão contemporânea da vida, há um
pavor ao sofrimento, enquanto indicador da fragilidade e limitação da vida, e
enquanto elemento catastrófico de negação da dignidade humana. Porque se sofre,
crêem eles, a vida já não tem dignidade.
É
contra esta antropologia eminente biologista, que olha exclusivamente para o
ser humano como uma espécie entre outras, que a antropologia cristã e não só,
se opõe, olhando para a vida não como um objecto, mas como dom de Deus, e como
uma missão a cumprir. Em Cristo, morto e ressuscitado, o cristão encontra o
sentido e o ânimo para viver com serenidade o sofrimento e a morte. Por isso, é
cada vez mais importante recordar o 5 º mandamento “não matarás”, olhando com
especial misericórdia para os mais débeis e abandonados, pela doença ou velhice,
os quais precisam muito mais de carinho e atenção, do que o reconhecimento de
um pseudodireito aniquilador da sua própria vida. Há que testemunhar com amor e
fé, que aquele que sofre tem dignidade, e que ela não pode variar conforme o
seu grau de consciência ou mobilidade. São tantos e belos os episódios da
sagrada escritura onde a fé, em nome de Deus e Cristo, cura. O sofrimento e a
morte não perturbam e inquietam só o doente. Não raras as vezes a família
encontram na dor e na morte do familiar, a porta para chegar a Deus! Ninguém
morre verdadeiramente só. Todos morremos um pouco na morte de alguém que
amamos. Por isso, a igreja não se pode cansar de defender a vida e condenar a
eutanásia e o suicídio assistido. A morte por eutanásia ou suicídio assistido
não é solução para o sofrimento.
O
Papa Bento XVI afirmava que “ a grandeza da humanidade determina-se
essencialmente na relação com o sofrimento e com o que sofre”. Felizmente não
faltam exemplos de pessoas, que tantas vezes agarradas ao leito do sofrimento
durante um longo calvário, transbordam uma paz verdadeiramente messiânica. Os
que abraçam o sofrimento com fé, encontram sempre em Deus porto seguro para
ancorar a barca da vida, quando o crepúsculo da vida se levanta. E quando
tivermos que dizer adeus a alguém que parte, façamo-lo no verdadeiro sentido de
a-Deus, como quem entrega na mão segura de Deus, aquele que entre nós foi amado
até ao fim. in Voz da Missão maio 2016
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