Aconteceu Natal? por ARMANDO SOARES

Sagrada família.

   A liturgia do Advento foi um convite a permanecer numa espera atenta e vigilante, preparando um clima de recolhimento, de sobriedade, de alegria íntima, para acolher o Deus-connosco, o Emanuel, o Deus Salvador. É que no Jesus de Nazaré está o Cristo, o Unigénito do Pai, o Messias, o Esperado, o amigo dos pobres, o taumaturgo. A liturgia resume em palavras de ansiedade, de esperança, de salvação prometida, de recuperação, curando doenças e vencendo a morte, de vida nova, de oração, de escuta através dos profetas messiânicos, obedientes à locução de Deus. Eles alimentaram que o Messias, o Salvador, havia de vir ao meio do seu povo para o libertar, para o salvar. Basta ler Isaías.
Pois o Natal é isso mesmo: Deus vem salvar o homem, a humanidade, toda a criatura. Veio em Belém. É histórico. Vem em cada hora, em cada minuto, em cada segundo. É como uma onda omnipresente. Vive em todo o tempo. Vem para salvar a todos: sábios e ignorantes, simples, humildes, ricos e pobres, pessoas de boa vontade, que sentem o apelo de Deus. Para todos os que O acolhem como Maria e José, como os pastores, como os reis magos, como os apóstolos, como os santos, como os pecadores arrependidos, como os nossos antepassados que viveram a sua mensagem, como aqueles que em qualquer parte do mundo procuraram fazer o bem, ontem como hoje. Jesus Cristo é o único salvador.
Num tempo de laicismo, de agnosticismo, de rejeição de Deus, de indiferentismo religioso, há muitos que encontram a felicidade acolhendo-o na sua vida, alimentando-se da sua palavra, da sua mensagem, Vivemos a fraternidade universal, se vivermos o amor aos irmãos como sede do amor infinito, numa vida com sabor a eternidade. Bento XVI convidou os fiéis de todo o mundo a viverem o verdadeiro espirito de Natal, evitando que o mesmo se transforme numa festa comercial e de alegria apenas exterior, numa ameaça ao espírito natalício. Há que viver o Natal com sinceridade de coração e abertura de espírito para reconhecer no Menino de Belém, o Filho de Deus que veio salvar-nos. Este é o verdadeiro Natal e não há outro.
São de louvar as muitas famílias que começam a preparar o presépio, com antecedência como para reviver os dias e anos que precederam o nascimento de Jesus na carne humana – o Jesus da Galileia. O presépio feito em muitas casas pode revelar-se um modo simples mas eficaz, de apresentar a fé e transmiti-la aos filhos. O presépio é uma bela tradição, é uma lição eloquente. Leva a compreender o segredo verdadeiro do Natal ao falar da misericórdia divina e da humildade das figuras que intervêm sobretudo de Maria e de José. Isso mesmo: a Sagrada família  é o centro. O resto é mais ou menos adorno. Que todos vivam a mensagem natalícia: Com Jesus de Nazaré, o Cristo, nasce uma humanidade nova. Acende-se uma luz que nunca mais se apaga, «o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz».
Passados dois mil anos Jesus continua a apontar um caminho novo, o da solidariedade, da fraternidade, da esperança e do amor. Num mundo que, alheio à sua vinda e à sua mensagem, é um mundo de guerras, de opressões, de ódios, de violência, de conflitos, de desprezo pelos pobres e marginalizados. Uns no luxo e outros no lixo!
Os encontros familiares – e Bento XVI apela sempre para a família – são nota positiva; as prendas, os cânticos natalícios, a alegria, as luzes, a cor, a festa são aceitáveis quando dimensionados no verdadeiro sentido do Natal. Quando não, será mais palha para queimar na tentativa de esconder a falta de felicidade verdadeira com o domínio do ter consumista sobre o autêntico ser humano na sua dimensão vertical e horizontal: divindade e humanidade.
Façamos guerra ao cristianismo superficial, apenas de tradição. Troquemos esse cristianismo por um cristianismo dinâmico, praticante, de fé viva e vivida em casa, no trabalho e na nossa comunidade. E isto ainda mais num tempo de crise, de austeridade e de agressividade laica que se pauta por um atacar e retirar tudo o que cheira a religião, remetendo-o para o domínio do privado.
O cristianismo não é apenas um fenómeno cultural e não se manifesta só numa liturgia bonita mas desencarnada da vida. Acordemos! Acolhamos o Menino Salvador. Vivamos o Natal com profunda Fé. Que aconteça Natal na nossa vida! Bom Natal e Bom Ano!

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