PADRE JERÓNIMO NUNES Ser missionário não é fazer, é estar presente,


JUBILEU 50
PADRE JERÓNIMO NUNES
Ser missionário não é fazer,
é estar presente, testemunho in BOA NOVA*
No século XX, terra de missão era a África. Mas João XXIII mudou as prioridades da Igreja. Fez um grande apelo às Igrejas da Europa em favor da América Latina. Promoveu a pastoral de conjunto por meio do CELAM já criado em 1955 e  apoiou as primeiras Conferências episcopais no continente. O episcopado latino-americano entrou no concílio de forma organizada e buscou contactos com Bispos e religiosos europeus.
A Espanha comprometeu-se a enviar 3.000 padres para América Latina. Também a Itália e a França criaram organismos para preparar, enviar e coordenar padres e religiosos em missão neste novo campo.
A SMBN também foi convocada para trasladar a outros campos alguns  missionários africanos. Colocar todos os ovos num único ninho já era perigoso. A Assembleia de 1968 decidiu alargar os horizontes para Angola e Brasil. Boaventura Kloppemburg, um teólogo brasileiro, mais tarde nomeado Bispo, fez furor nas semanas mis-sionárias e trouxe a Portugal o jovem D. Quirino, Bispo de Teófilo Otóni que precisava de 3 missionários. Não pedia padres para cobrir paróquias, desejava uma equipa que o ajudasse a transformar a pastoral tradicional em missionária, algo como o que mais tarde foi chamado nova evangelização e que hoje Francisco chama conversão pastoral. Éramos uma equipa muito jovem (o mais velho tinha 27 anos) comandada pelo P. Manuel de Matos Bastos.
Tivemos a sorte e a graça de ser levados por D. Quirino Adolfo Scmitz aos ambientes e pessoas que estavam a tentar encarnar o concílio na realidade brasileira:  evangelização, formação de comunidades, participação dos leigos com meios e técnicas adaptadas à miséria reinante. Durante anos não tivemos paróquia mas pudemos visitar todas as paróquias da diocese e, junto com os párocos e as religiosas, ir espalhando novas sementes, sobretudo na formação de comunidades com ministériosCom D. Quirino aprendi que vale a pena confiar nos jovens. Como não conseguia arrancar os padres já agarrados às paróquias, preparou jovens padres estrangeiros para mudar o ritmo da pastoral, tornar a Igreja presente e ativa em ambientes e espaços que os padres só visitavam três vezes por ano.
Aprendi que a Eucaristia tem um forte poder atrativo, cria comunhão e laços entre as pessoas, recentra os cristãos no Cristo fonte de comunidade, oração e serviço.
Aprendi que a Palavra de Deus também é para analfabetos. Um curso bíblico para pessoas pouco letradas ou até analfabetas abre os olhos, mostra rumos de vida, alimenta a comunhão com Deus. Nem só de exegese vive a laicais evangelizadores.
Com D. Quirino aprendi que vale a pena confiar nos jovens. Como não conseguia arrancar os padres já agarrados às paróquias, preparou jovens padres estrangeiros para mudar o ritmo da pastoral, tornar a Igreja presente e ativa em ambientes e espaços que os padres só visitavam três vezes por ano.
Aprendi que a Eucaristia tem um forte poder atrativo, cria comunhão e laços entre as pessoas, recentra os cristãos no Cristo fonte de comunidade, oração e serviço.
Aprendi que a Palavra de Deus também é para analfabetos. Um curso bíblico para pessoas pouco letradas ou até analfabetas abre os olhos, mostra rumos de vida, alimenta a comunhão com Deus. Nem só de exegese vive aPalavra. Vive sobretudo de Amor. E os pobres entendem essa linguagem.
Aprendi que o método Ver – Julgar e Agir, uma vez inventado, não é mais propriedade da Ação Católica, mas ferramenta de pastoral e de caminhada espiritual. Ajuda a ver o mundo com os olhos de Deus e a agir consequentemente.
Foi dessa maneira que descobri o valor das vidas humanas excluídas e comecei a contactar com os lavradores, os Maxakali, os Krenak e os Kaxixó.
Foi assim que me diverti a fazer longas viagens para encontrar os que precisavam de apoio para defenderem os seus direitos humanos e se tornarem evangelizadores do seu próprio meio.
Aprendi que o missionário é uma pessoa fora da caixa, algumas vezes fora da lei, a caminhar na corda bamba, batido por ventos contrários, de olhos fixos no futuro, sustentado só por forças invisíveis mas fortes, feliz por ver a Vida a brotar.
Mais tarde vim a Portugal para aprender o que é obediência, fazer o que ninguém quer fazer, mas é necessário para o crescimento do Reino.
Alarguei o meu conhecimento do mundo e outros modos de se colocar em diferentes fronteiras, admirar as maravilhas de Deus e os instrumentos de que Ele se serve para construir um mundo melhor.
Aos 65 anos, quando me reformei em Portugal, pedi para realizar um sonho juvenil e conhecer melhor Moçambique.
Reencontrei velhos amigos que a Moçambique deram toda a vida.
Aprender até morrer: língua e cultura diferentes, outros climas. Outras pessoas: que é que o velho vem fazer aqui?
Que é que faz a parteira? Nada.
Assiste ao rebentar da vida e dá a mãozinha que for necessária. Ser missionário não é fazer, é estar presente, atento, companheiro, ponte, ver os outros crescer e alegrar-se com a luz que vai lobrigando nas brechas do mundo.
Viver 50 anos não custa nada. É encontrar o rumo certo e fazer caminho onde o não há, para que outros encontrem a Verdade e a Vida. Aprendendo até morrer.
Dou graças a Deus e aos companheiros que me sustentaram nesta caminhada.
* in BN, agosto/setembro 2019

Comentários

  1. Bom dia, padre Jerónimo Nunes, tudo bem?

    Meu nome é Will Lucas. Nós não nos conhecemos pessoalmente, mas o sr. conhece a minha tia: Ângela Raimunda Silva Lobo (Tuta). Cresci ouvindo sobre a trajetória de militância dela, que envolveu, dentre outras, atuações em conjunto com CPT. Ela já me falou muito sobre o sr., sua generosidade, energia e a defesa pelas causas das minorias. Há cerca de cinco anos, tia Tuta foi diagnosticada com Esclerose Lateral Amiotrófica. Em função da doença, atualmente ela não consegue mais movimentar nenhum músculo (apenas os olhos). No dia do natal, ela costumava sempre ir à missa, mas, em razão da doença, já não consegue mais. Gostaria de fazer um pedido para o sr. Seria possível que o sr. gravasse um pequeno vídeo enviando uma mensagem para ela e fazendo uma breve oração? Eu poderia transmitir o vídeo no dia do natal e tenho certeza que tia Tuta gostaria muito de vê-lo, ouví-lo e receber uma benção (mesmo que através de um vídeo). Seria possível para o sr.?

    Desde já, muito grato,

    Feliz Natal,

    Will Lucas Silva Pena
    email: wlspena@gmail.com
    +55(31)975468735

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