VOCAÇÃO sacerdotal D. Nuno Brás: V

VOCAÇÃO sacerdotal
D. Nuno Brás: Vocações nascem de comunidades cristãs vivas 
 Entrevista de Luís Gonçalves
Jornal da Madeira – Chega hoje ao fim uma Semana de Oração pelas Vocações
D. Nuno Brás – Mas eu espero que este apelo à oração pelas vocações tenha chegado a todos e que todos tenham rezado pelas vocações porque esse é o primeiro objectivo da semana. 

Jornal da Madeira – Mas só a oração não basta para combater a atual crise de vocações. O que se deve fazer mais? 
D. Nuno Brás – O normal é que as vocações surjam de comunidades cristãs vivas, de comunidades que têm grupos de jovens que vivem entusiasmados com a vida cristã.

Jornal da Madeira – Também podemos chegar lá pelo exemplo, ou seja, os jovens podem ter figuras de referência? 
D. Nuno Brás – Creio que todos os sacerdotes, de uma forma ou de outra, têm no seu horizonte uma figura de referência: o pároco, um sacerdote que conheceram, alguém com quem estiveram. Quando essa figura é um sacerdote é aquele querer ser padre como….

Jornal da Madeira – No seu caso, teve essa figura de referência?
D. Nuno Brás – Nasci numa família cristã. Um dia, já depois de eu ser padre, a minha mãe contou-me que todos os dias rezava para poder ter um filho padre.
Na Diocese de Lisboa, havia as chamadas assembleias de jovens. Em cada arciprestado os jovens reuniam-se e passavam o dia com trabalhos de grupo, momentos de divertimento, celebração da Eucaristia, orientados por um sacerdote do Seminário de Almada.
A partir desses encontros colocava a questão: Porque não eu? A dada altura, no dia da missa nova do então jovem Pe. Manuel Clemente, de quem eu era amigo porque estávamos no escutismo, na hora da refeição fui convidado pelo senhor cónego Joaquim Duarte, do Seminário de Almada, para passar uma semana no Seminário. Eu fui. A meio da semana, que tinha como lema “tenho pena desta multidão, são como ovelhas sem pastor” dei comigo a olhar Lisboa e aquela frase não me saía da cabeça. Pronto. Eu tive a percepção de que era chamado a ser padre.
Entrei no seminário e foram sete anos, com muitas questões… 

Jornal da Madeira – Teve dúvidas?  
D. Nuno Brás – Houve alturas em que estive quase para fazer as malas e ir embora. … mas fui ficando. A partir daí foi uma vida de padre quase pelo mundo inteiro. 

Jornal da Madeira – Voltando atrás, suponho que a família terá ficado feliz com a sua decisão.
D. Nuno Brás – Num primeiro momento a minha família reagiu com surpresa. Ficaram surpreendidos. Eu tinha mantido tudo em segredo. Depois, recordo-me que quando vim pela primeira vez a casa, uns 15 dias depois de estar no seminário, vi a alegria das minhas catequistas, das pessoas da paróquia.
O normal é que as vocações surjam de comunidades cristãs vivas, de comunidades que têm grupos de jovens que vivem entusiasmados com a vida cristã. É isso que nos faz escutar o Senhor, ouvir o apelo

Jornal da Madeira – Que memórias guarda do dia da ordenação? 
D. Nuno Brás – Recordo-me de amigos meus que vieram de longe, de França, para estar na ordenação. Recordo-me das mãos do senhor patriarca em cima da minha cabeça. Mas sabe estes dias das ordenações, são dias sem pés nem cabeça, porque chegamos ao fim e já não sabemos onde está a cabeça e não sentimos, absolutamente, os pés.
  
Jornal da Madeira – Enquanto Reitor do Seminário o que é que lhe custou mais? 
Como Reitor do Seminário sabia que tinha, por assim dizer, a última palavra em relação à ordenação. Claro que a última palavra é sempre a do bispo, mas se o reitor disser, senhor bispo ordene este rapaz, em princípio ele ordena. Também se o reitor disser, tenha paciência, mas este não, ele também respeita. No fundo trata-se de decidir sobre a vida e o futuro de uma pessoa. Eu nunca só tive a pretensão de procurar acertar nas minhas decisões.

Jornal da Madeira – Que mensagem deixaria a um jovem que estivesse na dúvida quanto à sua vocação? 
D. Nuno Brás – A mensagem é sempre para a necessidade de escutar. Escutar o apelo de Deus
 É, pois, preciso muita atenção e toda a honestidade para reconhecer o apelo. 

Jornal da Madeira – E também é preciso coragem, como diz o papa? 
D. Nuno Brás – Sim, é preciso coragem. Sobretudo nestes tempos que correm, ser sacerdote não é nada fácil. Hoje ser sacerdote é ir contra a moda, ir contra quilo que  mioria pensa. Por issso, é preciso coragem.
São João Paulo II, Karol Wojtyła, era um jovem que andava pelos teatros lá da Polónia. Quando ele entrou para o seminário,  o chefe do grupo de teatro disse-lhe que pensasse bem porque seria um excelente ator, de nível internacional e iria dar um padre médio. Ele pensou e entrou para o seminário. No fundo, é muito esta sedução que se faz hoje aos jovens

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