CRIANÇAS Crianças impedidas de ir à escola
CRIANÇAS
Crianças impedidas de ir à escola
Cerca de 124 milhões de
crianças e adolescentes estão impedidos de
ir à escola por leis discriminatórias, propinas elevadas ou violência, revela
hoje um relatório dos Direitos Humanos (HRW). São mais dois milhões do que em 2011,
HRW 10.06.2016 POR LUSA |
Intitulado "O Défice
Educacional: Falhas na Proteção e Cumprimento do Direito à Educação nas Agendas
Globais de Desenvolvimento", o relatório reconhece alguns avanços
proporcionados por políticas internacionais e regionais, que levaram dezenas de
milhões de crianças a entrar no ensino básico e mais meninas a permanecer na
escola até ao ensino secundário.
No entanto, este progresso
"deixou para trás milhões de crianças e jovens", pode ler-se no
documento de 85 páginas, divulgado a poucos dias de governos, decisores
políticos globais e agências financiadoras se reunirem na Noruega para adoptar
medidas que melhorem o acesso e a qualidade da educação no mundo.
Mais crianças e adolescentes
correm o risco de abandonar a escola e muitos enfrentam condições de
aprendizagem desadequadas, conclui o relatório da organização de defesa dos
direitos humanos, que se baseia em investigação realizada em mais de 40 países
ao longo de duas décadas.
A culpa deste "défice
educacional" é dos governos, a quem cabe a responsabilidade de garantir
que nenhuma criança ou jovem fica sem educação, e da falta de foco, tanto na
aplicação como no conteúdo, das agendas para o desenvolvimento sobre as
obrigações de direitos humanos dos governos, acusa a organização, sediada em
Londres.
"É impensável que em 2016
milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo vejam negado o direito à
educação", disse Elin Martínez, investigadora sobre direitos das crianças
na HRW, para a qual "uma fraca falta de políticas contra a discriminação dão
muitas vezes aos responsáveis um poder ilimitado para decidir quem pode passar
a porta da escola e quem fica de fora".
Apesar de todos os 196 países
membros da ONU terem subscrito tratados que os obrigam a garantir educação a
todas as crianças nos seus territórios, muitos países, entre os quais a
República do Congo e a África do Sul, cobram propinas que as famílias não podem
pagar.
Os custos associados à
educação no ensino secundário impedem milhões de adolescentes de terminar pelo
menos nove anos de escolaridade em países como o Bangladesh, a Indonésia e o
Nepal, por exemplo. A violência relacionada com a escola afecta mais de 246
milhões de crianças, segundo a Unicef.
Os castigos corporais na escola,
que têm um impacto negativo na capacidade das crianças de aprenderem, continuam
legais ou prática habitual em países como a Tanzânia, a África do Sul e muitos
estados norte-americanos.
Há ainda fatores que levam as
meninas a desistir da escola, como o abuso sexual e a violência por parte de
professores e colegas, testes de virgindade abusivos, testes de gravidez
obrigatórios e regras que excluem as raparigas grávidas da escola.
O casamento infantil contribui
para a falta de acesso a educação de qualidade em países como Bangladesh,
Nepal, Tanzânia ou Zimbabué.
Cerca de 34 milhões de
raparigas não frequentam o ensino secundário e a HRW estima que 24 milhões de
meninas nunca venham a entrar na escola.
Algumas populações são
particularmente desfavorecidas, nomeadamente os 93 milhões de crianças com
menos de 14 anos que em 2011 a OMS estimou viverem com deficiência moderada ou
severa.
Aumentou o número de crianças a
viver em situações de crise humanitária e de conflitos de longo prazo que não
podem aceder à educação porque as
escolas se tornaram inacessíveis ou inseguras.
Cerca de 29 milhões de
crianças estão afastadas da escola devido a conflitos e deslocações, incluindo
uma "geração perdida" de crianças sírias, das quais 2,1 milhões não
vão à escola na Síria e quase um milhão nos países vizinhos, onde vivem como
refugiados. SELMIS |HRW | LUSA
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