JUBILEU DOS SACERDOTES Na Eucaristia encontramos todos os dias a identidade de pastores por ARMANDO SOARES
Jubileu dos sacerdotes
Na Eucaristia encontramos todos os dias a identidade de pastores por
ARMANDO SOARES
O Coração do Bom Pastor é a própria misericórdia. Nele resplandece o amor do
Pai; nele tenho a certeza de ser acolhido; nele saboreio a certeza de ser
escolhido e amado. Fixando aquele Coração, renovo: a memória de quando o Senhor
me tocou e me chamou para segui-lo; a alegria de, à sua Palavra, ter lançado as
redes da vida (Lc 5, 5).
O Coração do Bom Pastor
diz-nos que o seu amor não tem limites. Seu Coração está inclinado para nós, especialmente
sobre quem está mais distante. À vista do Coração de Jesus, surge a
questão fundamental da nossa vida sacerdotal: para onde está orientado o meu
coração? Porque, diz Jesus, «onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu
coração» (Mt 6, 21).
Os tesouros insubstituíveis do
Coração de Jesus são dois: o Pai e nós. As suas jornadas transcorriam entre a
oração ao Pai e o encontro com as pessoas. Também o coração do pastor só
conhece duas direcções: o Senhor e as pessoas. O coração do sacerdote é um
coração firme no Senhor, conquistado pelo Espírito Santo, aberto e disponível
aos irmãos. O profeta Ezequiel lembrou-nos que Deus em pessoa procura as suas
ovelhas (34, 11.16). Ele «vai à procura da que se tinha perdido» (Lc 15,
4), sem hesitação, não exige pagamento de horas extraordinárias. Não adia a
busca mas põe-se imediatamente em campo. Tendo encontrado a ovelha perdida
carrega-a aos ombros, cheio de alegria. Umas vezes terá de sair à sua procura,
falar-lhe, convencê-la; outras deverá permanecer diante do Sacrário, «lutando»
com o Senhor por aquela ovelha. O pastor segundo o coração de Deus não defende
as comodidades próprias, não se preocupa por tutelar o seu bom nome, mas será
caluniado, como Jesus. Sem medo das críticas, está disposto a arriscar para
imitar o seu Senhor. «Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem…» (Mt
5, 11).
O pastor segundo Jesus tem o
coração livre, é um bom Samaritano à procura dos necessitados. Dedica-se à
missão, não a cinquenta ou sessenta por cento, mas a 100%..
Não se detém com as decepções;
é obstinado no bem. É atraído pelo Tu de Deus e pelo “nós” dos homens.
Cristo ama e conhece as suas
ovelhas, dá a vida por elas e nenhuma Lhe é desconhecida (cf. Jo 10, 11-14). O
seu rebanho é a sua família. Caminha com elas e chama-as pelo nome (Jo 10,
3-4). E quer reunir as ovelhas que ainda não habitam com Ele (cf. Jo 10,
16). Assim também o sacerdote de Cristo: é ungido para estar perto do povo
concreto que Deus, através da Igreja, lhe confiou.
Ninguém fica excluído do seu
coração, da sua oração e do seu sorriso. Com olhar amoroso e coração de pai acolhe
e, quando tem que corrigir, é sempre para aproximar; não despreza ninguém. Não
espera elogios dos outros, mas é o primeiro a dar uma mão. Com paciência,
escuta os problemas e acompanha os passos das pessoas, concedendo o perdão
divino com generosa compaixão.
A alegria de Deus nasce do
perdão, da vida que ressurge, do filho que respira novamente o ar de casa. A
alegria de Jesus Bom Pastor é uma alegria pelos outros e com os outros. Esta é
também a alegria do sacerdote. É transformado pela misericórdia que dá
gratuitamente. Na oração, descobre a consolação de Deus e experimenta que nada
é mais forte do que o seu amor. Sente-se feliz por ser um canal de
misericórdia, por aproximar o homem do Coração de Deus. Nele a tristeza não é
normal; a dureza é-lhe estranha, porque é pastor segundo o Coração manso de
Deus.
Queridos sacerdotes, na
Celebração Eucarística, reencontramos todos os dias esta nossa identidade de
pastores. Podemos fazer verdadeiramente nossas as palavras de Jesus: «Este é o
meu corpo que será entregue por vós». É o sentido da nossa vida, são as palavras
com que, de certa forma, podemos renovar diariamente as promessas da nossa
Ordenação. Agradeço-vos pelo vosso «sim», e por tantos «sins» diários,
escondidos, que só o Senhor conhece.
Fonte: ACI digital in VM julho/agosto 2016
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