OLHAR sobre o mundo GUARDA Bodas de ouro sacerdotais do padre DELFIM PIRES
OLHAR sobre o mundo
GUARDA
Bodas de ouro sacerdotais do
padre DELFIM PIRES
Neste ano 2016 celebro 50 anos
de vida sacerdotal; convido-vos a agradecer comigo este dom ao Senhor. Ele serve-se
de nós, sujeitos a tentações e infidelidades, para fazer chegar o anúncio da
Boa Nova aos povos que ainda O não conhecem.
Partilho convosco alguns aspectos
da vida missionária. Recordo as palavras do apóstolo Paulo: «por título nenhum
eu dou valor à vida, contanto que leve a bom termo a minha carreira e a missão
que recebi do Senhor Jesus: dar testemunho do Evangelho da graça de Deus», (Actos
20,24). Convivi em África com grandes missionários que viveram sua vida dando testemunho da misericórdia de
Deus: padres, bispos, leigos e religiosos/as: angolanos e de outras
nacionalidades, deram-me grandes exemplos no serviço do Evangelho, na pobreza,
no desprendimento, e até no martírio. Cinquenta anos de sacerdote: os primeiros
25 anos com trabalho pastoral em paróquias da diocese da Guarda, na vida
militar como capelão na Guiné, e na vida missionária em Angola. Esta vivência
missionária influenciou positivamente também o meu trabalho posterior em
Portugal e particularmente na Missão Católica Portuguesa do Luxemburgo.
Vida missionária em
Angola
Cheguei a 11.06.1978, associado
aos Missionários da Boa Nova com quem já vivia desde 1975, recebendo bons
exemplos de missionários corajosos e dedicados. Fui recebido pelo Bispo da
Diocese de Novo Redondo - Sumbe, por um padre amigo, pároco em Luanda, e pelos
MBN. Fiz equipa com um padre da SM colaborando connosco a comunidade das irmãs
dominicanas do Rosário. O primeiro campo de trabalho foi a Paróquia-Missão de
Wako Kungo (cidade de Santa Comba e Missão Católica da Cela), no Kwanza Sul. A
diocese propunha dois meios importantes para o nosso trabalho missionário: o
primeiro, «o anúncio do evangelho» (Evangelii Nuntianti, de Paulo VI). Síntese:
“O evangelizado evangeliza”. O segundo meio era baseado em algo próprio das
aldeias de Angola, «o ondjango», adaptado à pastoral: cada comunidade tinha um
conselho, um grupo de homens e mulheres, que viviam o Evangelho e o procuravam
comunicar aos outros. Ambos os métodos tiveram bom acolhimento em mim. Assim,
nunca vivi desanimado mesmo quando os cristãos eram poucos. Na formação de
comunidades e no anúncio do Evangelho a minha prioridade era que o pequeno
conselho responsável da comunidade - no bairro, na aldeia ou mesmo na cidade -
vivesse o Evangelho e se mantivesse perseverante na oração e unido na caridade.
Assim se realizava a proposta de Paulo VI: “o evangelizado evangeliza”, isto é,
comunica a força da Palavra de Deus, a oração e a caridade, e é fermento do bem
e da verdade no meio dos outros.
São palavras de Paulo VI na
Exortação: «Para uma comunidade evangelizada e evangelizadora», aqueles que
acolhem com sinceridade a Boa Nova, por virtude desse acolhimento e da fé
compartilhada, reúnem-se em nome de Jesus para conjuntamente buscarem o reino,
para o edificar e para o viver. Eles constituem uma comunidade evangelizadora.
A Boa Nova do reino que vem e que já começou é para todos os homens de todos os
tempos».
As comunidades cristãs
A grande maioria das
comunidades cristãs que visitei e ajudei a formar foram fundadas por leigos.
Começavam por grupos de oração e de leitura da Palavra de Deus. Depois esses
grupos cresciam e deram origem a Centros missionários com muitos catecúmenos e
casais preparando o seu casamento cristão. Para as comunidades crescerem era
necessário que o grupo responsável desse verdadeiro testemunho da vida cristã.
Mais do que em Portugal foi
nas missões de Angola que entendi e vivi a caminhada para os sacramentos e o
catecumenado, quer com as crianças e adolescentes quer com os jovens e os casais.
Havia problemas de guerra, de fome e carências de vária ordem, mas o entusiasmo
quer dos missionários, quer do povo cristão era contagiante. No povo cristão de
Angola encontrei muito amor à Mãe do Céu, sendo a oração do terço prática comum
dos grupos de oração. Os grupos de Catequese tinham muito entusiasmo em ler os
Evangelhos, os Actos dos Apóstolos e as Cartas de São Paulo. Os MBN que fizeram
equipa comigo promoveram muito a leitura do Novo Testamento e dos Salmos. E era
muito consolador ver como procuravam seguir os exemplos das primeiras
comunidades cristãs. Também a liturgia, a vivência da Missa, com cânticos e
danças, atraía muita gente que era evangelizada.
Importante também foi ver que
as próprias mamãs cristãs ou catecúmenas gostavam de ensinar às suas crianças (mais
que em Portugal) a rezar algumas orações e a aprender o sinal da cruz e as
mensagens doutrinais. Foram estas mamãs que me ajudaram a elaborar o “Catecismo
da Mamã”, que depois se transformou no “Catecismo para Todos” que continha o
fundamental da evangelização. Também o cuidado pelos pobres e doentes era
assumido pela Comunidade cristã com grande empenho e muita alegria. No grupo
responsável havia sempre alguém entregue a esse serviço da caridade. E muitas
pessoas acolhidas no serviço da caridade depois se convertiam à fé.
Esta é uma partilha muito
simples da minha vida missionária em Angola mas que teve influência no meu
trabalho pastoral. “O Evangelizado evangeliza” - o que recebe a Palavra de Deus
e o dom do seu amor comunica-o com alegria aos que o rodeiam. in VMjulho/agosto 2016
Comentários
Enviar um comentário