LEIGOS BOA NOVA EM MISSÃO Ministério da Caridade: servir Deus no outro é a Missão
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LEIGOS BOA NOVA EM MISSÃO
Ministério da Caridade: servir
Deus no outro é a Missão
Texto e fotos: SOFIA SILVA
Projecto Sopa |
Os Leigos Boa Nova (LBN) são
um grupo de pessoas ligadas aos Missionários da Boa Nova, e que ao longo de 20
anos têm contribuído, com a sua actividade nos seus campos de missão.
Actualmente há uma equipa,
Diana Salgado e Sofia Silva, num projecto de 2 anos, em Moçambique na Diocese
de Xai-Xai, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, fundada pelos MBN e que tem
como pároco o Padre Amaro Ferreira e a fazer equipa com ele o Irmão Edgar. A
estadia dos LBN no Chibuto, para além da gestão de um Jardim infantil com 105
crianças e de um centro residencial com 50 jovens estudantes, está muito
presente no Ministério da Cáritas (pequeno grupo organizado da paróquia que
trabalha sobretudo com os mais frágeis). É sobretudo neste trabalho que está o
Serviço de Deus e a realização da Missão!
Projecto leite |
“Este Serviço de Deus
impele-nos a andar nos bairros, nas comunidades e a viver de perto a realidade
do outro. A realidade social, para quem tem os sentidos apurados é dura, desde
a fome (com a seca das machambas, não há água, tudo o que se semeia morre; e a
inflação terrível do país não deixa ter oportunidade de compra daqueles que
vivem da enxada), solidão, abandono (idosos que são desprezados e acusados de curandeiros
e feitiçarias…), doença, morte precoce que deixam as crianças à sua sorte… “
Perante esta realidade realizam
alguns projectos inseridos neste Ministério da Cáritas. Apenas fazem o
acompanhamento e a gestão dos projectos!
“Tiramos grandes lições de
vida e sentimo-nos pequenas pela bondade e generosidade de certas pessoas que
cruzam o nosso caminho! O Ministério da Cáritas é duro, não tem muitos
elementos, a maior parte é composto por “mamãs” com alguma idade que viveram e
sofreram a guerra. É feito do trabalho de gente que também sofre mas trabalha
para o outro!”
Dentro deste carisma de
serviço desenvolvem vários projectos:
+ O mais recente o “Projecto
da sopa”, que não é sopa mas uma boa marmita de Xima e feijão. É para idosos
que vivem sós e sem apoios e a famílias monoparentais em situação de muita
vulnerabilidade. Este projecto acontece uma vez por semana por falta de sustentabilidade,
e é realizado com doações de pessoas amigas, sem nenhum patrocinador oficial
que garanta a sua continuidade.
+ O Projeto “+ Vida”, apoiado
e renovado pela APARF, na distribuição de leite e papinhas. Tem parceiros locais,
Acção Social e hospital que sinalizam, acompanham a evolução das crianças na
primeira fase da vida, por orfandade, doença da mãe, abandono ou situação de
grande vulnerabilidade.
+ Projecto “ Uma Casa Digna”,
também apoiado pela APARF, destina-se à construção de casas de material local
(caniço) para idosos e famílias monoparentais com crianças menores a cargo. Neste
projecto já foram construídas 16 casas e outras 7 com apoio de amigos e iniciativas
escolares.
+ E por fim as micro-doações. Aqui não se pode
falar de micro-crédito, por ser para situações limite, onde estão crianças em
causa. Este projecto é conseguido pelas doações amigas que se sensibilizam com
o trabalho. “Na micro-doação temos uma história feliz que gostaríamos de
partilhar e são casos como estes em que Deus fala! Uma mãe com uns 30 anos que
ganha a vida a carregar água, não tendo mais rendimentos; viúva, doente com HIV
e com 3 meninos menores (todos infectados, com tuberculose…, desnutridos..).
Vivem numa casinha de albernaria que por sorte conseguiram quando o pai era
vivo (emigrado na África do Sul). A mãe chama-se Sandra e apesar da situação
difícil, trata com carinho os filhos que têm entre os 10 e 4 anos, não tendo
mais família por perto.
Nesta família foi deixada uma
menina, Neide, de uns 14 meses e pouco mais de 5 quilos. Sandra queria entregar
a menina a alguém, pois não tinha condições nem saúde para ter mais uma
criança. Foi então que a Cáritas entrou na pessoa da Benvinda (Madre Teresa do
Chibuto) e prometemos que se ficasse com a menina a ajudaríamos.
Numa primeira fase dávamos
alimentos do nosso banco alimentar, pusemos o Samuel (o menino mais novinho, 4
anos e muito doentinho) na escolinha para garantir-lhe as refeições necessárias
ao tratamento, a Neide é acompanhada pelo projecto do leite e por último recheámos-lhe
uma banca (açúcar, óleo, caldos de cozinha, pipocas, refrigerantes, esparguete…)
para ela ter o seu pequeno comércio. O filho mais velho para além de cuidar da
Neide quando a mãe não pode, vai vender os produtos da banca na rua.
Projecto casa |
Já
nos mostrou o dinheiro que ganhou e comprou novos produtos para a banca não
acabar e poder sustentar e dar uma vida digna a ela e aos filhos. O limite da
Sandra foi o abandono da Neide na sua miséria, mas foi a Neide que permitiu a
Sandra ser ajudada e investida. A Neide foi a luz de Deus para a Sandra! A
Sandra reconheceu a oportunidade como sinal disso, quer frequentar a Paróquia
sem a termos convidado e continuar a pôr os seus problemas no patamar acima, no
Alto… Rezemos por ela!
Como este, há outros casos que
com a generosidade das pessoas que nos acompanham vamos fazendo milagres, e que
sem eles não poderíamos ser o veículo para que esses milagres acontecessem.”
Citando 3 grandes missionários
da SMBN, que marcam a nossa forma de estar, Padre Bastos: “Partir significa
deixar e encontrar; renunciar e ganhar; distanciar-se e aproximar-se;
despojar-se e enriquecer-se; anunciar e acolher; testemunhar e constatar;
significa ir e ficar…”
Lembrando o amigo Padre Neves,
que ninguém era capaz de calar: “Ser missionário, deixar sua família e cultura,
não é sacrifício, mortificação, renúncia… É livre preferência, alegre
investimento, imensa alegria e enriquecimento….”
E Padre Jerónimo: “ Espero que
onde estiverdes sintais excessivamente; onde viverdes sejais excessivamente;
onde vos dispersardes, sede unificadamente. Não me importa que volteis
diversas, mas análogas a Ele.”in VMjulho/agosto 2016
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